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Covid-19: habemus vaccina, da eficácia aos efeitos colaterais

Você conhece a eficácia e os efeitos colaterais das principais vacinas desenvolvidas contra a covid-19? Neste artigo, analiso as informações científicas de imunizantes que estão sendo aplicados na população

Colunista Gustavo Meirelles

Gustavo Meirelles

02 de Março

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Artigo Covid-19: habemus vaccina, da eficácia aos efeitos colaterais

Na coluna de janeiro, ficamos por dentro das etapas para desenvolvimento dos diversos tipos de vacinas que podem ser elaboradas contra agentes infecciosos. Neste mês, vamos aprender um pouco mais sobre as principais imunizações em utilização contra a Covid-19.

Os testes clínicos para vacinas contra a Covid-19 começaram poucas semanas após a eclosão dos primeiros casos, ainda no início de 2020. Algumas imunizações já completaram todas as fases dos ensaios, sem preocupações relevantes em termos de segurança, mas tiveram algum efeito local ou sistêmico, como febre, dor de cabeça, calafrios, cansaço e dores musculares.

Embora os resultados tenham sido promissores para todas as vacinas, muitas dúvidas persistem, como a duração da imunização conferida e os efeitos em indivíduos contaminados pelo novo coronavírus, tanto naqueles assintomáticos como nos sintomáticos.

Falaremos, a seguir, das características das principais imunizações disponíveis contra a Covid-19 neste momento, lembrando que são informações dinâmicas e em constante atualização. No site da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), é possível encontrar mais informações sobre as vacinas e o status das análises de registro e uso emergencial no Brasil.

Pfizer-BioNTech

Principais pontos da vacina (BNT162b2):

  • Vacina à base de RNA mensageiro;
  • Aplicação por via intramuscular;
  • Duas doses, com intervalo de três semanas;
  • Requer armazenamento em temperaturas ultrabaixas (< 70º Celsius);
  • Eficácia de 95% após sete dias da segunda dose;
  • Está aprovada para uso em diversos países; no Brasil, a Anvisa aprovou seu registro definitivo em 23/02/2021.

Um estudo randomizado em adultos sadios de 18 a 85 anos demonstrou resposta imune com a vacina semelhante à encontrada no plasma convalescente de pacientes que tiveram infecções assintomáticas ou moderadas pelo SARS-CoV-2. A resposta imune em pessoas acima de 65 anos foi um pouco menor, mas ainda comparável à de indivíduos com histórico da infecção.

Com relação à eficácia, um grande estudo de fase 3 demonstrou que a vacina preveniu quadros sintomáticos de Covid-19 em 95% dos indivíduos imunizados após sete dias da sua segunda dose. Dos quadros graves da doença, 90% deles ocorreram no grupo placebo.

Uma pesquisa recentemente conduzida no Centro Médico Sheba de Israel, publicada no dia 18 de fevereiro na revista médica The Lancet, mostrou redução precoce substancial nas infecções pelo Sars-CoV-2 e de COVID-19 sintomática após a primeira dose da vacina, dando suporte para atrasar a aplicação da segunda dose de forma a permitir uma cobertura maior da população com uma única aplicação.

Efeitos colaterais locais e sistêmicos foram relativamente comuns após a segunda dose da vacina, muitos deles de gravidade leve ou moderada. Os efeitos mais frequentes foram febre, cansaço, dor de cabeça e calafrios.

Moderna

Principais pontos da vacina (mRNA - 1273):

  • Vacina à base de RNA mensageiro;
  • Aplicação por via intramuscular;
  • Duas doses, com intervalo de 28 dias;
  • Requer armazenamento em temperaturas < 20º Celsius;
  • Eficácia de 94,1% após 14 dias da segunda dose;
  • Está aprovada para uso em seres humanos nos Estados Unidos e na União Europeia; no Brasil, ainda não está em análise pela Anvisa.

Uma das primeiras imunizações contra a Covid-19 a serem desenvolvidas, foi administrada em seres humanos apenas dois meses após a publicação do sequenciamento genético do novo coronavírus.

