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Humanismo digital: a Declaração de Poysdorf

Manifesto evoca a necessidade de pensarmos a relação entre homens e máquinas, reforçando o conceito e as práticas do humanismo digital

Colunista Cássio Pantaleoni

Cássio Pantaleoni

09 de Setembro

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Artigo Humanismo digital: a Declaração de Poysdorf

No último dia 7 de julho, os Ministros de Assuntos Internacionais da Áustria, da República Tcheca e da República Eslovaca assinaram um documento que acrescenta prestígio político ao tema do humanismo digital. Sob o título de A Declaração de Poysdorf, a carta recomenda a reflexão criteriosa acerca das tecnologias emergentes, aspirando servir como bússola aos cidadãos diante da transformação digital.

O manifesto dos três ministros - Alexander Schallenberg, Jakub Kulhánek e Ivan Korcok – reconhece o poder da inteligência artificial tanto quanto revigora o desvelo necessário à compreensão dos efeitos da IA sobre os direitos humanos.

As novas tecnologias digitais já ocupam o debate político, essencialmente na possibilidade da automação de atividades que, ainda, garantem emprego a um largo contingente de pessoas. No entanto, a Declaração de Poysdorf quer reclamar atenção para a fenda crescente que separa os que se beneficiam da digitalização para aqueles que se veem marginalizados.

Os ministros signatários destacam a falta de garantias à privacidade e as novas dependências instauradas pelo espaço virtual que nos transformam em consumidores ordinários. Além disso, apontam a corrosão das instituições democráticas e a vulnerabilidade das infraestruturas tecnológicas. Em certo trecho, o texto sugere que a digitalização chegou ao ponto de nos exigir a recolocação da questão sobre o que significa ser humano.

A relação homem e máquina

O humanismo digital, enquanto abordagem que considera as benesses e os efeitos da interação do homem com a máquina, é oferecido como profilaxia para regular tal relação. E a partir desse enfoque que se torna possível priorizar direitos humanos, mitigar vieses inaceitáveis e assegurar a autonomia humana nos processos automatizados pela IA.

A declaração reconhece o inestimável valor da IA para fortalecer a nossa capacidade de resolução de problemas, sem ignorar os riscos.

Enquanto assumem sem resistência que a IA e as tecnologias acessórias representam novas oportunidades para indivíduos e sociedade, os ministros manifestam preocupação sobre a sofisticação da desinformação no espaço digital, seus efeitos sobre os jovens e a distorção perceptiva da realidade.

O documento junta-se ao Manifesto de Viena (maio de 2019), ao Plano Básico do Conselho de Ciência, Tecnologia e Inovação do Japão denominado Sociedade 5.0 (janeiro de 2016), e outras dezenas de iniciativas que visam a primazia de uma abordagem centrada no humano no desenvolvimento das tecnologias de IA.

Penso que tais iniciativas deveriam fomentar um debate sério entre acadêmicos, empresários e instituições políticas no Brasil. Desse modo, são perceptíveis as lacunas reflexivas de âmbito filosófico, antropológico, psicológico e sociológico que orbitam o tema. A Declaração de Poysdorf é o testemunho legítimo da vanguarda europeia em matérias que o Brasil ainda pretere com displicência. Precisamos urgentemente convocar a sociedade brasileira para este debate sério. Humanismo não é moda, e digital é o sinônimo do nosso inevitável futuro.

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Colunista Cássio Pantaleoni

Cássio Pantaleoni

Cássio Pantaleoni é managing director da Quality Digital e membro do conselho consultivo da ABRIA (Associação Brasileira de Inteligência Artificial). Tem mais de 30 anos de experiência no setor de tecnologia, é graduado e mestre em filosofia, e reúne experiências empreendedoras e executivas no currículo. Vencedor do prestigioso prêmio Jabuti, com a obra Humanamente Digital: Inteligência Artificial centrada no Humano.

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