
É preciso constituir espaços que sustentem e celebrem as conquistas dessas profissionais no trabalho
Quantas vezes você olhou para uma amiga, sua líder ou sua par no trabalho e pensou: como ela consegue?
A máxima da mulher superpoderosa não nos ajuda mais, e talvez nunca tenha ajudado. Vivemos tempos em que “problema bom é problema na mesa”, mas não existe mais espaço para falar sobre esse lugar de mulheres que dão conta de tudo, não se cansam, que são mães, esposas, amigas, filhas, cuidadoras, donas de casa, líderes, executivas, atletas de beach tennis, corredoras de primeira… Estamos cansadas.
No Brasil e no mundo, o mercado de trabalho ainda apresenta muitos desafios para nós, mulheres, que buscamos “nosso lugar ao sol”. Falamos de disparidades salariais, dificuldades em alcançar cargos de liderança, estereótipos de gênero. Porém, pouco abordamos carga mental e responsabilidade de gestão familiar.
Você deve estar se perguntando: “gestão familiar”? Sim, isso mesmo. No Brasil, dados do último censo demográfico do IBGE mostram que as mulheres são maioria na população (51,5%). Não por acaso, 48,7% dos lares brasileiros têm mulheres como principais responsáveis pela renda familiar.
Em contrapartida, essas mesmas mulheres convivem com uma desigualdade salarial persistente, ganhando, em média, 78,8% da renda dos homens na mesma função.
Nesse contexto, abordar o tema da rede de apoio se torna um pilar fundamental para o sucesso profissional feminino. E vou além: para o sucesso de 48% das famílias brasileiras, que são lideradas por mulheres.
Neste artigo, o objetivo é trazer para a mesa a calibragem sobre o conceito de rede de apoio, sua importância, como construí-la, o papel das empresas nesse processo e a importância do autoconhecimento.
Apesar dos avanços, as mulheres ainda enfrentam obstáculos para alcançar cargos de liderança. Já sabemos que a presença feminina em posições de destaque ainda é baixa, e a pandemia de covid-19 impactou negativamente a carreira de muitas mulheres que tiveram que conciliar trabalho e cuidados com a família.
Importante precisarmos o que é, de fato, uma rede de apoio.
De maneira prática e nada lúdica, trata-se de um grupo de pessoas que oferecem suporte emocional, pragmático e profissional para outras pessoas. É também um espaço seguro para que possam compartilhar desafios, buscar conselhos e celebrar conquistas.
Trazendo a perspectiva do ambiente de trabalho, esse apoio pode se manifestar de diferentes formas, como mentoria, aconselhamento, compartilhamento de experiências e networking.
Mas, na vida real, as mulheres se sentem suportadas por alguma rede de apoio? Elas sabem o que, de fato, é isso no ambiente de trabalho? Listo, a seguir, alguns modelos de rede de apoio.
é formada por colegas de trabalho, líderes, liderados e, principalmente, outras mulheres da empresa.
expande a círculo de influência, englobando amigas, familiares, mentoras, ex-colegas e outras mulheres fora da empresa.
grupos de afinidade, programas de mentoria e outras iniciativas estruturadas pela empresa.
sabe aquele café despretensioso? É isso: conversas informais, encontros de networking e outras formas de apoio espontâneo.
Para começar, a mulher líder precisa ter intencionalidade e proatividade para entender quais são as suas necessidades. Isso a ajudará ter um ponto de partida para buscar apoio.
A famosa Pirâmide de Maslow reforça que uma rede de apoio para mulheres no trabalho pode contribuir para o atendimento de diversas necessidades básicas:
As empresas têm um papel fundamental no fortalecimento da rede de apoio entre mulheres, criando ambientes igualitários e oportunidades de desenvolvimento para que cada uma possa prosperar.
Dados preliminares da pesquisa “O modelo feminino de liderar negócios”, realizada pela MIT Sloan Management Review Brasil em coprodução com a Sqreem, sugerem que as mulheres líderes frequentemente são vistas como mais colaborativas, empáticas e focadas em construir consenso. Também se destacam em competências como comunicação, resolução de problemas e capacidade de motivar suas equipes.
Resultados como esses reforçam a importância da diversidade de gênero em cargos de liderança.
Mulheres trazem habilidades e perspectivas únicas que podem enriquecer o ambiente de trabalho e impulsionar o sucesso das empresas. Não por acaso, estimular a construção de redes de apoio nesse lugar de gestão é de extrema importância para a construção de equipes mais ambidestras e colaborativas.
O sucesso profissional das mulheres depende muito de uma rede de apoio sólida.
Contar com uma rede de apoio sólida, em que mulheres que entendem os desafios e celebram as conquistas uma das outras, é fundamental para quebrar barreiras e alcançar objetivos
Minha trajetória como mulher solteira e sem filhos me ensinou a construir minhas próprias redes de apoio. O processo, embora desafiador, me rendeu grandes aprendizados.
Reconhecer a necessidade de apoio, especialmente em momentos de vulnerabilidade, foi um passo crucial
No trabalho, construí uma rede poderosa entre meus pares e diretores. Estamos há quatro anos dedicando tempo e energia para a formação do que chamamos de “contêiner G6”, uma espécie de rede de apoio formada por seis pessoas
Desde então, temos vivenciado diversos processos de desenvolvimento de conhecimento, propósitos individuais e coletivos, além de descobertas. Manifestamos e declaramos nossos anseios nesse “contêiner”, que é um espaço seguro para compartilhar angústias, inseguranças e celebrar conquistas.
Essa troca genuína me fortalece e me lembra de que não estou sozinha no erro, na síndrome da impostora ou no medo de não ser uma boa líder.
Fora do trabalho, minhas amigas são meu porto seguro. Elas ocupam o lugar de irmãs, oferecendo afeto, cumplicidade e apoio incondicional. Em momentos desafiadores, quando a doença me fez reconhecer meus limites, elas estiveram presentes, cuidando de mim e me mostrando a força da união feminina.
Também faço análise há 10 anos, e esse é outro pilar importante em meu trajeto. É um espaço de autoconhecimento, no qual me conecto com minha força interior e aprendo a lidar com minhas vulnerabilidades. Através dessa abordagem terapêutica, desenvolvi uma profunda autoconsciência, reconhecendo que sou humana, que posso errar e que está tudo bem em pedir ajuda.
Essa jornada me ensinou a importância de construir e nutrir diferentes redes de apoio. Elas me impulsionam, me fortalecem e me inspiram a seguir em frente, buscando sempre o meu melhor tanto na vida profissional quanto na pessoal.