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Em busca de um sinônimo para liderança extraordinária

Claudinei Elias, CEO da Bravo GRC, logo percebeu que fazer jus aos tempos extraordinários atuais exigiria dele uma grande mudança. Três paradoxos em especial, relatados neste auto-estudo de caso, ajudaram-no nisso

Claudinei Elias
29 de julho de 2024
Em busca de um sinônimo para liderança extraordinária
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Vivemos tempos extraordinários.

E, antes que o leitor faça um comentário sarcástico do tipo “que novidade“, chamo a atenção para a importância do bom uso das palavras. A dedução imediata é que a travessia de tempos extraordinários requeira líderes igualmente extraordinários no leme. Certo?

Errado. 

Acompanhei de perto – e apreensivo, é claro – as primeiras notícias relacionadas à Covid-19, mesmo antes de a Organização Mundial da Saúde (OMS) tratar o crescimento do contágio do novo coronavírus como uma pandemia. E tive dois insights: (1) o mundo estava mudando mesmo (e provavelmente essa mudança exigiria muita resiliência e respostas rápidas) e (2) mais do que tratar a questão como um caso de saúde pública, era preciso entender os desdobramentos de _tanta coisa nova_ para a saúde mental de cada um de nós. Afinal, estamos falando de perdas: de vidas, de trabalhos, de rendas e outras muitas. 

A partir desses insights, trabalhei na construção de respostas rápidas e resiliência, minha e da minha equipe na Bravo GRC, que é uma empresa de tecnologia e de serviços. Se vale fazer uma espécie de autoestudo de caso, permito-me compartilhar aqui três ações-chave com as quais estou exercendo minha nova prática de liderança – quanto ao home office, à liderança e à comunicação.    Home office: na fragmentação tensa, a leveza unificadora

O home office já era adotado pela Bravo GRC antes, mas, em 16 de março, uma segunda-feira, ele tornou-se obrigatório para todo o time. Antes de tomar essa decisão, promovi alguns testes de adaptação e, óbvio, de entendimento sobre as mudanças de estrutura necessárias para lidar com algo que até o momento não parece ter dia e hora exata para acabar. Desde a implementação do novo modelo, percebi uma certa leveza, que acaba sendo um alento, uma esperança. As reuniões ficaram mais objetivas, a flexibilidade das pessoas aumentou e desmitificou-se a questão da qualidade de vida. 

Deu tão certo, que fica no ar a pergunta: o que será do escritório agora?

Em meio ao caos, implementamos e impulsionamos novas ações com a participação do nosso time. O Bravo Academy, que já era promovido internamente desde o final do ano passado, ganhou uma periodicidade efetiva, com dois ou três temas por mês. E os assuntos não envolvem apenas tecnologia da informação, programação de dados, governança, riscos e compliance. Falamos do mundo. Em abril, por exemplo, apresentei o tema “Dialética em Tempos de Pandemia”. Conseguimos gerar grande engajamento falando sobre algo importante. 

Além das sessões do Bravo Academy, todas realizadas remotamente, são promovidas conversas semanais. Nesses diálogos com todo o time, é possível ouvir os anseios e as dores de cada um. É algo transformador. Para algumas empresas, pode ser inviável pela logística, mas é extremamente positivo dedicar um tempo para ouvir cada um de seus funcionários, desde diretores e gerentes, até analistas e colaboradores mais juniores. Todas as vozes têm muito valor. 

Durante esses bate-papos, nosso time é incentivado a mostrar a sua rotina em casa, apresentando seus filhos, cachorros, gatos e outros pets. Assim, aos poucos, o time vai ficando mais à vontade. Também incentivamos o lazer nos finais de semanas como uma forma de arrefecer a mente. Tudo, lógico, respeitando a “ética” do isolamento social.

Nos nossos bate-papos falamos também sobre arte, abstracionismo, catalogação e grandes coleções de obras de arte, bem como, cinema, música, literatura e esportes. Isso tudo sem onerar o tempo e sem comprometer a entrega. 

