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Audiência e infraestrutura: as duas grandes batalhas do mundo tech 

Em um cenário dominado por IA e incertezas, vencerá quem souber adaptar sua estratégia sem depender de um único ecossistema

Roberto Oliveira
22 de abril de 2025
Audiência e infraestrutura: as duas grandes batalhas do mundo tech 
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Nos anos 1960, quando os computadores ainda eram máquinas gigantescas, o fundador da Intel, Gordon Moore, propôs com a chamada Lei de Moore que o poder computacional de um processador dobraria num intervalo entre 18 e 24 meses, dentro do mesmo custo de compra. Ao longo das últimas décadas, vivemos o reflexo dessa exponencialidade: hoje, temos computadores em todos os cantos do mundo, incluindo versões de bolso que utilizamos por horas todos os dias. 

Além disso, desde 2022, estamos vivendo um novo paradigma: o da inteligência artificial, cujo poder computacional se expande não ao dobro, mas na casa de 100 vezes a cada dois ou três anos, como sugeriu o CEO da Nvidia, Jensen Huang, em anúncio no mês de março de 2025. Se ele estiver correto – e acredito que esteja –, o que vivemos ao longo das últimas décadas ainda terá sido pouco, perto da transformação em curso nos dias de hoje e que nos aguardam nos próximos anos. É uma revolução sem precedentes na história da humanidade, capaz de mudar todas as indústrias, todos os negócios e todas as atividades do ser humano. 

Em meio a tanta transformação, o mundo da tecnologia reencena mais uma edição de duas grandes batalhas: uma de infraestrutura, outra de audiência. Quem se dispuser a analisar a história da indústria tech verá que todas as grandes empresas do setor construíram seu império a partir de uma das duas categorias. Enquanto a batalha de audiência envolve o universo dos consumidores finais, o chamado B2C, a disputa pelo poderio na infraestrutura está mais ligada a soluções voltadas diretamente às empresas, ao modelo B2B. Agora, com a efervescência da inteligência artificial, veremos mais um episódio dessa queda de braço que já teve capítulos na era do computador pessoal, da web 1.0, das redes sociais e dos dispositivos móveis. 

Quem controla a conversa, controla o mercado

No que se refere à audiência, a grande competição se dá pela maneira como as pessoas entram em experiências oferecidas pelas marcas. Quem dominar essa porta de entrada – que antes poderia ser a busca do Google ou o feed do Facebook – terá o poder econômico em suas mãos. Na era da internet AI-first, as interações são na forma de conversas – seja entre duas pessoas, entre um grupo ou com as marcas. O que define uma ideia de conversa é a thread: a sequência de mensagens numa linha do tempo que tende a ser infinita, enquanto aqueles dois contatos existirem. 

É por isso que um dos principais caminhos são as aplicações de comunicações – e aqui no Brasil, nenhuma delas é mais prevalente do que o WhatsApp, que já é um diretório das conversas de seus usuários, bem como um portal para o mundo desde a incorporação do Meta AI. Outro grande candidato é o Google, que busca evoluir para justamente tornar sua busca mais conversacional, com a criação do Gemini e sua incorporação em diferentes produtos e serviços. 

A última grande hipótese nessa competição é que as empresas que desenvolvem modelos de linguagem criem seus próprios assistentes e que eles se tornem a porta de entrada. Nesse front, o grande destaque é o ChatGPT, que já tem cerca de 400 milhões de usuários semanais e almeja chegar à marca dos dez dígitos até o final de 2025. Hoje, o sistema da OpenAI já recebe mais de cino bilhões de visitas por mês. Ainda é pouco, perto do domínio da busca do Google, mas mostra o potencial da ferramenta, ainda mais porque as pessoas estão recorrentemente voltando ao aplicativo para interagir e ter novas conversas. O ChatGPT ainda não tem também um modelo de receita bem definido para lidar com interações externas, da mesma forma que Google e Facebook usaram com anúncios e atribuição, mas isso não deve tardar a acontecer. 

