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Liderança

4 min de leitura

Qual a mudança que a sua caneta alcança?

Neste artigo proponho uma conversa sobre como as agendas de líderes podem refletir sobre os desafios e urgências do nosso tempo

Colunista Grazi Mendes

Grazi Mendes

23 de Abril

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Artigo Qual a mudança que a sua caneta alcança?

Meu convite hoje é para que você dê uma boa olhada na sua agenda. Por um instante esqueça dos itens atrasados, dos prioritários e faça uma análise da substância. O que te ocupa? Quais são as atividades que preenchem suas horas, sua cabeça e te tornam uma pessoa ansiosa, sempre em movimento? Eu sei, você sabe, o nosso problema não é inércia, é consciência de direção. Sabemos que precisamos mudar, mas ainda sofremos com o quê e principalmente com o como.

Tenho dedicado os últimos anos da minha trajetória profissional imersa em temas como inovação, tecnologia, cultura corporativa, gestão de pessoas, design de futuros e educação – livre, popular, continuada e corporativa. Foi por habitar esses universos que de uns tempos para cá, comecei a me intrigar não apenas com a velocidade das mudanças ou com a aceleração que a tecnologia nos impõe, e sim com as grandes transformações que acontecem por trás de aparatos, telas e ferramentas. Em outras palavras, penso nas reconfigurações que nos atravessam ou que podem ser vistas para além das janelas dos nossos escritórios ou casas.

Dois universos estão sendo drasticamente desafiados a mudar: o planeta que chamamos Terra, com toda a sua complexidade, e o seu mundo aí, das suas ideias e ações. Quando converso com lideranças de organizações sobre novas habilidades, competências e decisões que precisam responder aos desafios da nossa época, percebo que a maioria conhece quais são os desafios, mas não tem tempo de refletir sobre eles ou temem que tudo seja muito maior do que possam dar conta.

Por esses motivos, algumas lideranças se rendem à armadilha de falar sobre mudanças, sem assumir a necessidade de mudar. Para escapar desse perigo, recorro à poesia de Sérgio Vaz: revolucionário é todo aquele que quer mudar o mundo e tem a coragem de começar por si mesmo.

Neste sentido, sinto informar que não é uma questão de incapacidade ou impossibilidade de agir. É primeiro uma síndrome de agenda lotada. Talvez você se ocupe de coisas de mais, que resolvem coisas de menos.

Transformação digital importa? Claro. No entanto, importa mais que a emergência climática ou a redução das desigualdades? Faça um exercício, analise quanto tempo você dedicou nos últimos meses e anos para tratar desses assuntos. Nem os supercomputadores sobrevivem a um planeta superaquecido.

Devemos hierarquizar de maneira simplista ou compreender a complexidade? Trabalhar nas partes isoladamente, como bem nos ensina Egar Morin, não melhora o todo e frequentemente o prejudica.

Lideranças movidas por medo ou paixão?

John Naisbitt, escritor e especialista em previsão de tendências globais, alerta que não será a tecnologia que nos trará os avanços mais emocionantes deste século, será a expansão do que significa ser humano. Assim sendo, se preparar é fundamental, porque são habilidades essencialmente humanas que farão diferença e criarão valor para as organizações.

Recentemente tive a oportunidade de assistir a uma palestra de um outro John, um dos maiores especialistas em antecipação de futuros do Vale do Silício. John Hagel fez provocações durante sua fala que cabem aqui na nossa conversa.

Para Hagel, as lideranças precisam identificar problemas não óbvios, pois é isso que vai diferenciar e gerar valor. Contudo, elas não devem acreditar que esse é um papel solitário, porque não deve mais prevalecer a ideia de que uma boa liderança é aquela que sabe todas as respostas, e sim a que faz as melhores perguntas e pede ajuda. Aliás, essa é também uma excelente forma de tirar as pessoas da organização da sombra e do desconhecimento sobre o que está acontecendo.

Segundo John, as pessoas até podem se mover pelo medo, mas essa não é uma motivação sustentável. Elas precisam ser motivadas pelas suas paixões e conectadas com as grandes questões do nosso tempo. Como fazer isso?

HORIZONTE ESTENDIDO

Revisando sua agenda e alinhando-a com uma agenda maior. Uma agenda global e de emergências humanas. Comece por conversas sobre esses assuntos. Vá para além dos conceitos e siglas, como ESG e Diversidade. Aprofunde-se. Se você ainda acredita que são assuntos longe demais da sua caneta, busque ampliar seu repertório sobre eles.

Rapidamente, você vai perceber que o caminho que separa sua mesa das ações necessárias para lidar de frente com as questões mais importantes da atualidade é bem curto. Não seria o alcance da sua caneta bem maior do que você tem permitido ser?

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Colunista

Colunista Grazi Mendes

Grazi Mendes

Grazi Mendes está como head of diversity, equity & inclusion na ThoughtWorks Brasil, consultoria global de tecnologia, é professora em programas de desenvolvimento de lideranças e cofundadora da Ponte, hub de diversidade e inclusão. Acumula cerca de 20 anos de experiência em gestão estratégica, branding, design estratégico, liderança e cultura, com atuação em empresas nacionais e multinacionais de segmentos diversos.

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