Isso é humanidade. Falamos de todos os assuntos, não só negócios e trabalho, porque isso é humano. Aprendemos no trabalho como deveria acontecer sempre em todo tipo de organização, porque isso é humano.

Liderança: em vez de hierarquia, horizontalidade

Tenho plena confiança de que esses tempos extraordinários vão passar. O momento é difícil, mas vamos chegar ao outro lado do rio. Para isso, precisamos olhar para dentro de nós, líderes. 

O papel do líder, neste momento, precisa ser muito mais horizontal. A liderança precisa fazer curadoria e ser menos cartesiana. Por que não usar arte, neurociência, filosofia e psicologia para falar com o seu time? Aquele líder “old school”, com um pensamento e uma atuação verticalizados, perde cada vez mais espaço. 

Com a pandemia, novos modelos e dinâmicas organizacionais são fundamentais, responsabilidades são descentralizadas e uma agenda horizontal precisa estar vigente. 

Isso é humanidade. O líder que olha para dentro de si, que é transparente e genuíno, é o próprio perfil do líder humanizado.

Comunicação: no meio do incêndio, o fluxo constante de água

A comunicação ficou vital. Semanalmente, nossos colaboradores são informados sobre os desdobramentos da pandemia com o suporte de infográficos e comunicados que nos ajudam a nortear o time sobre a continuidade do regime de home office. Aproveitamos esses canais também para dar dicas de como evitar o contágio, sempre reforçando a importância do uso da máscara, da higienização correta das mãos e a questão do distanciamento social. 

Uma ação simples, mas efetiva, é um pequeno exemplo de como buscamos manter o cotidiano dos nossos colaboradores, mesmo modificado (o Novo Normal). Durante a Páscoa, eles costumavam receber, ano após ano, uma lembrança. Neste ano, não foi diferente. Cada colaborador recebeu um cartão virtual e um chocolate em suas casas. Como a grande maioria não estava esperando, tivemos um belo efeito com reconhecimento e agradecimento de todos. E lógico, todos os cuidados de higiene para não comprometer a saúde de nossos profissionais foram tomados para realizarmos essas entregas. 

Outra ação muito importante na primeira semana de home office foi uma conferência, que realizei com todo o time. Nos comprometemos a não demitir, nem reduzir salários. O PLR foi mantido. E, depois, fizemos também a adesão da Bravo GRC ao Movimento #NãoDemita. Mais do que mostrar a resiliência do business, o objetivo é trazer tranquilidade para o time. 

Isso é humanidade. Nada mais humano do que se preocupar com o grupo a que se pertence, já que o ser humano é gregário.

_Isso vai passar?_ _Sim, vai passar._ _E vai transformar cada um de nós_

Vivemos tempos extraordinários. Neles, alguns conceitos parecem cair por terra. Os modelos tradicionais ficaram mais vulneráveis, as empresas de capital aberto sofreram – e sofrerão – mais pressão e os modelos operacionais tradicionais continuarão a enfrentar grandes dificuldades.

E, para lidar com tempos extraordinários, é fundamental liderar com humanidade, tomando medidas como as que tomamos na Bravo GRC, algumas das quais integram nosso plano de gestão de continuidade de negócios (GCN), essencial para garantir a sustentabilidade do business. 

Nestes tempos extraordinários e pós-modernos, adaptar-se às mudanças é tudo. As dinâmicas, sem sombra de dúvidas, precisarão ser repensadas – não é fácil e não é óbvio. No final das contas, essa crise acabou trazendo o lado não cognitivo à tona, porque é uma crise que vai muito além do material.

Se o poeta Fernando Pessoa vivesse hoje, talvez não dissesse “Navegar é preciso!”, e sim “Mudar é preciso!”.

PS: Se você pode, fique em casa e proteja-se! E para aqueles e aquelas (médicos, enfermeiras, coveiros, caminhoneiros, supermercadistas e demais) que estão na linha de frente, trabalhando incansavelmente, meu muito obrigado. Todo texto escrito nos tempos atuais deveria incluir um agradecimento a eles. Crédito da imagem: Shutterstock

Claudinei Elias
CEO e fundador da Bravo GRC.

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