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Empreendedorismo

3 min de leitura

Mais do que inventar negócios e criar empresas

Consigo compreender a prática do empreendedorismo através duas vertentes: inconformismo e competência técnica; todavia, empreender está além desse conceito

Colunista Luís Rasquilha

Luís Rasquilha

16 de Junho

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Artigo Mais do que inventar negócios e criar empresas

Assistimos nos últimos anos a uma escalada do chamado empreendedorismo. De maneira direta, empreender significa encontrar uma oportunidade, ter uma boa ideia e assumir o risco de colocá-la em prática agregando valor em várias escalas e dimensões.

Sem dúvida, o empreendedorismo entrou na agenda cotidiana. Isso ocorre porque os mercados têm mudado radicalmente, lançado muitos profissionais para situações de desemprego, pois muitas (e novas) áreas têm surgindo onde faltam soluções, aguçando a coragem e o arrojo de muitos.

Falamos de uma disciplina recente, que não tem mais do que 15 anos a ser ensinada em MBA’s pelo mundo. No entanto, será que todos temos capacidade ou precisamos ser empreendedores?

Um aluno me contou, há algum tempo, que disse ao pai que iria e queria ser empreendedor. Em resposta, o pai teria lhe dito: “vai primeiro trabalhar”. Esse momento, caricato até, revela um pouco o sentimento existente sobre o tema: uma moda ou uma maneira de trabalhar menos, principalmente para as gerações mais velhas que ainda são influenciadas pela lógica da revolução industrial, dita tradicional.

Acredito que é o empreendedorismo que vai resolver muitos dos problemas do mundo e criar um sem número de maravilhosas novas realidades. Aliás, o empreendedorismo já está fazendo isso acontecer.

Vivemos a maior e mais profunda mudança na história com o crescimento do mundo conectado, sem fronteiras, onde a produção e partilha de conhecimento se faz de forma exponencial através das redes sociais e do mundo digital.

Essa mudança está transformando empresas, mercados e profissões como nunca se viu: robôs que substituem e complementam trabalhos ditos humanos, apps que suplantam empresas estabelecidas, modelos de negócio que desafiam as regras vigentes e no fim da linha, mas não menos importante, empresas que trazem novas soluções para velhos problemas.

Empresários que não são empreendedores

Empreender é mais que inventar. E, sem dúvida, é bem mais do que criar uma empresa. Não confundamos empreendedor (aquele que identifica uma oportunidade e a aproveita criando algo) com empresário (aquele que cria uma empresa para o mercado).

Todos os empreendedores precisam ser empresários; o contrário não é tão necessário assim. Entretanto, quais os passos que devemos considerar para o empreendedorismo? Normalmente gosto de dividir o tema em dois vetores:

1. Inconformismo

Empreendedor é aquele que permanentemente se sente desconfortável com tudo: a vida, o mercado, o mundo; enfim, com tudo. Isso cria nele uma permanente sensação de desassossego que o motiva a permanentemente olhar o futuro, as tendências, as pessoas, as empresas, tudo. Com esse conhecimento, ele constrói cenários, ideias, propostas, protótipos, soluções de forma permanente e contínua numa incessante busca por algo novo e relevante.

Os grandes empreendedores da história moderna são, de forma quase serial: Ellon Musk, Steve Jobs, Jack Ma, Bill Gates, e tantas outras pessoas inconformadas que, de projeto em projeto, vão construindo o novo. Essa mentalidade e ação inconformista só é adquirida com vivência e vontade.

2. Competência técnica

Não chega ter uma ideia. É necessário dominar as técnicas de conversão da ideia em produto/serviço, em algo implementável. Conhecer de estratégia, gestão, public speaking, networking, marketing etc. é fundamental para se ser um empreendedor de sucesso. Isso normalmente é alcançado com formação academica e experiência profissional.

Precisamos também de repertório, cultura, que nos permita ligar os pontos e desenhar um novo mapa. Outro ponto importante é que não precisamos criar empresas para sermos empreendedores. Podemos sê-lo nas empresas onde trabalhamos (intraempreendedores ou empreendedores corporativos) desde que a empresa possua uma cultura de inovação que valorize a colaboração e a espontânea geração de ideias.

No entanto, a grande mensagem escondida no empreendedorismo é que ele é muito mais um estilo de vida do que uma profissão. Na vida, e no trabalho, as regras são as mesmas, sempre: olhar as oportunidades e não as deixar fugir para que, mais tarde, não nos arrependamos. Isso é o empreendedorismo.

“Encontra algo que gostes de fazer e não precisarás trabalhar um único dia na tua vida” (adapt. de Confúcio). Essa frase, sem dúvida, resume o que consigo definir como o mantra dos empreendedores.

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Colunista

Colunista Luís Rasquilha

Luís Rasquilha

CEO da Inova TrendsInnovation Ecosystem e professor da Fundação Dom Cabral (FDC), Hospital Albert Einstein e Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq-USP).

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