Resposta imune comparável à encontrada no plasma convalescente de indivíduos com infecção pregressa pelo novo coronavírus foi demonstrada em uma publicação com indivíduos de 18 a 55 anos de idade. Um outro estudo de fase 3 demonstrou eficácia da vacina de 94,1% na prevenção de quadros sintomáticos de Covid-19 após 14 dias da segunda dose, sendo um pouco menor (86,4%) em indivíduos com mais de 65 anos. Trinta casos da doença foram graves, todos eles no grupo placebo.

Efeitos colaterais locais e sistêmicos tiveram relação com a dose aplicada, sendo mais frequentes após a segunda aplicação. A maior parte foi leve ou moderada, sendo composta principalmente por febre, cansaço, dor de cabeça, mialgias e artralgias. Os efeitos colaterais foram menos frequentes em indivíduos de idade mais avançada e naqueles com histórico de infecção pregressa pelo coronavírus.

Oxford University, AstraZeneca e Serum Institute of India

Principais pontos da vacina (ChAdOx1 nCoV-19/AZD1222):

  • Vacina elaborada a partir de um vetor (adenovírus atenuado de chimpanzés e que expressa a proteína da espícula viral);
  • Aplicação por via intramuscular;
  • Duas doses, com intervalo de quatro a 12 semanas;
  • Pode ser mantida armazenada em refrigeradores (2-8ºC);
  • Eficácia de 70,4% após 14 dias da segunda dose em um estudo e de 76% após 21 dias da primeira dose em outra pesquisa;
  • Está aprovada para uso em seres humanos na União Europeia e diversos outros países, incluindo o Reino Unido, a Índia e o Brasil (uso emergencial).

A vacina gerou resposta imune em indivíduos sadios de 18 a 55 anos em um estudo de fase 1/2, a partir de 28 dias da segunda dose, com títulos de anticorpos neutralizantes comparáveis aos do plasma convalescente de indivíduos com infecção pregressa pelo novo coronavírus.

Em um estudo randomizado de fase 2, a vacina teve eficácia de 70,4% na prevenção de doença sintomática após 14 dias da segunda dose. Um subgrupo menor de participantes recebeu, de forma inadvertida, uma dose menor da imunização na primeira aplicação e a eficácia da vacina neste subgrupo foi de 90%, em comparação com uma eficácia de 62,1% naqueles que receberam a dose integral.

Um outro estudo, ainda não publicado, demonstrou eficácia da vacina de 76% após 21 dias da primeira dose para prevenção de Covid-19 sintomática, inclusive sugerindo que uma única aplicação possa gerar proteção. Além disso, a pesquisa demonstrou que a aplicação de uma segunda dose depois de 12 semanas associou-se a uma maior eficácia da vacina em comparação ao grupo que a recebeu com menos de seis semanas, também sugerindo que a extensão do intervalo de tempo entre as doses para 12 semanas possa ser ainda mais benéfica.

Com relação a efeitos colaterais, cansaço, dor de cabeça e febre foram relativamente comuns. Houve dois casos de mielite transversa em um estudo de fase 2, um deles possivelmente relacionado à vacina e o outro sem causa conhecida, possivelmente sem associação com a imunização.

Janssen

Principais pontos da vacina (Ad26.COV2.S):

  • Vacina elaborada a partir de um vetor (adenovírus 26 que não se replica e que expressa uma proteína da espícula);
  • Aplicação por via intramuscular;
  • Tem sido estudada com uma única dose ou com duas doses com 56 dias de intervalo;
  • Pode ser mantida armazenada em refrigeradores (2-8ºC) por até três meses;
  • Eficácia de 66% após 28 dias da imunização;
  • Em fase de análise para aprovação para uso nos Estados Unidos e na União Europeia.

Um estudo de fase 1/2 evidenciou altas taxas de anticorpos neutralizantes após uma única dose em indivíduos sadios de 18 a 85 anos; uma segunda dose associou-se a aumento dos títulos neutralizantes. Outra pesquisa, de fase 3, demonstrou eficácia de 66% contra formas graves e moderadas de COVID-19 após 28 dias da imunização, tendo sido demonstrado algum fator protetor já a partir do 14º dia da imunização.

Efeitos colaterais locais e sistêmicos foram comuns, geralmente compostos por cefaleia, cansaço e mialgia.

