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O futuro do trabalho em 2025: previsões revisitadas

Há 15 anos, grupo de pesquisadores fez previsões sobre o ambiente de trabalho em 2025. De lá para cá, a tecnologia nos conectou ainda mais para melhorar a produtividade, mas sua velocidade de adoção foi superestimada

Lynda Gratton
9 de agosto de 2024
O futuro do trabalho em 2025: previsões revisitadas
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Em 2009, comecei a imaginar como seria o ambiente de trabalho de 2025. Minha equipe de pesquisa e os parceiros corporativos reunidos no Future of Work Consortium tinham o objetivo de criar uma simulação de um dia na vida de uma série de pessoas fictícias. O trabalho deu origem ao livro A Mudança: O Futuro do Trabalho já Começou (lançado no Brasil em 2012).

Com 2025 logo aí, quão precisas foram essas previsões? E, talvez mais importante, de que maneira o próprio jeito de fazer previsões preparou os líderes – aqueles que participaram do consórcio e que leram e falaram sobre o livro – para as mudanças nas condições de trabalho que estavam por vir? Ainda mais em um período marcado por uma pandemia, que mudou uma série de coisas.

Eu queria entender como múltiplas forças agiriam juntas de maneiras positivas e negativas. No cenário pessimista (“futuro padrão”), meu entendimento me levou a destacar três temas dominantes: fragmentação, isolamento e exclusão. No cenário otimista (“futuro concebido”), cocriação, engajamento social e criatividade.

Algumas coisas em particular se destacam quando olho para trás e vejo como previ o mundo do trabalho. Em 2009, descrevi o futuro padrão como de fragmentação e isolamento. Hoje, essa é a realidade de muita gente.

As forças que levariam à fragmentação e ao isolamento no trabalho são de fato tão fortes quanto eu visualizei

Imaginei um futuro pessimista em 2025 moldado por tecnologias conectivas onipresentes e pela globalização dos mercados. Imaginei uma mulher de Londres chamada Jill que constantemente examinava a caixa de mensagens ou estava em reuniões virtuais, com Pequim pela manhã e Los Angeles à tarde. Concluí que essa fragmentação comprometeria a capacidade de Jill de observar e aprender.

Da mesma forma, criei uma persona chamada Amon, um trabalhador independente que vive no Cairo e trabalha em projetos de TI para várias empresas. Ele depende de um agente, também um trabalhador independente, com quem interage remotamente para negociar seus pagamentos. Amon, eu imaginava, passa pouco tempo interagindo com pessoas reais. Chamei isso de “morte da convivência”.

Hoje, as forças que levariam à fragmentação e ao isolamento no trabalho são de fato tão fortes quanto eu visualizei. Os fatores que contribuem para isso incluem a migração das pessoas para megacidades (muitas vezes longe de onde cresceram), vivendo em famílias menores e menos conectadas.

Vi como esse isolamento poderia resultar na diminuição da confiança nas instituições, alimentada em parte por uma mídia que tem um papel fundamental tanto na filtragem quanto no reforço de informações sobre políticos e executivos de empresas. Escrevi sobre as redes sociais ocupando “um papel crescente na distribuição de más notícias”, com YouTube, Twitter e Facebook expondo “as mancadas de corporações e governos”.

Imaginava que o isolamento seria exacerbado por atividades de lazer cada vez mais passivas, como assistir à TV. Há muitas coisas positivas na conectividade no estilo 2024, mas elas são eclipsadas pelos fatores negativos.

2025: flexibilidade e pouca socialização

Muitos aspectos do cenário otimista que previ para 2025 versavam sobre o tema da cocriação, o lado bom da conectividade. Descrevi um dia na vida de Miguel, persona que mora no Brasil, estudou em Copenhague e é apaixonado por sustentabilidade e transporte urbano.

Ele usa uma plataforma virtual para cocriar soluções com planejadores urbanos de Lucknow, na Índia, e lida com uma plataforma de crowdsourcing que tem 200 mil solucionadores de problemas registrados. Miguel é um habitante de um mundo global e conectado, e alguém que usufrui desse mundo em que o conhecimento foi digitalizado e a participação social é uma força exponencial.

Sob o tema “microempreendedorismo – vidas criativas”, imaginei Xui Li, uma microempreendedora de 60 anos que mora em Zhengzhou, na China. Ela vende pelo Alibaba elaborados vestidos de festa. Adora a flexibilidade e a liberdade que o trabalho independente traz.

