Em entrevista, João de Paula, um dos fundadores da startup americana, explica como a Origin pretende aplicar o mais recente aporte série B e fala sobre os desafios de oferecer um serviço de saúde financeira, cada vez mais global, num período de incertezas em todo o mundo
A cada dia, diversas evidências reforçam a tese de que a pandemia de covid-19 provocou mudanças profundas na saúde mental de milhões de pessoas em todo o mundo. Além do psicológico, este período pandêmico, ainda sem horizonte de término, também trouxe fortes impactos e mudanças na saúde financeira de milhões de pessoas e empresas.
A Origin, startup fundada em São Francisco (EUA) pelo brasileiro João de Paula e pelo americana Matthew Watson tem uma participação direta, ao menos parcial e benéfica, na saúde financeira de milhares de profissionais. Em síntese, a Origin oferece às empresas um serviço para que os colaboradores das organizações tenham uma vida financeira mais saudável.
Em setembro desde ano, a Origin anunciou um aporte de US$ 56 milhões (R$ 289 milhões para os valores da época) numa rodada de investimento série B. A capitalização foi liderada por duas empresas de capital de risco, 01 Advisors e General Catalyst, junto do investidor anjo e ex-diretor da Stripe, Lachy Groom. O aporte elevou o valor de mercado da Origin para R$ 2 bilhões e permite para startup uma expansão a nível global do seu principal produto.
Passado o fervor do anúncio do aporte, em entrevista exclusiva para a MIT Sloan Review Brasil, João de Paula pôde detalhar melhor como o aporte será aplicado e se sua terra natal está nos planos de expansão e de oferta de serviços da Origin. Confira:
MIT Sloan Review Brasil: Não há como não citar a pandemia de covid-19 na trajetória dos últimos três anos da Origin. Neste sentido, a pandemia alterou o comportamento dos clientes da Origin em relação ao consumo dos serviços ofertados na plataforma? Se sim, quais, e como a startup reagiu a essa demanda?
João de Paula: Percebemos de forma nítida que as empresas passaram a dar mais importância à saúde mental de seus colaboradores. A pandemia criou mais incertezas e, com isso, mais estresse na vida das pessoas. Ao mesmo tempo, o estresse financeiro chegou a níveis recordes: 63% dos trabalhadores nos EUA dizem sentir mais estresse financeiro durante a pandemia, em grande parte devido à necessidade de rever prioridades, trabalhar de casa ou buscar recolocação. Essas duas ondas estão fazendo com que cada vez mais empresas percebam que a saúde mental e a vida financeira dos usuários são, umbilicalmente, conectadas e busquem serviços como os da Origin.
Justamente durante a pandemia, a Origin recebeu um aporte de US$ 15 milhões do fundo Felicis Ventures. Do ponto de vista da aplicação do recurso, como esse investimento de rodada série A afetou ou está impactando a otimização dos serviços da startup?
João de Paula: Nos últimos 18 meses, a Origin investiu pesado no nosso time de produto, tecnologia e design para criar uma experiência que fizesse a diferença na vida dos nossos clientes e de seus funcionários, crescendo nossa equipe em cinco vezes. Essa estratégia fez com que nosso faturamento, número de clientes e base de usuários crescesse dezenas de vezes nesse período.
Com a rodada série B de US$ 56 milhões, a Origin pode acelerar a expansão dos seus negócios e contratar novos profissionais. No entanto, qual será exatamente o foco da startup em 2022 com a aplicação deste aporte?
João de Paula: Esse aporte vai permitir que a Origin inove cada vez mais rápido no seu produto, invista em seu time para acompanhar a demanda imensa que temos recebido, e expanda nosso leque de produtos para dar suporte a grandes clientes em escala global. Os recursos serão empregados para acelerar a expansão em escala global e na criação de novos produtos e em tecnologia.
Com o seu olhar de CTO, a partir desse investimento série B, a Origin pretende realizar modificações tecnológicas na plataforma para qualificar seus serviços? Se sim, poderia contar alguns detalhes?
João de Paula: Por mais que o estresse financeiro seja um problema quase universal, as causas desse problema variam drasticamente entre diferentes pessoas. Vamos investir pesado nos próximos 18 meses para tornar nosso produto mais flexível, para que ele se encaixe na situação de cada usuária e consiga oferecer o melhor aconselhamento financeiro possível paro o seu momento de vida.
No Brasil, muitas pessoas e empresas têm muita dificuldade para compreender e executar planos de educação financeira. A pandemia tornou esse problema ainda mais evidente com o aumento do desemprego e de endividamentos, provocando efeitos na produtividade e saúde mental de milhares de profissionais. Olhando para esse contexto e peculiaridades, a Origin tem planos para ganhar tração no mercado brasileiro?
João de Paula: Hoje já oferecemos os nossos serviços para nossos funcionários que trabalham no Brasil, e é um dos benefícios que têm mais impacto na trajetória deles. Planejamos passar a oferecer o mesmo serviço para outras empresas americanas que tenham times brasileiros no começo do ano que vem.
Ainda pensando numa expansão internacional, com a aplicação do aporte série B, a Origin já busca uma rodada de investimento série C ou ainda é muito cedo para almejar essa conquista (devido ao recente investimento de US$ 56 milhões)?
João de Paula: Estamos lisonjeados com a confiança que nossos investidores depositaram na Origin, mas não encaramos as rodadas de investimento como conquistas. O capital é fundamental para acelerar a nossa trajetória de crescimento, mas hoje temos o capital que precisamos para levar a Origin para o próximo nível. Esperamos atingir muitos objetivos nos próximos anos e, se a necessidade surgir, buscaremos mais investidores para chegar a outro patamar.
Por fim, do ponto de vista de serviços e tecnologia, principalmente no Brasil, nos últimos anos houve uma pulverização de aplicativos, plataformas, serviços e ferramentas de saúde financeira, seja por parte de bancos, corretoras ou iniciativas de pequenas startups. Como a Origin observa essa concorrência de mercado e se posiciona, no sentido de diferenciação, na oferta de tecnologia e serviços para o consumidor?
João de Paula: Estresse financeiro é um problema gigantesco em escala global. É natural que diversas empresas percebam isso e tentem resolvê-lo de diferentes maneiras. É uma competição saudável que beneficia bilhões de pessoas no mundo todo que passaram, passam e passarão por estresse financeiro.
Dentro desse contexto, a Origin se diferencia por meio da nossa missão: oferecer planejamento financeiro para todos os funcionários, em todos os lugares.
A obsessão em atingir todos os funcionários fez com que a Origin investisse agressivamente em tecnologia, criando um produto que captura os dados dos nossos clientes de forma dinâmica e permite que todos recebam conselhos financeiros do jeito que preferirem.
O foco em planejamento financeiro fez com que não só enxergássemos a vida financeira dos nossos usuários de forma holística, mas que construíssemos uma rede de ‘planejadores financeiros’ que fosse capaz de aconselhar nossos usuários ao longo de sua vida.
Finalmente, a ambição de resolver o problema independentemente do local em que nossa usuária nasceu ou reside nos impulsionou a ser a primeira empresa a tentar resolver o problema em escala global.