Ao observarmos as empresas que têm mais valor de mercado, identificamos que o uso de dados é a principal referência de crescimento e de transformação digital
Computadores pessoais são de 1980, internet comercial de 1995, cloud de 2005 e mobile (smartphones como computadores móveis) de 2007. Como pessoas, a nossa história e envolvimento com as máquinas de Alan Turing estão cada vez mais entrelaçadas; não há quem não consiga notar. Contudo, na vida de qualquer empresa e setor, apenas em 2011, Marc Andressen, num artigo para o Wall Street Journal, “Why Software Is Eating The World“, descreveu com precisão a relação entre homens e máquinas:
“Cada vez mais empresas e indústrias estão operando por meio de softwares e estão fornecendo serviços online – de filmes à agricultura, até a defesa nacional. Muitos dos vencedores são empresas de tecnologia ao estilo do Vale do Silício, que estão invadindo e derrubando estruturas industriais estabelecidas. Nos próximos 10 anos, espero que muito mais setores sejam disruptados pelo software, com as novas empresas do Vale do Silício mundialmente revolucionando em mais casos”.
A declaração não parecia isenta, despretensiosa, porque Marc na época já era investidor da Anderssen-Horovitz, um veículo de investimentos em empresas de base tecnológica no Vale do Silício. O próprio Marc, aliás, concedeu uma entrevista ao WSJ à época sobre o artigo.
De lá para cá, as empresas de base tecnológica, as que têm software no seu “miolo”, só valorizaram na bolsa americana, substituindo, no topo, as empresas tradicionais (especialmente de manufatura, de óleo e gás, e de fármacos), como mostra a tabela abaixo, adaptada da Bloomberg (2018), com as principais empresas por valor de mercado em diversos anos:
Uma década depois, e impulsionadas pela pandemia, as empresas tradicionais entendem definitivamente que ou o digital (ou seria software) vai para o “miolo”, ou alguma startup vai tirá-las do jogo. Nesse contexto, é importante ver, como o mesmo Marc, explicando o crescimento de investimento em startups de base tecnológica em 2021. As rupturas já aconteciam aos montes. Começou pela indústria fonográfica, mídia impressa, livrarias etc. No entanto, agora, a tal da transformação digital acelerou exponencialmente.
Para as organizações, o problema é que a transformação é mais que uma mudança, pois é mais radical, e precisa vir acompanhada de 3 Bs: big, better and bold. Posto de outro modo: pense na lagarta, ela não muda para uma borboleta, ela se transforma numa borboleta. Contudo, qual o equivalente para uma empresa tradicional? Será que basta trocar o fax pelo e-mail para a tal transformação ser concluída? Ou, atender clientes pelo WhatsApp resolve a parada? O que efetivamente as empresas tradicionais deveriam buscar para continuar competindo na era digital? E não só as grandes empresas, pois as empresas de qualquer porte também são impactadas, e podem influenciar, o processo de transformação digital.
Digitization, digitalization e digital transformation. A gente tem que manter em inglês as palavras, pois não achamos o equivalente em português para os três termos. Apesar de muitas vezes serem usados um em substituição ao outro, os termos em questão não são intercambiáveis, e as definições de digitization e digitalization não são um acordo). Contudo, é importante compreender cada um dos termos a relação entre eles.
Referimos ao termo digitization como a transição de algum tipo de artefato analógico ou físico para um artefato digital. A Digitalization tratamos as mudanças fundamentais feitas nas operações de negócios e modelos de negócio com base no conhecimento recém-adquirido por meio de iniciativas de digitization. Trata-se, portanto, de um processo sociotécnico de aplicação da digitization para contextos sociais e institucionais mais amplos. E o que seria (tem menos acordo ainda o significado de) digital transformation? Segundo Silvio Meira, professor extraordinário Cesar School, a “”Transformação Digital é a destruição criativa, em rede, dos modelos de negócio (tradicionais) provocada pela maturidade das plataformas digitais.””
Humm… então é isso. A transformação (pela destruição criativa) dos modelos de negócio tradicionais. Sim, tradicionais, porque não contam com recursos digitais (digitization), ou processos digitais (digitalization), ou dos dois integrados.
Note bem, as empresas que ocupam o topo da tabela 1 (ou as empresas carimbadas como Uber, AirBnB, Rappi, IFood etc) têm algo em comum em seus modelos de negócios. É um flywheel, ou para os engenheiros, um ciclo de realimentação positiva, digital. Essas organizações são verdadeiros engenhos que capturam continuamente dados do relacionamento com os consumidores, diretamente ou através dos seus produtos ou serviços, ou através de produtos e serviços de terceiros.
Além disso, essas empresas usam os dados coletados para, continuamente, aumentar ou criar valor para seus consumidores, que por sua vez permite o aumento da captura de dados. Ou seja, dados são recursos-chave e trabalhar os dados (inovar por mio deles) é atividade-chave. Fechou? Quem está no topo tem produtos ou serviços digitais, dirigidos por dados, rastreáveis e gerenciáveis (digitalmente claro).
É isso. Esse é o topo. No entanto chegar no topo, partindo de um negócio tradicional, não é nada fácil. Exige a modificação de atividades e aquisição de novas competências. Entretanto, isso é tópico para outra conversa.
Então anota aí: transformação digital é a transformação do modelo de negócio, que passa a ter dados como principal recurso. E se você ainda não chegou nesse estágio é porque ainda não está transformado.
Este artigo foi escrito por Eduardo Peixoto e contou com a contribuição de Hector Paulo de Lima Oliveira, master of sciences, doutorando em engenharia de software na Cesar School. Para saber mais sobre transformação digital, assine nossas newsletters e ouça nossos podcasts sua plataforma de streaming favorita. “