Em vez de oposição, composição: juntas, elas potencializam não só a eficiência, mas também a experiência humana.
Muito se fala (e escreve) sobre o crescimento da inteligência artificial (IA), suas aplicações, vantagens, desafios e até ameaças – e o quanto ela nos tem trazido uma capacidade única de mudança, evolução e inovação.
Muito se fala também do quanto ela pode substituir os humanos e como isso pode ser perigoso, ao afetar a humanidade e transformar o mundo como o conhecemos. Além disso, especulamos sobre o quanto ela pode assumir decisões e se sobrepor aos humanos, avivando a nossa memória sobre o nosso conhecido Exterminador do Futuro e a sua Skynet (a IA neural baseada em rede).
Mas o que devíamos estar discutindo é um tema bem mais importante: o crescimento exponencial dessas tecnologias e o quanto é desafiador para o ser humano conseguir tirar o máximo partido delas.
Eu sempre digo (e não sou o único) que a inteligência artificial não vai substituir humanos. Humanos serão substituídos por outros humanos que usam a IA. E essa realidade indesmentível nos leva a uma discussão, a meu ver, mais relevante –a conexão entre a inteligência artificial e a inteligência humana (IH).
A relação entre elas está se tornando cada vez mais crucial em nossa sociedade moderna devido à velocidade com que a conectividade avança, as tecnologias se transformam e os seres humanos se veem confrontados com realidades novas.
Enquanto a IA avança a passos largos, oferecendo capacidades analíticas e operacionais impressionantes, a IH continua a ser a força motriz por trás da criatividade, da empatia, da criatividade, da ideação e do julgamento ético.
A sinergia entre essas duas formas de inteligência pode resultar em um futuro em que a tecnologia e a humanidade se complementam de maneiras que promovam o bem-estar e o progresso coletivo. Sobre esse tema, convido vocês a (re)ler meu artigo sobre Mundo 5.0, que ilustra um pouco mais esse cenário.
A IA tem a capacidade de potencializar a IH ao lidar com tarefas repetitivas e processar grandes volumes de dados de forma rápida e precisa.
Algoritmos de aprendizado de máquina podem analisar padrões complexos e fornecer insights que seriam impossíveis para a mente humana alcançar sozinha em um curto espaço de tempo.
Por exemplo, na medicina, a IA pode auxiliar médicos ao identificar sinais precoces de doenças em exames de imagem, permitindo diagnósticos mais rápidos e precisos.
No entanto, a decisão final e o cuidado ao paciente continuam sendo responsabilidades dos profissionais de saúde humanos, que utilizam seu conhecimento, intuição e empatia para fornecer um tratamento holístico.
Embora a IA seja uma ferramenta poderosa, ela depende fortemente da orientação da IH para ser verdadeiramente eficaz e ética. A criação e o treinamento de algoritmos de IA requerem a expertise humana para definir objetivos, interpretar resultados e corrigir vieses.
A ética e a moralidade, que são intrínsecas à IH, desempenham um papel crucial na definição dos limites e na regulamentação do uso da IA. Em áreas como a justiça criminal, onde a IA pode ser usada para prever comportamentos ou recomendar sentenças, a supervisão humana é essencial para garantir que os sistemas não perpetuem preconceitos e discriminem injustamente.
A colaboração entre IA e IH está revolucionando também o campo das artes e da criatividade. Ferramentas de IA estão sendo usadas por artistas, músicos, designers e escritores para explorar novas formas de expressão e inovar em seus trabalhos.
A IA pode gerar ideias, criar protótipos e até mesmo compor música ou escrever textos básicos. No entanto, é a visão e a sensibilidade humana que transformam essas criações em obras de arte significativas e emocionantes.
Leia também: “Colorindo o futuro da IA: o frenesi”, de César Gon
A IA oferece novas possibilidades, enquanto a IH infunde essas possibilidades com significado e mais profundidade.
Na educação, a integração da IA pode personalizar o aprendizado e fornecer suporte individualizado a estudantes.
Sistemas de IA podem adaptar materiais didáticos às necessidades específicas de cada aluno, identificando áreas de dificuldade e recomendando recursos adicionais.
No entanto, o papel dos educadores humanos é insubstituível, pois eles oferecem mentoria, curadoria, orientação, inspiração e apoio emocional, elementos fundamentais para o desenvolvimento intelectual e pessoal dos alunos. A combinação de IA e IH pode criar um ambiente educacional mais inclusivo e eficaz.
Não peça à IA para decidir por si ou para predizer o futuro. Use a IA para apoiar a sua atuação e a sua abordagem aos diversos temas do quotidiano.
Recentemente, um estudo do Gartner, alvo de uma conversa entre mim e o meu colega e amigo Paulo Vicente, professor da FDC, mostrava claramente onde a IA é mais e menos efetiva. Esse estudo mostra que a IA e a IH são absolutamente complementares.
Um quadro extraído do estudo mostra que nos temas de Predição e Forecasting e de Tomada de Decisão a IA não tem boas performances. Em outras palavras: não peça à IA para decidir por si ou para predizer o futuro.
No outro extremo, ela performa bem na capacidade de geração de conteúdo e de interações entre interfaces comunicacionais. Ou seja, use a IA para apoiar a sua atuação e a sua abordagem aos diversos temas do quotidiano.
Isto significa que não devemos temer a IA, e sim conectá-la à IH, uma vez que essa conexão representa uma das mais promissoras oportunidades do nosso tempo.
Leia também: “O Brasil deveria liderar a inteligência artificial (aberta)”, de Fabro Steibel
A IA pode expandir as capacidades humanas, aliviando-nos de tarefas mundanas e permitindo que nos concentremos em atividades mais complexas e criativas.
Por outro lado, a IH é essencial para orientar o desenvolvimento e a aplicação da IA de maneira ética e significativa.
Juntas, IA e IH têm o potencial de construir um futuro em que a tecnologia não apenas aumenta a eficiência, mas também enriquece a experiência humana, promovendo uma sociedade mais justa, criativa e compassiva.
A verdadeira força desse futuro reside na colaboração harmoniosa entre a engenhosidade das máquinas e a profundidade do espírito humano.