O Índice de Confiança Digital de 2019 caiu em relação ao do ano passado. Os jovens são os mais desconfiados e as mulheres, as que mais se sentem confortáveis com a tecnologia.
É curioso observar os desdobramentos sociais de evoluções tecnológicas. Curioso também é o fato de que esses desdobramentos tocam nossos traços mais primitivos: necessidade de pertencer a comunidades, julgamento e necessidade de se diferenciar dos pares. Olhando ao redor, é fácil perceber o quanto as novas tecnologias transformaram as atividades cotidianas, as profissionais e as relações interpessoais.
Mas nem só de benefícios é feita uma inovação. Enquanto os avanços tecnológicos facilitaram o acesso e disseminação de conteúdos até então isolados em regiões ou grupo sociais específicos, permitindo maior organização, eficiência e produtividade, para muitos, eles tornaram as relações humanas mais superficiais e, cada vez mais, são responsáveis pela exposição da privacidade.
Indicador de Confiança Digital (ICD)
Diante de tantos paradoxos, será que as pessoas confiam mesmo na tecnologia? Para entender esse movimento, ajudei a criar o Indicador de Confiança Digital (ICD). Realizado com o suporte de professores da Fundação Getulio Vargas, e contando com as preciosas análises do SAS Brasil, o ICD busca ilustrar, ao longo do tempo, a perspectiva das pessoas em relação à tecnologia, considerando o impacto de variáveis externas, como mudanças políticas, sociais, econômicas, ambientais ou mesmo tecnológicas nessa relação. O ICD busca, ainda, padrões de comportamento entre grupos de segmento como idade, sexo, região ou renda. É uma pesquisa contínua cujo os resultados são publicados semestralmente, comparando a variação do indicador com desempenhos de mercado, além de mapear qualitativamente os possíveis fatores que levaram às variações.
Na edição 2019.1, o ICD geral foi de 3,22 – o mais baixo desde o início da pesquisa, com uma queda de 3,3% em relação ao ano passado. De 2018 para 2019, os resultados variaram em média 4,41% e apenas duas das sete perguntas melhoraram seu desempenho. O resultado segue em queda contrariando inclusive outros índices sobre consumo e qualidade de vida. O número é resultado de um período marcado por escândalos de vazamento e uso indevido de dados, disseminação de fake news, tensão e polarização nas redes sociais.
Alguns dos destaques do atual relatório, são os fatos de que os jovens continuam sendo os que menos confiam na tecnologia, mais brasileiros sentem-se angustiados e ansiosos por causa do ambiente digital, além de acreditarem que a tecnologia irá reduzir a oferta de empregos. Do outro lado, as mulheres são as que mais se sentem confortáveis com os dispositivos tecnológicos, enquanto adultos e idosos são os que estão mais presentes nas redes sociais por conta da família.
Impactos no mercado
A confiança digital é muito mais do que se sentir seguro para compartilhar informações online; diz respeito à relação de segurança que cada um tem com a tecnologia, em qualquer esfera da vida.
Por isso, é preciso que o mercado se mantenha em consonância com as opiniões e sentimentos que o público está transmitindo nesse ambiente. Estudos como o Indicador de Confiança Digital podem ser usados como uma ferramenta estratégica valiosa, com dados reais, que podem indicar dores, caminhos e soluções, que permitem uma tomada de decisão mais assertiva. Ou seja, com essas informações em mãos, é possível antecipar tendências, facilitar a escolha de públicos para campanhas de comunicação, corrigir detalhes de produtos ou fazer políticas públicas que minimizem essas questões. São informações úteis para a construção de estratégias, campanhas de comunicação e até mesmo definição de modelos de negócio.
Há muito o que aprender e absorver de um recorte temático tão atual e, a partir desses dados, traçar novas estratégias ou dar continuidades às atividades.
Para conferir o ICD 2019.1, acesse aqui.“