Em 2024, essas duas modalidades colaborativas de trabalho, alimentadas pela capacidade de estar conectado a qualquer pessoa de qualquer lugar, se mostraram totalmente viáveis. Mas não exatamente como eu havia imaginado.

Em todo o mundo, os trabalhadores estão pedindo às organizações que reimaginem novas formas de operar, especialmente em termos de onde e quando trabalham.

Há, de fato, trabalhadores altamente qualificados que baseiam suas vidas profissionais em plataformas de trabalho autônomo, como o marketplace de serviços digitais Fiverr, que conecta prestadores de serviço e clientes ao redor do mundo. Mas, para muitos trabalhadores, o trabalho independente é uma realidade não regulamentada, com baixa remuneração e na qual as plataformas onde atuam ainda abocanham uma parcela significativa do valor que eles ganham.

As necessidades de flexibilidade e de envolvimento social que previ em 2009 estão agora na ordem do dia. No cenário mais positivo, explorei como o engajamento social evoluiria e se cruzaria com o trabalho.

Eu descrevi como John, pessoa de meia-idade, tirou um período sabático de seis meses, licenciando-se de uma varejista americana para trabalhar na conservação da água na zona rural de Bangladesh. Ao lado da esposa, Susan, que o acompanhou, John refletiu sobre sua vida profissional, pautada a partir das próprias escolhas, em vez de viver passivamente de acordo com os padrões dos outros.

É claro que a ânsia por autonomia e flexibilidade que descrevi é um dos temas desafiadores do trabalho atual. Em todo o mundo, os funcionários estão pedindo às organizações que reimaginem novas formas de operar, especialmente em termos de onde e quando trabalham.

Lições aprendidas sobre previsões

Olhando para trás, quatro lições ressoam. Penso que são úteis para quem se sinta tentado a prever o futuro do trabalho. Considere múltiplas forças, não simplesmente uma (como tecnologia).

No momento, as suas previsões sobre este ano provavelmente terão a IA generativa no centro do palco. Estou alertando que isso pode levar a uma visão estreita. No processo iniciado em 2009, lançamos uma ampla rede, e isso trouxe profundidade e amplitude às previsões.

Em 2009, já estava claro que os desenvolvimentos tecnológicos moldariam profundamente o trabalho. Naquela época, projetava-se que, até 2025, 5 bilhões de pessoas estariam conectadas na internet e a nuvem seria onipresente.

Previ que isso traria ganhos contínuos de produtividade. O conhecimento universal seria digitalizado, haveria avatares, realidades virtuais e assistentes cognitivos sempre presentes, em um mundo com megacorporações e microempreendedores, em que robôs começariam a substituir algumas tarefas humanas.

Mas a tecnologia não foi a única a participar dessa história. As forças da globalização teriam um impacto sobre onde haveria trabalho e, em última análise, sobre quem teria trabalho.

Leia também: “Lei do home office: o que muda de fato e o que é passível de interpretação”, de Daniel Sanes

Previa-se um crescimento econômico significativo na China e na Índia, com um conjunto de talentos globais em rápido desenvolvimento e um movimento contínuo para a urbanização. Nossas previsões notavam que a expectativa de vida estava aumentando e países como Egito e Nigéria, com grandes populações de jovens, viveriam um êxodo provocado pela migração econômica.

Previmos mudanças significativas na sociedade: o surgimento de famílias com arranjos mais diversos, aumento do número de mulheres bem-sucedidas no trabalho, pais passando mais tempo com os filhos.

Pairando sobre todas essas mudanças estaria a volatilidade nos recursos energéticos: isso inclui o aumento dos preços da energia causado pela escassez de petróleo, catástrofes ambientais deslocando pessoas e o surgimento de uma cultura de sustentabilidade.

Detalharei tudo isso para mostrar que ter uma visão ampla das questões micro e macro em 2009 foi crucial. Isso nos permitiu fazer previsões mais precisas e com nuances de como o ambiente de trabalho evoluiria nos seguintes 15 anos. É uma prática que eu recomendo.

Prepare-se para a imprevisibilidade e a volatilidade

Ter uma visão ampla foi útil, mas, olhando para trás, posso ver que cometi erros de direção significativos em minha análise. Eu era ao mesmo tempo imaginativa demais e de menos.

Veja a tecnologia, por exemplo. Eu deduzi, com razão, que as pessoas estariam cada vez mais conectadas virtualmente e que isso teria um grande impacto na vida profissional diária. Mas também superestimei a velocidade de adoção de algumas tecnologias. Imaginei que, até 2025, avatares e chamadas telefônicas de holograma estariam em pleno uso. Por outro lado, subestimei a velocidade e a adoção pessoal da IA generativa.

