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LIDERANÇA FEMININA 10 min de leitura

Redes de apoio: alicerce para mulheres líderes

É preciso constituir espaços que sustentem e celebrem as conquistas dessas profissionais no trabalho

Amanda Muriel Marangoni
Amanda Muriel Marangoni
25 de fevereiro de 2025
Redes de apoio: alicerce para mulheres líderes
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Quantas vezes você olhou para uma amiga, sua líder ou sua par no trabalho e pensou: como ela consegue?

A máxima da mulher superpoderosa não nos ajuda mais, e talvez nunca tenha ajudado. Vivemos tempos em que “problema bom é problema na mesa”, mas não existe mais espaço para falar sobre esse lugar de mulheres que dão conta de tudo, não se cansam, que são mães, esposas, amigas, filhas, cuidadoras, donas de casa, líderes, executivas, atletas de beach tennis, corredoras de primeira… Estamos cansadas. 

No Brasil e no mundo, o mercado de trabalho ainda apresenta muitos desafios para nós, mulheres, que buscamos “nosso lugar ao sol”. Falamos de disparidades salariais, dificuldades em alcançar cargos de liderança, estereótipos de gênero. Porém, pouco abordamos carga mental e responsabilidade de gestão familiar. 

Você deve estar se perguntando: “gestão familiar”? Sim, isso mesmo. No Brasil, dados do último censo demográfico do IBGE mostram que as mulheres são maioria na população (51,5%). Não por acaso, 48,7% dos lares brasileiros têm mulheres como principais responsáveis pela renda familiar.

Em contrapartida, essas mesmas mulheres convivem com uma desigualdade salarial persistente, ganhando, em média, 78,8% da renda dos homens na mesma função.

Nesse contexto, abordar o tema da rede de apoio se torna um pilar fundamental para o sucesso profissional feminino. E vou além: para o sucesso de 48% das famílias brasileiras, que são lideradas por mulheres.

Neste artigo, o objetivo é trazer para a mesa a calibragem sobre o conceito de rede de apoio, sua importância, como construí-la, o papel das empresas nesse processo e a importância do autoconhecimento. 

O que é rede de apoio no trabalho?

Apesar dos avanços, as mulheres ainda enfrentam obstáculos para alcançar cargos de liderança. Já sabemos que a presença feminina em posições de destaque ainda é baixa, e a pandemia de covid-19 impactou negativamente a carreira de muitas mulheres que tiveram que conciliar trabalho e cuidados com a família. 

Importante precisarmos o que é, de fato, uma rede de apoio.

De maneira prática e nada lúdica, trata-se de um grupo de pessoas que oferecem suporte emocional, pragmático e profissional para outras pessoas. É também um espaço seguro para que possam compartilhar desafios, buscar conselhos e celebrar conquistas.

Trazendo a perspectiva do ambiente de trabalho, esse apoio pode se manifestar de diferentes formas, como mentoria, aconselhamento, compartilhamento de experiências e networking.

Mas, na vida real, as mulheres se sentem suportadas por alguma rede de apoio? Elas sabem o que, de fato, é isso no ambiente de trabalho? Listo, a seguir, alguns modelos de rede de apoio.

Rede de apoio interna:

é formada por colegas de trabalho, líderes, liderados e, principalmente, outras mulheres da empresa.

Rede de apoio externa:

expande a círculo de influência, englobando amigas, familiares, mentoras, ex-colegas e outras mulheres fora da empresa.

Rede de apoio formal:

grupos de afinidade, programas de mentoria e outras iniciativas estruturadas pela empresa.

Rede de apoio informal:

sabe aquele café despretensioso? É isso: conversas informais, encontros de networking e outras formas de apoio espontâneo.

Como construir uma rede de apoio?

Para começar, a mulher líder precisa ter intencionalidade e proatividade para entender quais são as suas necessidades. Isso a ajudará ter um ponto de partida para buscar apoio. 

Cinco lições que aprendi sobre formar uma rede de apoio

  • Autoconhecimento: antes de tudo, é fundamental conhecer-se profundamente. O que a sustenta como ser humano? Quais são seus valores, paixões, talentos e desafios? O que é inegociável? Quais são seus objetivos de carreira? O que a motiva? Em que busca se desenvolver? O autoconhecimento é a base para construir uma rede de apoio que realmente faça sentido para você.
  • Habilidades e competências: traçando uma linha de futuro, onde seus objetivos estão ancorados? Para chegar lá, quais competências e habilidades são indispensáveis? Fazendo uma autoavaliação, o que você precisa desenvolver hoje?
  • Conexões: participe de grupos de afinidade, eventos de networking, programas de mentoria e converse com colegas de trabalho que você admira.
  • Proatividade: não tenha medo de pedir ajuda, compartilhar suas experiências e oferecer apoio a outras mulheres.
  • Relacionamentos cultivados: mantenha contato com sua rede de apoio, ofereça suporte quando necessário e celebrem os sucessos umas das outras.
  • Autoconsciência: você só muda o que sabe que precisa ser mudado. Quando foi a última vez que você se olhou com generosidade e desejou que algo poderia ser diferente e que isso faria sentido para você?