Mais do que apenas atender bem aos usuários, acredito que ganhará essa corrida quem conseguir servir bem às marcas. Para isso, será importante permitir não só que as marcas assumam a conversa e tenham o poder de definir como se dá a comunicação, mas também que as threads sejam consistentes, perenes, acionáveis e facilmente consultadas pelos usuários. O histórico das conversas passará a ser o banco de dados de uma relação entre o consumidor e as marcas. 

A verdadeira batalha está na nuvem

A outra grande batalha, a da infraestrutura, envolve os recursos que permitem que as marcas possam, ao assumir as conversas, entregar uma boa experiência. É uma disputa múltipla, entre GPUs (Graphics Processing Unit), fornecimento de energia elétrica e criação de modelos de linguagem, mas cujo ponto central reside na disputa da nuvem. E isso não é novo: há pelo menos uma década, empresas como Amazon, Microsoft e Google buscam espaço no setor com recursos de servidores, memória e processamento, necessários para que as aplicações usadas por pessoas e corporações sejam desenvolvidas. 

Entre os dois lados há uma conexão – e uma grande pergunta: será que algum dos grandes players tentará verticalizar a disputa controlando ao mesmo tempo a porta de entrada e a infraestrutura? 

Na China, com o WeChat, isso já aconteceu: o local onde a audiência está também é onde a fundação do ecossistema se resolve – mas o mercado local tem inúmeras questões particulares que provavelmente não se reproduzem em escala global. 

Outra grande dúvida é saber como se dará a vitória. Do lado da audiência, vencedores em diferentes partes da internet agora disputam espaço em um só ambiente, em um cenário que provavelmente se desenhará com o vencedor levando tudo. Já na infraestrutura, é possível que haja uma repartição do mercado, mas não seria improvável ver um competidor levando a melhor dentro da disputa inteira. 

Em meio a tantas dúvidas, não é difícil imaginar um ambiente que leve muitas empresas e marcas à paralisia. Dentre tantas possibilidades no universo da inteligência artificial, como escolher apenas uma plataforma? Em qual cavalo vencedor apostar? E em qual infraestrutura basear seus esforços? Em uma era de tanta inteligência, algumas batalhas podem levar líderes a soluções pouco espertas. 

Em meio a tantas perguntas, me lembro de Stephen Hawking: “inteligência é a habilidade de se adaptar à mudança”, disse o cientista inglês. Mais do que dar a resposta certa, inteligência é sobre aprender. Quanto mais adaptável for um sistema ou plataforma, mais inteligente ele será. Além disso, em um cenário de disputa, às vezes a melhor solução é aquela que tem um caráter agnóstico, capaz de dialogar com todos os fronts. Diante desse cenário de transformações rápidas e disputas acirradas, uma coisa é certa: flexibilidade e adaptação serão determinantes para o sucesso.

Na corrida pela audiência e pela infraestrutura, as empresas que conseguirem integrar novas tecnologias de forma eficiente, sem ficarem presas a um único ecossistema, terão vantagem competitiva. 

A história da inovação mostra que o sucesso não vem apenas da criação de algo inédito, mas sim da conexão de tecnologias e possibilidades de maneira elegante. No fim das contas, vencerá não quem simplesmente aposta no cavalo certo, mas sim quem se alinha a uma estratégia capaz de evoluir independentemente do resultado da corrida.

Roberto Oliveira
Roberto Oliveira é cofundador e CEO da Blip, principal plataforma de inteligência conversacional. Estudou Educação Executiva, Inovação e Empreendedorismo na Universidade de Stanford e é graduado em Engenharia Elétrica e de Telecomunicações pela UFMG. Lança e desenvolve empresas de tecnologia, é co-fundador da Confrapar e da Minu, além de investidor-anjo em outras startups.

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