Outro exemplo: supus que a globalização continuaria independentemente dos obstáculos com que se deparasse. Subestimei a ascensão do nacionalismo e do protecionismo econômico.

Esse engano ficou evidente quando, em 2018, desenvolvi uma disciplina eletiva sobre o futuro do trabalho na London Business School. Convidei o historiador político Adrian Wooldridge para falar sobre a história da globalização. Ele mostrou que, sem a menor dúvida, a globalização pode ser revertida tão rapidamente quanto é construída. Além disso, turbulência política e guerras teriam uma consequência profunda nos fluxos de conhecimento e na migração.

Agora percebo que é importante buscar as opiniões de comentaristas políticos e historiadores para prever o futuro e como esse cenário afetaria o trabalho. Eu não fiz isso em 2009, mas certamente recomendaria a qualquer um que desejasse fazer previsões hoje.

Você pode não prever eventos globais como a pandemia. Mas, uma vez que eles ocorrem, você deve observar de perto o que os outros estão dizendo ou fazendo.

É importante ressaltar que eu não previ a pandemia ou o profundo impacto que ela teria na vida profissional das pessoas. Se eu tivesse ampliado minha rede para incluir especialistas em saúde, poderia ter considerado a pandemia como um evento de baixa probabilidade/alto risco.

No entanto, quando a pandemia começou a se desenrolar, passei para a observação ativa das conversas e experimentos que estavam ocorrendo. Comecei a manter um registro diário, realizei webinars baseados em pesquisa e convoquei grupos executivos.

Eu queria entender como os líderes estavam lidando com um mundo virado de cabeça para baixo. Essa observação atenta permitiu que eu atualizasse rapidamente as minhas ideias sobre o trabalho em tempo real. Estou fazendo o mesmo agora com a experimentação que ocorre em torno da IA generativa.

Crie cenários e imagine um dia na vida do futuro

O processo de planejamento de cenários que usei trouxe uma visão ampla que poderia ser reconsiderada quando (inevitavelmente) novas suposições fossem adicionadas. Esse é um processo que continuei a usar. Crio cenários ao pensar em tópicos complicados, como planejar uma vida de 100 anos e considerar perguntas como: “Que impacto de longo prazo a pandemia terá na visão dos executivos sobre trabalhar em casa?”.

Olhando para o futuro, vejo que os temas do isolamento e da fragmentação continuam a ser uma grande questão. Embora nossa experiência coletiva da pandemia tenha permitido que algumas pessoas trabalhassem fora do escritório, também aumentou o isolamento para muitos trabalhadores em casa. Não à toa, a amizade é uma força de contrapeso. Logo, espere um foco cada vez maior em conectividade, redes e socialização.

A sede de autonomia e flexibilidade das pessoas continuará a ser central. Mais empresas devem permitir flexibilidade de lugar (como trabalhar em casa) e de tempo (como tirar um ano sabático). Aquelas que não o fizerem terão de pagar mais por não abrirem mão do privilégio de serem inflexíveis. Haverá maior ênfase no poder do trabalhador independente. À medida que mais pessoas buscam uma vida profissional autônoma e autogerida, os freelancers qualificados aumentarão em número.

Lembre-se que a IA generativa está nas mãos dos indivíduos. Eles estão começando a perceber que seus empregos correm o risco de serem substituídos – não por uma máquina, mas, sim, por um humano usando uma máquina.

Minha quarta previsão: é inteligente esperar o inesperado. Quando chegar, esteja preparado para observar de perto, mudar de rumo rapidamente e experimentar.

PRINCIPAIS TAKEAWAYS

  • Para fazer previsões mais assertivas, não se concentre só em uma tendência, como IA, mas olhe para fatores diversos que possam influenciar o futuro.
  • Adote uma abordagem que abranja questões do micro e do macro. Isso permite previsões mais precisas e detalhadas.
  • Prepare-se para eventos imprevisíveis e se adapte conforme necessário. O inesperado faz parte do exercício.
  • Consulte especialistas de diferentes áreas para ter uma visão mais completa e embasada.
Lynda Gratton
Lynda Gratton é professora de práticas de gestão na London Business School e fundadora da HSM Advisory. Seu último livro publicado é *Redesigning Work: How to Transform Your Organization and make Hybrid Work for Everyone* (MIT Press, 2022).

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