Com isso, a indústria alimentícia brasileira tem várias oportunidades de agregar valor aos clientes e aos acionistas, mas seus gestores precisam entender melhor o que está acontecendo
No mundo, cerca 8% da população se declara vegetariana. São aproximadamente 625 milhões de pessoas que declaram não consumir proteínas animais como carne bovina, suína, de frango, de peixes e outros. Esse número pode ser ainda maior se considerássemos as pessoas que praticam dieta vegetariana não por opção, mas por falta de recursos financeiros.
Além do número ser grande, os vegetarianos por opção no mundo vêm crescendo consistentemente e, como no caso brasileiro, a passos largos. Apesar da Índia ser o país que lidera o ranking, com cerca de 31% da sua população sendo vegetariana, o Brasil também apresenta um grande percentual de sua população que não consome nenhum tipo de carne. No último ano, uma pesquisa apontada pelo Ibope, mostrou que 14% dos brasileiros e brasileiras, aproximadamente 30 milhões, se declaram vegetarianos por opção. Essa estatística representa um incremento do número de vegetarianos de 75% nos últimos 8 anos em nosso país. Esse cenário de crescimento aponta uma tendência importante para as empresas de alimentos no mundo e, principalmente, no Brasil.
Para entrar nesse mercado em franco crescimento, é preciso que os empresários entendam o perfil desses consumidores. O primeiro aspecto deste perfil é sobre as categorias, ou níveis, nos quais esses consumidores se enquadram. Não se pode classificar todas as pessoas que não consomem carnes apenas como vegetarianas, pois existem algumas variáveis a serem consideradas.
• Os veganos, por exemplos, representam o nível mais restritivo de consumidores, pois eles não consomem ou adquirem qualquer produto de origem animal. O veganismo é também considerado um “estilo de vida”.• Já os ovolactovegetarianos são aqueles vegetarianos que aceitam em suas dietas ovos e lácteos, seguindo um regime muito menos restritivo.• Os lactovegetarianos, por sua vez, aceitam produtos lácteos em sua alimentação.• Finalmente, os vegetarianos são aqueles que não consomem carnes, ovos e lácteos.
Mas, quais os principais motivos que levam esses consumidores a adotarem a nova cultura? As razões pelas quais as pessoas adotam a cultura do vegetarianismo variam bastante, sendo as principais:
– Religiosa: Há consumidores praticantes de religiões que restringem o consumo de carne como o hinduísmo. Esse não é um fator de grande relevância no Brasil, onde a religião predominante é a católica. Entretanto, é de grande importância na Índia, que é berço de mais de 50% dos vegetarianos no mundo.
– Consciência sobre todos os seres vivos: Em meados do século 18, alguns pensadores deram ênfase à preocupação com o bem estar dos seres vivos. Esse movimento cresceu nos séculos seguintes e hoje, é uma das grandes razões do vegetarianismo. Muitos dos consumidores que não consomem carne, o fazem pensando no bem-estar dos animais.
– Sustentabilidade: alguns estudos da FAO (Food and Agriculture Organization da ONU) e da WWF (World Wild Fund for Nature) mostram que a produção de carne bovina, suína ou de aves, impacta fortemente no consumo de água e na emissão de gases de efeito estufa. Esses impactos ambientais são a razão pela qual alguns dos consumidores aderem ao vegetarianismo.
– Saúde e bem estar: Esta é uma das principais causas pela qual os novos vegetarianos alegam ao aderir a esta cultura. Há pesquisas, médicos e outros profissionais da área de nutrição e saúde que recomendam uma dieta menos carnívora como forma de aumentar a saúde e longevidade das pessoas.
Oferecer produtos vegetarianos requer das empresas adequações em suas linhas produtivas, marketing e, até mesmo em seus canais de vendas. As empresas que aderem a esta oferta, precisam incluir estes perfis de consumidores em seu plano de negócios e reforçar a importância em desenvolver produtos que criem e entreguem valor a estes consumidores. Esta não é uma tarefa simples e requer, na maioria das vezes, grandes esforços e foco do time de pesquisa e desenvolvimento (P&D).
Aqui no Brasil, algumas das grandes empresas já se adaptaram e estão oferecendo produtos vegetarianos e veganos, como opção à tradicional proteína animal. Algumas dessas grandes empresas são a Seara, a Nestlé, a Unilever e a Vigor. Alguns dos produtos inovadores e em circulação no mercado são: a linha de hambúrgueres vegetais feitos, por exemplo, com proteína de soja e trigo, mas com sabor similar ao de carne; iogurtes e queijos com base vegetal ao invés de leite; sorvetes não lácteos. Há alguns anos, os consumidores precisavam buscar estes produtos em lojas especializadas, mas hoje estas opções são oferecidas também nas redes tradicionais supermercadistas.
A escalabilidade da produção de produtos vegetarianos tem um outro benefício que vai além da acessibilidade aos consumidores. À medida que estas organizações se especializam e aumentam suas produções, o custo de produção é reduzido por dois efeitos principais. O primeiro é a diluição dos custos fixos fabris. O segundo é pelo ganho de eficiência que suas unidades fabris desenvolvem ao longo do tempo.
Para a indústria brasileira, o vegetarianismo é uma grande oportunidade de agregar valor aos clientes e aos acionistas. O Brasil é um país que possui recursos naturais em abundância, expertise na produção de alimentos e as grandes corporações instaladas no país possuem equipes de P&D muito bem preparadas.
Além de tudo isso, o Brasil é um mercado em expansão para o vegetarianismo, e que tem muita demanda ainda a ser atendida. As organizações precisam mudar sua mentalidade e adaptar seu modelo de negócio rapidamente para o valor que esse mercado pode oferecer.”