Cinco perguntas podem ajudar você a transformar radicalmente a lógica da sua empresa rumo à interdependência que caracteriza as empresas mais valiosas do mundo
A interdependência dos stakeholders – ou integração – é um dos fundamentos do capitalismo consciente, um movimento internacional que ajudei a fundar no Brasil em 2013, depois de ser primeiro brasileiro a participar dos encontros globais de CEOs em 2010.
A ideia de interdependência tem tomado bastante o espaço das discussões mais recentes do mundo empresarial. Essa conversa aparece maquiada por diferentes nomenclaturas, como, por exemplo, o “stakeholder capitalism”, proposto no início de 2020 no Fórum Econômico Mundial em Davos. Essa mesma ideia também foi abordada pela Business Roundtable por meio de um manifesto assinado por 183 CEOs e presidentes de empresas americanas que representaram 30% do valor negociado na bolsa de valores de Nova York em 2019. Isso, para mencionar apenas dois eventos mais recentes.
A conversa sobre ecossistema está cada vez mais na pauta, porém o grande desafio é entender como criá-lo e deixá-lo mais resiliente e à prova de crises.
Ecossistema é uma expressão muito usada na ecologia e nas ciências biológicas. Cada vez mais os médicos entendem que uma vida saudável depende de um equilíbrio do ecossistema do nosso corpo. Quando ficamos sujeitos a doenças é principalmente por um desequilíbrio do ecossistema em nosso corpo.
Do ponto de vista do meio ambiente, o mesmo acontece. Estamos vivendo um processo de desequilíbrio ambiental causado pelo aquecimento global. Em uma dimensão menor, existe um caso clássico no Parque de Yellowstone, nos EUA, que teve a sua população de lobos dissipada no século passado porque os animais ameaçavam os visitantes “humanos”. Com a eliminação dos lobos desse ecossistema, uma serie de consequências aconteceram, desequilíbrios entre as cadeias alimentares e, inclusive, problemas de assoreamento dos rios.
Mas, em 1995, quando os lobos foram reintroduzidos no ambiente do parque, um efeito chamado de “cascata trófica” se iniciou. A presença dos lobos mudou o comportamento das gazelas, que deixaram de comer em todos os cantos do parque, o que fez recuperar vegetações, o que permitiu o retorno de diversos outros animais. O ecossistema do parque foi reequilibrado de forma a mudar até os rios do parque. O videodocumentário pela The Nature Foundation apresenta essa incrível transformação.
E por que isso interessa para o mundo dos negócios? Bem, até hoje, grande parte das empresas operaram de maneira independente, como se fossem organizações saqueadoras, extraindo o máximo do ecossistema para benefício dos seus acionistas. Só que isso já não funciona mais. Tanto é que, se olharmos para a pequena lista das empresas que valem mais de US$ 1 trilhão, vemos que elas são um ecossistema. E mais: Amazon, Google e Apple, além do valor de mercado extraordinário, cresceram durante a crise.
Isso demonstra que as organizações que se comportarem como ecossistema terão melhores oportunidades de superar as crises, mas também terão, nas crises, momentos de grande crescimento e fortalecimento de seus negócios e ecossistemas.Os resultados financeiros desstas empresas chega a ser de até sete vezes superior a média de mercado, como apresentamos no livro Capitalismo Consciente – Guia Prático.
Por onde começar?
Antes de tudo, vale dizer que o sucesso das empresas que aplicam uma abordagem sistêmica não começou ontem. Essa é uma jornada de longo prazo, de 10 a 20 anos.A jornada sempre começa com a intenção de resolver um problema, uma causa, um propósito evolutivo, algo que o líder abraça e serve. Não vemos líderes egocêntricos nessas empresas; vemos líderes servidores.
Aqui vem a primeira pergunta: sua liderança serve ao seu interesse próprio ou a um causa, um propósito elevado da sua organização?
E a segunda pergunta aparece encadeada: Qual é o propósito evolutivo de nossa organização? Que problemas estamos resolvendo?
Muitas organizações estão desaparecendo nesse momento de pandemia e quarentena porque perderam a sua relevância. Não atendem a nenhuma necessidade dos seus clientes ou stakeholders.
A terceira pergunta, portanto, é: seu negócio está encolhendo hoje?
Se a resposta for sim, aí você já tem uma dica – sua organização perdeu a relevância. E quase certamente você está longe de ser um ecossistema.
Com um propósito claro e a liderança alinhada para servir a uma causa maior, você precisa agora entender, na sequência, qual é o seu ecossistema.
Daí chegamos à quarta pergunta: quem são os seus stakeholders de ecossistema?
Não adianta apenas ter a lista deles, você precisa entender o que eles querem, criar relações de confiança e gerar valor em múltiplas dimensões com cada um deles. Esse é o passo para caminhar em direção de ser um ecossistema.
Agora vamos para o último nível desse jogo, que é o fortalecimento desse ecossistema – criar uma cultura responsável para que o comportamento de todos stakeholders alavanque o seu proposito evolutivo e crie um senso de pertencimento e engajamento de todos envolvidos.
Vou tornar isso mais claro. Você já viu aquelas pessoas que usam o iPhone ou outros produtos da Apple? Já viu que muitos deles entram nas lojas da Apple mesmo sem a intenção de comprar nada, só para olhar e acabam saindo de mãos vazias? Esse é o sentimento de pertencimento, as pessoas querem estar lá, sentir o ambiente, participar, dizer que são membros dessa tribo.
Então, a quinta e última pergunta é: qual é a tribo que você está criando?
Porque, se for um grupo de pessoas perseguindo metas financeiras, definitivamente não está criando pertencimento. Está apenas aumentando a sua chance de fazer parte de uma lista de empresas do passado.
Já ouviu alguém comentar “gostaria de vender como a Apple”, certo? Assinale (mentalmente) a alternativa que melhor traduz o significado disso em sua opinião:
1. a. Vendedores com camisetas da mesma cor e com logo minimalista da marca no peito?3. b. Vendedores que atendem, verificam o estoque, processam a compra, buscam o produto no almoxarifado e fazem a entrega?4. c. Mesas bem distribuídas no local de venda, que permitem os clientes experimentar os produtos?5. d. Lojas bem iluminadas e bem localizadas?6. e. Nenhuma das anteriores?
Estou convencido de que “vender com a Apple” é consequência de algo muito mais profundo do ponto de vista organizacional; é operar como ecossistema.
Hoje existem muitas discussões mais profundas sobre isso, e sobre como acelerar o processo “ecossistêmico” que levou 10 a 15 anos para estes novos titãs. MEO é o nome dessa abordagem: “Market Oriented Ecosystems” (ecossistemas orientados ao mercado).
Importante: essa orientação somente acontece a partir dos fundamentos do capitalismo consciente. Já se perguntou por que você acorda de manhã para trabalhar? É pela remuneração ou é pela causa? Qual é a causa?
Enquanto você faz sua reflexão, disponibilizo uma ferramenta gratuita que pode ajudá-lo, como o Ativador de Negocios Conscientes.”