O mercado de carbono está avançando; confira sete orientações para ter sucesso na agenda ambiental
O governo federal brasileiro anunciou em maio último a publicação de um decreto para regulamentar o mercado de carbono no Brasil, sustentado pela Política Nacional sobre Mudança do Clima (conhecida pela sigla PNMC, que é a lei número 12.187/2009). Foi criado o Sistema Nacional de Redução de Emissões (Sinare), plataforma digital cujo objetivo é reunir todos os registros nacionais sobre emissões, remoções, reduções e compensações de gases de efeito estufa (GEEs) e o comércio de créditos e certificados envolvidos nas transações. Embora ainda seja necessário aprofundar os termos da regulação, que envolve toda a cadeia de redução de emissões de gases de efeito estufa na atmosfera, o mercado recebeu bem a iniciativa, e ela pode significar um avanço rumo à precificação dos gases do efeito estufa no Brasil.
É verdade que, na maioria, as empresas que pretendem atuar nesse mercado ainda navegam em um mar de incertezas. Mas as que já começaram a traçar seus planos têm a chance de obter vantagens competitivas dentro de um setor considerado extremamente promissor no Brasil. A incipiência do mercado pode ser fator favorável, à medida que permite que a organização que deseja começar projetos com base sólida estruture desde cedo suas áreas, que entrarão em conformidade desde o início das operações direcionadas ao objetivo.
Trazemos aqui sete pontos a serem considerados pelas companhias que já estão pensando em como podem identificar e aproveitar oportunidades de ganhos no novo mercado de compra e venda de carbono.
O início das coisas sempre é marcado por uma sensação de insegurança, e não seria diferente no mercado de carbono regulamentado. Mas diretrizes estão sendo trabalhadas e vêm surgindo para amparar o mercado rumo a um próximo passo. As empresas precisam se organizar agora para responder a esse movimento, olhando para a sua governança ambiental. É preciso se preparar para os cenários de emissão, compensação e de adequação de metas a fim de responder às questões estabelecidas na plataforma Sinare.
O primeiro passo é fazer inventários de emissão de GEEs para que sejam identificadas eventuais fraquezas e fortalezas no que diz respeito à mitigação de emissão dos gases. É preciso empreender uma verdadeira investigação sobre o comportamento da empresa nessa esfera, tendo como objetivo mapear em que práticas, processos e produtos é possível mitigar riscos e onde dá para aproveitar oportunidades de forma eficiente. O mapeamento é importante para que se descubra as áreas nas quais serão necessários investimentos em inovação e tecnologia, a fim de viabilizar uma transição de matriz energética, que deverá acontecer no médio e no longo prazo.
Buscar soluções para a compensação e ações de mitigação de emissão dos gases poluidores desde já ajuda a colocar a empresa em um caminho bom, em que não sofrerá com processos de taxação, nem precisará comprar licenças que permitam poluir além do necessário. Esse é um ponto de especial atenção, uma vez que as companhias que não monitorarem suas emissões, e que não tiverem planos de diminuí-las, agora poderão sofrer sanções. Ao se tornarem um risco aos investidores, essas companhias tenderão a sofrer impacto direto nas operações. Lembrando que o risco climático é iminente para todos, o melhor modo de antecipar desafios e mitigar riscos é a união entre empresas e investidores. Juntos, podemos buscar as oportunidades que levem ao avanço de ambos.
Para descobrir quão viável será o mercado de carbono no Brasil, você tem que, primeiro, entender quais são as atividades poluidoras. A Bravo Research, braço de inteligência e pesquisa da Bravo GRC, está desenvolvendo um estudo sobre esse assunto, com dados disponíveis sobre emissões no Brasil a partir do Relatório de Atividades Potencialmente Poluidoras e Utilizadoras de Recursos Naturais (RAPP). O estudo jogará os holofotes sobre uma fonte de dados valiosa para você definir e alcançar suas metas de redução de emissão de gases de efeito estufa e, dessa maneira, contribuir para que o Brasil atinja as metas com que se comprometeu no Acordo de Paris.
A viabilidade vai depender, em segundo lugar, dos delimitadores do mercado de carbono – ou seja, as regras dentro das quais ocorrerão as negociações. Isso, por sua vez, dependerá do aprofundamento da regulamentação a ser estabelecida pelo governo. Esta precisa ser clara e consistente o suficiente.
Em terceiro lugar, o mercado deve ser impulsionado e ter liquidez e, para isso, tem que contar com a adesão de muitos países. A viabilidade fica mais próxima quando sabemos que pelo menos China, Europa e Canadá já têm iniciativas em precificação de carbono.
O “novo normal” é a ambição 2030. Não queremos, como País, chegar a esse ano emblemático sem ter batido as metas de descarbonização estabelecidas no Acordo de Paris. Assim, precisamos agir agora. A liderança empresarial é peça-chave para engajar a agenda e cultivar o senso de urgência.
É preciso que os líderes busquem conhecimento sobre a crise climática e aumentar o nível de educação não só de suas empresas como de toda a sociedade. Já dispomos de informação o suficiente para atestar a necessidade de ação.
Pois temos, além da Agenda 2030, movimentos como Stockholm +50 e a própria COP, a conferência do clima das Nações Unidas. Nossa orientação é para que as empresas acompanhem esse movimentos e iniciem suas agendas climáticas olhando para as externalidades negativas. Também devem inserir em seu modelo de negócio estratégias para reduzir e compensar emissões de carbono.
Todas as empresas podem direcionar recursos para a conservação ou regeneração do meio ambiente. Preferencialmente, recursos proporcionais ao seu grau de externalidade negativa. Qualquer organização que considere os temas ESG naturalmente já está inserida no chamado capitalismo consciente. E já tem, dentro de si, os conceitos sobre preservação e prosperidade para o planeta e a sociedade.
As empresas que não trazem a visão do capitalismo consciente para a sua operação seguem um padrão: enxergam o tema ESG como uma despesa, um obstáculo, uma distração de baixo valor e, para alguns, uma iniciativa que impacta o business a ponto de descaracterizá-lo. Seus líderes não veem o valor agregado em esforços ESG nem compreendem a responsabilidade de impacto que têm em mãos. Nessas empresas ainda há a crença e o receio de que ESG e sustentabilidade financeira sejam aspectos excludentes, que competem entre si.
É um autoengano. Como a experiência tem comprovado, nempresas que incluem temas sociais e ambientais constroem reputação positiva com seus principais stakeholders, que essa reputação reverte em confiança e, como esta é a base das relações comerciais e financeiras, que os negócios progridem.
As empresas que não são capitalistas conscientes têm uma jornada mais árdua pela frente, já que, culturalmente, não estão preparadas nem disponíveis para a agenda ESG. Esse preparo é o passo mais importante a ser dado e tem a liderança como o principal sponsor.
Cabe à liderança construir os alicerces da governança consciente e direcionada, que inicia seu plano de ação identificando a materialidade em sustentabilidade e estudando seu modelo de negócio e seu ecossistema em busca de oportunidades de abançar com os stakeholders e também de reduzir riscos com eles, considerando as prioridades.
É aconselhável incluir a tecnologia como força impulsionadora do ambiente ideal para a tomada de decisões estratégicas. Isso deve acontecer por meio da formação de um banco de dados, de auditoria e de monitoria das atividades, além da criação de indicadores válidos e reconhecidos pelo mercado financeiro. Esse pode ser um caminho sólido a seguir.”