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Trabalho remoto: fase 2

Uma previsão razoável tem sido de que 30% a 50% das pessoas farão esquema home office nos próximos anos. Isso terá uma série de implicações, inclusive definir as atividades feitas no escritório tradicional. Já pensou nisso?

Ricardo Cavallini
29 de julho de 2024
Trabalho remoto: fase 2
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O escritório tradicional deveria mudar, e isso não tem apenas relação com o fato de ter menos pessoas ao mesmo tempo.

Dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostram que, antes da pandemia, 5% dos trabalhadores trabalhavam de casa. Ainda que os números peguem uma grande quantidade de profissionais liberais e autônomos que não necessariamente fazem o que chamamos de “trabalho remoto”, o número é muito baixo se pensarmos que estamos em 2020.

Foi o que muitas empresas descobriram agora. Com a pandemia, tirando as exceções de trabalho essencial, todo mundo se viu obrigado a fazer trabalho remoto. E os medos e preconceitos foram por água abaixo quando vimos ser possível trabalhar a distância.

E não acredito que alguém tenha dúvida: vai acabar a pandemia e esse número nunca mais voltará para os 5%. Claro, o lixeiro não poderá recolher o lixo sem sair para a rua. O cirurgião até pode fazer analisar um exame de casa, mas uma cirurgia, não. E há tantos outros exemplos assim. Mas contabilizando todos esses poréns, sabemos que o aumento de trabalho remoto pós-pandemia será grande.

Várias empresas como Twitter e XP Investimentos já afirmaram o desejo de aderir ao trabalho remoto de forma permanente. O Banco do Brasil já anunciou que irá devolver 19 dos 35 edifícios de escritórios que ocupa.

Então, ainda que não chegue perto dos 100%, não seria leviano projetar um trabalho remoto de 30% ou 50% das pessoas para os próximos anos.

Em um primeiro momento, pela questão óbvia da urgência, o foco das empresas foi em viabilizar a mudança radical.

Trataram de coisas como escolher uma solução e ensinar a usar videoconferência, sistemas de compartilhamento de trabalho ou de conversas, bem como VPN e outras preocupações com segurança.

As empresas mais preocupadas com o bem-estar cuidaram de prover cadeiras, computadores e algumas até uma verba a ser gasta de acordo com a necessidade e desejo de cada funcionário.

Mas isso já terá sido plenamente resolvido quando a pandemia acabar. E o velho escritório?

O NOVO ESCRITÓRIO

As empresas que ainda não discutiram o assunto precisarão decidir como será essa divisão: como, quem e quando fará o trabalho remoto?

Como medir resultados, não apenas mudando da cobrança de horas para cobrança de resultado (algo que já deveria ter acontecido), mas acompanhar possíveis problemas como perda de cultura da empresa, integração, processo de onboarding (como inserir um novo funcionário na cultura da empresa) e questões relacionadas à saúde mental dos funcionários.

E por último, mas não menos importante, acredito que as empresas deveriam rever também o próprio escritório.

Passa pela questão mais básica de “”será que o escritório precisa ter a mesma quantidade de metros quadrados””, porém vai muito além disso. Se antes a pergunta era “”o que podemos fazer no trabalho remoto?””, estou provocando os gestores a inverter a pergunta e questionar “”o que faremos no escritório?””.

Por que vamos manter o escritório? Quais serão as atividades? Por quais motivos?

Respondendo essas perguntas, poderíamos fazer outras. Por exemplo, se a questão é simplesmente dar suporte físico a quem não pode (ou não consegue) trabalhar em casa, será que precisamos de um único escritório centralizado ou faria mais sentido ter vários escritórios menores espalhados pela cidade?

Se a preocupação for com relacionamento dos funcionários, mentoria, formar e manter a cultura, a permanência física no escritório deveria ser feito ao mesmo tempo por determinados grupos de pessoas?

E a arquitetura e decoração, deveria mudar? Em algumas empresas, talvez a maior importância do escritório seja relacionamento com clientes e prospects. Neste caso, seria um escritório convencional ou seria mais produtivo montar um café?

Poucos talvez se atentem, mas o escritório tradicional também deveria mudar. É a provocação que eu deixo para vocês discutirem.

Crédito da imagem: Shutterstock”

Ricardo Cavallini
Ricardo Cavallini é um dos pioneiros do movimento makers no Brasil, professor da Singularity University Brasil, embaixador da MIT Sloan Review Brasil e autor de vários livros sobre marketing digital.

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