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Comportamento do consumidor brasileiro é o que mais mudou na pandemia

Brasil lidera o perfil de “consumidor reimaginado”, que adquire produtos e serviços com base em fatores que vão muito além do custo-benefício

Rodrigo Oliveira

31 de Agosto

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Artigo Comportamento do consumidor brasileiro é o que mais mudou na pandemia

Mais de 500 dias de máscaras e distanciamento social transformaram o mundo. Assim como a nossa forma de consumir. É o que mostra o estudo Life Reimagined: motivações para consumidores modernos, desenvolvido pela Accenture Strategy e Accenture Interactive. De acordo com a pesquisa, os valores e as motivações de compra dos consumidores estão mudando em escala global. E o Brasil é quem lidera essa virada – 71% dos entrevistados se enquadram no perfil de “consumidores reimaginados”.

Para chegar ao número, a consultoria americana ouviu mais de 25 mil consumidores em 22 países. Também foram realizados grupos focais em cinco localidades – Brasil, China, Espanha, Reino Unido e Estados Unidos. O objetivo foi desvendar o que mais influencia os hábitos de consumo, medir as expectativas das pessoas frente às marcas e empresas, além de ilustrar o impacto desproporcional da pandemia do novo coronavírus em diferentes regiões do globo.

O levantamento mostrou que, em razão da atual pandemia, metade dos entrevistados repensaram seus comportamentos e prioridades de consumo. Além de adaptarem as somas despendidas, eles estão mais dispostos a lutar por um propósito. Outros 33% estão evoluindo em matéria de princípios e motivações de compra. Somente 17% dos entrevistados disseram que a crise sanitária não teve impacto nos hábitos de consumo.

Embora o preço (21%) e a qualidade (19%) estejam entre as informações mais relevantes da tomada de decisão, os resultados da pesquisa colocam pesos inéditos na balança: saúde e segurança (14%); serviços e cuidados pessoais (12%); facilidade e conveniência (11%); origem do produto (10%); confiança e reputação (12%).

Isso significa que a jornada de compra ficou mais complexa. E as empresas precisam levar essa realidade em consideração se quiserem superar as expectativas dos seus clientes.

gráfico accenture life reimagined Prancheta 1 Prancheta 1Fonte: Accenture Global Consumer Pulse Research 2021

Por que o Brasil

Dentre os países que participaram do estudo, o Brasil é o campeão – empatado com a Índia –, em proporção de “consumidores reimaginados”. Por aqui, 71% dos entrevistados se encaixam na categoria, 21% estão em evolução e apenas 8% colocam os fatores de preço e a qualidade em primeiro lugar.

O diretor executivo de consultoria de gestão da Accenture, Carlos Fan, atribui a dianteira brasileira ao uso constante de meios digitais e à predisposição para compartilhar experiências. “Nós, brasileiros, somos muito mais sociais.”

Segundo o executivo, o brasileiro sofreu mais com as restrições da pandemia em comparação a outras nacionalidades. Isso se deve ao ritmo lento de vacinação, somado ao surgimento de variantes do vírus. Nesse sentido, a população teria sido forçada a experimentar novos hábitos. A boa notícia é que alguns deles são bastante positivos, e o tempo foi suficiente para consolidá-los.

Trabalhar direto de casa, pedir o almoço por aplicativo, comparar preços em diferentes marketplaces, checar avaliações de estabelecimentos, pagar as contas via internet banking. Segundo Fan, tudo isso entra na equação. O executivo, porém, ressalta que a digitalização do cotidiano foi acelerada na pandemia – não é um movimento iniciado em março de 2020. “Faz algum tempo que o brasileiro experimenta um salto de acesso à informação e de simplificação da vida”, afirma.

O que as gerações Y e Z têm a ver com isso

A necessidade de estar em contato com o outro, o que é uma marca da juventude, também ajuda a explicar essa transformação, acrescenta Carlos Fan. Na análise do executivo, os nativos digitais tendem a ditar as regras daqui para frente. Dentre as demandas originadas pelo grupo estão, principalmente, a ampliação da oferta de alimentos saudáveis e a transparência em relação à origem do produto.

É por isso que gigantes de variados segmentos da economia ampliam cada vez mais seus portfólios de produtos orgânicos e buscam reduzir o desperdício de alimentos em suas operações. Para Fan, medidas como essas são uma consequência direta da “vida reimaginada” observada na pesquisa.

O papel das tecnologias emergentes

O resultado do estudo, portanto, tem relação direta com a digitalização cotidiana. Os dispositivos eletrônicos, afinal, tornam a rotina mais simples. E sempre haverá espaço para a conectividade. “A tecnologia é muito mais um viabilizador do que queremos do que a tecnologia per se”, diz Carlos Fan.

O que está por trás da predileção pelos meios digitais do brasileiro é a possibilidade de se conectar com outras pessoas de maneira remota. E é por isso que a confiança e a reputação da marca ganham relevância na escolha final dos consumidores.

Para Fan, quem não se adequar à era dos reviews, pode ter problemas. “A gente fala muito um com o outro. Ainda mais neste momento de distanciamento. Qualquer informação cai na rede social. E isso reverbera por conta da nossa cultura”, conclui.

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O Fórum: Pensamento Digital é uma coprodução de MIT Sloan Review Brasil e Accenture.

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Autoria

Rodrigo Oliveira

É colaborador de MIT Sloan Review Brasil.

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