Ser líder passa por refletir que existem diferentes vivências e que a representatividade importa
À medida que avançamos para o desconhecido, a questão que ecoa em minha mente é: “o futuro está sendo construído na perspectiva de quem?”. Nesse cenário em constante evolução, é vital compreender como as referências moldam a trajetória das lideranças do futuro. Especialmente, quando representadas por figuras que desafiam as expectativas sociais.
Falar sobre a liderança, passa por refletir e questionar: “o que é liderança para você?” e “quando você se descobriu líder?”. Geralmente as respostas são meramente corporativas, e o nosso potencial de reconhecer uma liderança – ou não – está atrelado a um CNPJ. Mas confesso que comigo não foi exatamente assim que aconteceu.
Venho de um contexto no qual o desenvolvimento em comunidade é essencial e o empreendedorismo por necessidade, protagonista. A primeira vez que entrei em um escritório foi em 2018, aos 23 anos. E, mesmo antes disso, eu já me entendia enquanto liderança e sabia da minha responsabilidade na construção de futuros possíveis.
Liderança não é apenas um cargo formal. É influência, propósito e principalmente repertório. Ser líder passa por refletir que existem diferentes vivências que devem ser consideradas em toda construção e que a representatividade importa, pois ela é a ponte que conecta sonhos e realidades tangíveis.
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> O futuro não é um lugar para onde estamos indo, mas um lugar que estamos construindo. E você precisa construí-lo também. E enquanto você está nisso, lembre-se de que não está sozinho.”> Aisha Tyler
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Os sonhos são excelentes propulsores. Na minha experiência, eles foram me ajudaram a moldar uma realidade na qual a igualdade de oportunidades é a norma – não a exceção. E mais poderoso que o sonho, é sonhar quando se tem referências.
Ao ingressar no mundo corporativo, eu tinha alguns objetivos e um deles era receber vale-refeição. Parece pouco, mas mudaria a minha realidade, além de ser a minha referência de sucesso.
Um emprego estável, com bons benefícios, era algo que as pessoas ao meu redor ainda não tinham. E, na visão de mundo que eu tinha até então, seria o máximo que conseguiria.
Até que conheci uma executiva de uma das maiores empresas do mundo. Chamou minha atenção por ser elegantes, inteligente, respeitada, bem sucedida e, em especial, por se parecer comigo.
Era uma mulher negra, vinda da periferia, tendo acessado poucas referências na infância e juventude e estudado em escolas públicas, assim como eu. Ouvi-la contando sua história me fez conhecer e entender outras possibilidades, além das que me foram apresentadas até então. Um mundo novo se abriu. Saí daquele encontro acreditando que ocupar espaços de poder também era pra mim.
Anos depois, como liderança, também tenho realizado esse papel, consciente de que a minha jornada é parte de uma narrativa mais ampla e de que a perspectiva de futuro não se restringe a uma conquista individual ou um triunfo solitário. É uma celebração coletiva.
Referência vem de trajetória e vivência. Pensar no futuro é pensar em lideranças que têm o potencial de transformar a narrativa do Brasil, não apenas reduzindo as desigualdades, mas construindo uma sociedade mais coesa e que seja tão diversa quanto nosso país.
Sigo aprendendo e reaprendendo, pois a construção do futuro passa por refletir e questionar: “quem estamos deixando de fora?”.
Nesta jornada, tive alguns aprendizados e pude entender que a consciência do propósito pode direcionar ações governamentais e empresariais para abordar as raízes dos problemas sociais. A perspectiva de futuro pode orientar políticas e práticas que garantam um desenvolvimento sustentável.
A coerência da liderança pode criar confiança nas instituições, enquanto o valor compartilhado pode fomentar uma cultura de colaboração em todos os níveis da sociedade. Lideranças sistêmicas são catalisadoras de mudanças substanciais.
Angela Davis uma vez disse: “”Sou uma pessoa do futuro. Coloco minha cabeça e meu coração em um tempo em que somos melhores e fazemos melhor””. E confesso que me sinto assim também: fazendo melhor, sendo referência, criando um legado e usando não só a cabeça, mas também o coração.
O futuro é agora. E, nessa construção, precisamos levar em conta que a cabeça pensa a partir de onde os pés pisam.