A famosa Pirâmide de Maslow reforça que uma rede de apoio para mulheres no trabalho pode contribuir para o atendimento de diversas necessidades básicas: 

  • Sociais: a rede promove um senso de pertencimento e conexão entre as mulheres, atendendo à necessidade de relacionamentos interpessoais e aceitação e dando abertura para conversas mais profundas sobre dificuldades e colaboração. 
  • Auto-estima: ao receber apoio, reconhecimento e incentivo de outras mulheres, elas tendem a fortalecer sua autoestima e confiança.
  • Autorrealização: a rede de apoio pode ser um catalisador para que as mulheres busquem seu pleno potencial profissional.

E, para além de nós, qual o papel das empresas na construção de redes de apoio?

As empresas têm um papel fundamental no fortalecimento da rede de apoio entre mulheres, criando ambientes igualitários e oportunidades de desenvolvimento para que cada uma possa prosperar.

Ações que empresas podem implementar

  • Criar programas de mentoria: conectar mulheres de diferentes níveis hierárquicos para trocas de experiências e desenvolvimento de habilidades.
  • Promover grupos de afinidade: criar espaços seguros para que mulheres compartilhem desafios e experiências em comum.
  • Incentivar a cultura de apoio: estimular a colaboração, o respeito e a empatia entre as mulheres no ambiente de trabalho.
  • Oferecer treinamento e desenvolvimento: oferecer as condições necessárias para que as mulheres possam desenvolver suas habilidades de liderança e alcançar seus objetivos de carreira.
  • Implementar políticas de igualdade: garantir que as mulheres tenham as mesmas oportunidades de ascensão e reconhecimento que os homens.

O modelo feminino de liderar

Dados preliminares da pesquisa “O modelo feminino de liderar negócios”, realizada pela MIT Sloan Management Review Brasil em coprodução com a Sqreem, sugerem que as mulheres líderes frequentemente são vistas como mais colaborativas, empáticas e focadas em construir consenso. Também se destacam em competências como comunicação, resolução de problemas e capacidade de motivar suas equipes. 

Resultados como esses reforçam a importância da diversidade de gênero em cargos de liderança.

Mulheres trazem habilidades e perspectivas únicas que podem enriquecer o ambiente de trabalho e impulsionar o sucesso das empresas. Não por acaso, estimular a construção de redes de apoio nesse lugar de gestão é de extrema importância para a construção de equipes mais ambidestras e colaborativas.  

O sucesso profissional das mulheres depende muito de uma rede de apoio sólida.
Contar com uma rede de apoio sólida, em que mulheres que entendem os desafios e celebram as conquistas uma das outras, é fundamental para quebrar barreiras e alcançar objetivos

Minhas próprias redes de apoio

Minha trajetória como mulher solteira e sem filhos me ensinou a construir minhas próprias redes de apoio. O processo, embora desafiador, me rendeu grandes aprendizados.

Reconhecer a necessidade de apoio, especialmente em momentos de vulnerabilidade, foi um passo crucial

No trabalho, construí uma rede poderosa entre meus pares e diretores. Estamos há quatro anos dedicando tempo e energia para a formação do que chamamos de “contêiner G6”, uma espécie de rede de apoio formada por seis pessoas

Desde então, temos vivenciado diversos processos de desenvolvimento de conhecimento, propósitos individuais e coletivos, além de descobertas. Manifestamos e declaramos nossos anseios nesse “contêiner”, que é um espaço seguro para compartilhar angústias, inseguranças e celebrar conquistas.

Essa troca genuína me fortalece e me lembra de que não estou sozinha no erro, na síndrome da impostora ou no medo de não ser uma boa líder.

Profunda autoconsciência

Fora do trabalho, minhas amigas são meu porto seguro. Elas ocupam o lugar de irmãs, oferecendo afeto, cumplicidade e apoio incondicional. Em momentos desafiadores, quando a doença me fez reconhecer meus limites, elas estiveram presentes, cuidando de mim e me mostrando a força da união feminina.

Também faço análise há 10 anos, e esse é outro pilar importante em meu trajeto. É um espaço de autoconhecimento, no qual me conecto com minha força interior e aprendo a lidar com minhas vulnerabilidades. Através dessa abordagem terapêutica, desenvolvi uma profunda autoconsciência, reconhecendo que sou humana, que posso errar e que está tudo bem em pedir ajuda.

Essa jornada me ensinou a importância de construir e nutrir diferentes redes de apoio. Elas me impulsionam, me fortalecem e me inspiram a seguir em frente, buscando sempre o meu melhor tanto na vida profissional quanto na pessoal.

Amanda Muriel Marangoni
Amanda Muriel Marangoni
Diretora de planejamento, performance e inovação no Grupo Boticário

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