O sentimento de se sentir incapaz e insuficiente é inescapável ao ser humano, sempre estará ali presente nos atormentando. Mas existem quatro sugestões que, se forem bem feitas, podem ajudar na sensação desagradável de inadequação em momentos críticos da vida profissional
Quem já não teve aquela sensação desagradável de inadequação em momentos críticos de nossa vida profissional?
Imagine que você vai iniciar daqui a pouquinho uma apresentação sobre um tema que domina. Você levou vários dias em preparação, conferiu todos os fatos e metodologias de análise, e ensaiou, na frente do espelho e também com colegas. De repente seus joelhos bambeiam, você sente aquele frio na barriga e passa pela sua cabeça: “O que estou fazendo aqui?”.
Pauline Clance e Suzanne Imes passaram cinco anos entrevistando algumas centenas de mulheres bem sucedidas, e depois de terem seu artigo recusado por diversas publicações, finalmente conseguiram em 1978 publicá-lo em um periódico de psicologia relativamente obscuro.
Em 1985, Pauline Clance o converteu em livro, The impostor phenomenon: overcoming the fear that haunts your success. Este livro – agora rebatizando a síndrome de fenômeno do impostor – já foi citado em outras publicações algumas dezenas de milhares de vezes. Pauline Clance na entrevista mencionada abaixo acredita ter listado todas as citações, e a lista dela já alcançou 200 páginas!
Em 1985, ela criou a escala Clance, para medir em que nível uma pessoa está se sentindo impostora, que, desde 2021, tem uma versão brasileira.
Em fevereiro de 2021, Ruchika Tulshian e Jody-Ann Burey publicaram na Harvard Business Review o artigo “Stop telling women they have imposter syndrome”. As autoras são bastante conhecidas no universo da diversidade & inclusão. Com uns 30 anos de atraso, este artigo mudou a discussão de duas formas essenciais:
– Removeu de vez os vieses étnico e de gênero (mulheres brancas) para incluir a todos nós.- Mudou o foco: o que era tratado como uma síndrome individual, agora passa a ser um alerta para as empresas criarem ambientes que incentivem tantos estilos de liderança quanto necessários para garantir que pessoas com todas as identidades raciais, étnicas e de gênero possam ser vistas como igualmente profissionais.
Em 6 de fevereiro deste ano, Leslie Jamison publicou na New Yorker um artigo muito interessante em que as autoras do artigo de 1978 (agora na faixa dos 80) foram entrevistadas e ainda se surpreendem com a repercussão de suas ideias. Elas ainda põem em dúvida suas conclusões de 45 anos atrás, em boa parte porque nunca se preocuparam em fazer um tratamento científico mais rigoroso dos depoimentos que haviam acumulado. E Leslie Jamison agrega uma observação valiosa: que esta sensação de inadequação não é uma síndrome, mas parte inescapável de estar vivo.
Este artigo da New Yorker gerou rapidamente reações extremas (no Twitter) e logo em seguida gerou outras matérias do tipo “Como lidar com…”. Eis uma delas, do The New York Times.
Aproveito para reproduzir quatro sugestões, que podem ser úteis para quem se encontra no dilema expresso no primeiro parágrafo deste artigo:
– Faça uma lista: liste dez razões (Dez? Eu ficaria feliz com cinco…) pelas quais você se considera qualificado/a para fazer o que está fazendo. Se tiver dificuldade, eis uma alternativa: liste porque você se considera mais qualificado/a que outros profissionais que conhece para lidar com o tema.- Diga seu nome em voz alta: se necessário, acompanhado de “sou demais”.- Tome posse das suas realizações: responda a si próprio/a com “tenho orgulho do que obtive” em vez de tentar explicar seus sucessos em termos do tipo “tive sorte”, “trabalhei duro” e “outros me ajudaram muito”.- Visualize o sucesso: visualize previamente e com grande precisão como você vai se sair espetacularmente bem. E não se deixe intimidar se estiver lidando com aquela situação pela primeira vez; afinal de contas, para todos nós há uma primeira vez para tudo!
Fazer bem os quatro itens requer acreditar em autossugestão. Eu nas sessões de coaching observo o grande ceticismo com que muita gente lida com isso.
Uma busca gera centenas de textos e vídeos, a maioria lidando mal com o “como fazer”; então confira esse artigo de 2014 sobre o “como”. Este é outro tema bem polêmico, e por isso o autor Ethan Kross, e mais oito coautores, por 21 páginas mostram extremo rigor científico.”