Com metas ambiciosas, multinacional alemã investe na integração de sensores de IoT com inteligência artificial e cloud computing; empresa aposta também na capacitação de colaboradores e em ecossistema interno e externo de startups
“Na trilha da transformação digital, durante um webinar promovido pela Anpei sobre o tema, o gerente de inovação, novos negócios e propriedade intelectual da Bosch América Latina, Bruno Bragazza apontou qual é o horizonte de inovação tecnológica da multinacional alemã. A meta da Bosch é se torna uma empresa líder em AIoT (sigla em inglês para inteligência artificial das coisas) no mundo.
A ambição da empresa passa por consolidar sua estratégia de desenvolvimento de sensores, softwares e “servitização”. Em síntese, os sensores medem a eficácia e conectam aparelhos com softwares que coletam dados e constroem a inteligência da empresa na nuvem.
“A Bosch decidiu ter uma nuvem própria, que é o BIC, Bosch IoT Cloud, justamente para poder ter o controle das informações e dos dados que trafegam. Investimos para construir essa cloud e hoje temos milhares de dispositivos conectados nessa nuvem, gerando informação e inteligência. Como complemento da estratégia, temos 73 mil pesquisadores no grupo Bosch, e cerca da metade desses pesquisadores trabalha diretamente com engenharia de softwares”, revelou Bragazza.
O terceiro ponto da estratégia da Bosch é a “servitização”, que resume a ação de gerar e entregar novos produtos no mercado fora do modelo tradicional da empresa, olhando especificamente para as múltiplas possibilidades de relacionamento com o cliente e com o mercado no universo digital.
Do ponto de vista da conectividade e inteligência, a Bosch está trabalhando com duas metas ainda mais ambiciosas. A primeira está sendo alcançada: 91% dos produtos eletrônicos da multinacional têm algum tipo de conectividade. O objetivo é chegar a 100% de todas as classes de produtos até o final deste ano.
A outra meta reforça a escalada rumo ao uso de inteligência artificial. Até 2025, todos os produtos da empresa irão possuir internamente algoritmos de inteligência artificial ou serão gerados por IA. “100% dos produtos serão criados a partir dos feedbacks que a gente coleta dos usuários, das necessidades e adaptado constantemente no ciclo de desenvolvimento dos novos produtos”, explicou Bragazza.
Seguindo preceitos do teórico estadunidense Michael L. Tushman, a Bosch pretende atingir seu objetivo de transformação digital por meio da ambidestria organizacional, precisamente de “exploit” e “explore”. Respectivamente, os conceitos se aplicam na multinacional na busca de eficiência nos modelos tradicionais de core business e na implementação de novos modelos, explorando as vantagens das tecnologias da indústria 4.0 no espaço digital.
“Faz uns dez anos que a Bosch se estruturou para criar um conceito e ter verba para olhar o mundo do explore, e obviamente continua muito forte olhando para seus negócios atuais. O desafio está na transição do explore para o exploit, na transferência do modelo de negócio que você achou que é repetitivo, lucrativo e tem escala, mas quando vai para o mercado nem sempre funciona”, comentou Bragazza.
Para eliminar esse impasse, a multinacional alemã olha para dentro, principalmente criando e acelerando suas próprias startups. Assim, a Bosch direcionou suas atenções para sua plataforma grow global, tendo oito hubs de inovação espalhados nos cinco continentes, sendo um na América Latina, em Campinas-SP.
Na prática, a Bosch trabalha com intraempreendedorismo e venture capital, apostando e investindo em startups internas, como a XBov (design thinking e IoT voltada à pecuária), IPS (oferta de software para plantio inteligente e de larga escala) e a Smart Mining (conectividade de equipamentos voltados à mineração).
A empresa precisou olhar também para fora do seu ambiente interno, e encontrou parcerias nas aceleradoras, incubadoras e nos espaços coworking para testar seu modelo de ambidestria organizacional.
Desse modo, no Brasil, surgiram iniciativas da multinacional com a campineira Weme (consultoria de design e inovação), com a Distrito e Fiep no Paraná, com o programa AgroStart (aceleradora de startups da BASF), Duo Automation (robotização de usina no setor sucroenergético) e com a Blue Ocean Enginner, também na área de mineração.
No projeto de transformação digital da Bosch, contudo, não foram todas as iniciativas que deram certo, principalmente na construção de startups internas: “a maioria não avançou, como acontece com muitas startups, mas outras tiveram sucesso e estão no mercado tendo faturamento”, frisou Bragazza.
Por fim, a empresa está reforçando programas de capacitação e treinamento online referente às competências das tecnologias 4.0 para todos os seus 400 mil colaboradores. E, tendo apoio em seus serviços digitais, começou a investir na criação de modelos de negócios ARR (annual reccuring revenue), ou faturamento recorrente anual, para diminuir volatilidade e conseguir, até 2026, 10% de toda a sua receita atrelada aos modelos ARR. Hoje, esse conceito representa apenas 1% de toda a receita da Bosch.””