Gam-COVID-Vac/Sputnik V (Gamaleya Institute)

Principais pontos da vacina:

  • Desenvolvida na Rússia, utiliza dois vetores adenovírus que expressam uma glicoproteína da espícula e não se replicam;
  • Aplicação por via intramuscular;
  • Duas doses: a primeira à base de um vetor adenovírus 26, seguida por uma segunda após 21 dias à base de um vetor adenovírus 5;
  • Pode ser mantida armazenada em refrigeradores (2-8ºC) por até dois meses;
  • Eficácia de 91,6% após 21 dias da primeira dose (estudo fase 3 ainda em andamento);
  • Aprovada para usos clínicos na Rússia e mais 20 países.

Em um estudo não randomizado de fase 1/2, respostas imunes celular e humoral foram detectadas em todos os participantes. Segundo uma pesquisa de fase 3, ainda em andamento, a vacina teve 91,6% de eficácia para prevenir doença sintomática após 21 dias da 1ª. dose. Todos os casos graves de Covid-19 ocorreram no grupo placebo e nenhum efeito colateral grave foi relatado.

CoronaVac (Sinovac)

Principais pontos da vacina:

  • Desenvolvida na China, à base de vírus inativado, com ensaios clínicos no Brasil conduzidos pelo Instituto Butantan;
  • Aplicação por via intramuscular;
  • Duas doses com intervalo de 14 a 28 dias;
  • Pode ser mantida armazenada em refrigeradores (2-8ºC);
  • Eficácia geral da vacina no Brasil: 50,4% para prevenir doença pelo SARS-CoV-2, 78% para prevenir casos leves que necessitariam de tratamento e 100% para prevenir casos moderados ou graves;
  • Aprovada para uso definitivo na China e para uso emergencial em alguns outros países, incluindo o Brasil.

Em estudos randomizados de fase 1/2, a vacina mostrou-se segura e imunogênica. Os efeitos colaterais foram leves, compostos principalmente por cefaleia, mialgias, fadiga e dor local.

Para indivíduos infectados pelo SARS-CoV-2, a vacina pode ser aplicada após 7 dias sem sintomas agudos, com exceção de perda do paladar (ageusia) e do olfato (anosmia), pois são manifestações que tendem a prolongar-se por mais tempo.

Para mulheres com intenção de engravidar, a orientação é aguardar quatro semanas após o término do esquema completo de vacinação (duas doses).

Covaxin (Ocugen and Bharat Biotech)

Principais pontos da vacina:

  • Desenvolvida na Índia, à base de coronavírus morto;
  • Aplicação por via intramuscular;
  • Duas doses com intervalo de 28 dias;
  • Pode ser mantida armazenada em refrigeradores (2-8ºC);
  • Eficácia ainda em avaliação (estudos de fase 3 envolvendo mais de 25.000 pacientes);
  • Aprovada de forma emergencial e para uso restrito na Índia.

O quadro abaixo resume as principais características das imunizações apresentadas nesta coluna. No quatro, o NS representa os pedidos de uso emergencial e definitivo ainda não solicitado:

Características das vacinas

Enfim, a chegada das vacinas é excelente notícia para todos que desejam retornar para as atividades cotidianas, contato com familiares e amigos e convívio social. Entretanto, mesmo com as vacinas, ainda é muito importante usarmos máscaras, praticarmos distanciamento social e mantermos as medidas de proteção e higiene, até que tenhamos grande parte da população imunizada. Continuemos otimistas e que boas novas sejam cada vez mais abundantes.

(Além das análises e informações trazidas por Gustavo Meirelles neste artigo sobre os principais imunizantes contra a covid-19, a Sagres Brasil produziu um material sobre o tema na perspectiva da inovação aberta. O conteúdo pode ser acessado aqui).

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Colunista

Colunista Gustavo Meirelles

Gustavo Meirelles

É fundador, investidor e conselheiro de startups, principalmente na área da saúde. Médico radiologista, com especialização, doutorado e pós-doutorado no Brasil e no exterior. Tem experiência como executivo de grandes empresas de saúde, com MBA em gestão empresarial. Mais informações em: www.gustavomeirelles.com.