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Negócios e IA: hype ou valor real para minha empresa?

Mais de 58% das empresas pesquisadas em seis países da América Latina acreditam no potencial transformador que a IA pode trazer aos negócios e processos

Angela Miguel
Negócios e IA: hype ou valor real para minha empresa?
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Empresas pelo mundo têm utilizado inteligência artificial (IA) em diversas frentes, como na redução de congestionamentos em megalópoles, na diminuição o número de acidentes veiculares, na predição de hábitos de compra e envio de produtos aos clientes, na captura e remoção de conteúdo impróprio para menores e na automatização e controle de estoques. Para todas elas, a adoção da IA foi uma das responsáveis por modificar por completo a forma com que as companhias se relacionavam e entregavam valor aos seus clientes.

No entanto, embora não exista dúvida no mercado atual que a IA tem o potencial de revolucionar negócios em todo o mundo, muitos empresários brasileiros não sabem como dar o passo inicial para isso ou como mensurar tal influência. Essa foi uma das questões levantadas pelo estudo [Inteligência artificial em empresas latino-americanas – uma visão geral da adoção e tendências da região](about:blank), realizada pela everis, consultoria de negócios e TI do Grupo NTT DATA, em parceria com o MIT Tech Review em espanhol.

Com o objetivo de apontar os aspectos estratégicos desta adoção e seu potencial para auxiliar na transformação digital (e também nos resultados) dos negócios da América Latina, foram entrevistados mais de 40 diretores e cem executivos que lideram a adoção de IA em suas empresas, todas com mais de 1 mil empregados e receitas superiores a US$ 100 milhões na Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, México e Peru.

Uma revolução em curso

Dos entrevistados pertencentes aos seis países, mais de 58% acreditam que a IA pode revolucionar sua organização, assim, admitem que há um grande potencial para explorar a tecnologia. Por outro lado, apenas 2,5% disseram que não veem todo esse impacto que a IA pode ter nos negócios.

O problema é que, de acordo com os resultados, 53% das empresas entrevistadas não possuem qualquer tipo de aplicação relacionada à IA e apenas 23% desenvolveram um modelo piloto ou, pelo menos, uma função ou unidade de negócios ligada à IA.

Esses números mostram que sua adoção ainda é limitada e está reservada, em geral, a empresas que já estão inseridas no ramo de tecnologia. Ainda que as organizações da região estejam nos primeiros estágios de implementação de IA, essas aplicações acontecem em projetos pontuais, não de maneira transversal. Já a respeito de departamentos específicos, finanças e telecomunicações aparentam estar em um nível mais avançado em relação à utilização da IA, quando comparadas com áreas como varejo e manufatura.

De acordo com Ivan Brum, diretor de data & analytics na everis, a IA não é mais algo de difícil compreensão ou um bicho de sete cabeças. Inclusive, o executivo destaca que os bancos são bons exemplos de negócios que investem em IA e gostam de anunciar ao público esse esforço, caso de assistentes inteligentes que facilitam o atendimento dos clientes. No nível regional, o Brasil lidera a implementação da IA, seja em investimentos, nos recursos ou na diversidade de aplicações, principalmente porque possui uma economia mais forte e empresas estabelecidas que já investem na área.

“Temos cases interessantes no Brasil, principalmente relacionados a startups e a negócios tradicionais que estão se reinventando e divulgando seus trabalhos. Os grandes bancos já possuem IA em seus sistemas, gerando um contexto muito positivo mesmo para quem tem medo de arriscar nesse tipo de tecnologia nova, pois há referência, oferta de serviço e profissional especializado”, avalia Brum.

O executivo da everis continua: “a globalização faz com que o conhecimento circule pelo mundo, organizações que trabalham com ciência de dados e algoritmos de machine learning fazem cadeias de troca de informações, o que ajuda a aumentar a demanda real de negócios, e esse movimento fomenta o mercado.”

Para acelerar a revolução

Ainda é difícil dizer quando a América Latina estará na vanguarda da IA ou preparada para a adoção generalizada da tecnologia em seus diversos setores da economia. Mas há espaço de sobra para aplicá-la, principalmente em soluções e produtos que auxiliem na diminuição das desigualdades econômicas e sociais características da região. 

Todavia, se toda revolução tem início com a quebra de algum tipo de situação estabelecida ou acordo, as empresas estão bem cientes dessa ameaça, especialmente em relação a parâmetros financeiros, conforme afirma o diretor de data & analytics da everis.

“A IA está relacionada a uma ciência, e essa ciência requer investimento e exige que você esteja preparado para acertos e erros. O líder da empresa que tomará a decisão de implementar uma IA para melhorar algo na estrutura, seja no relacionamento com o cliente, no processo produtivo ou numa etapa interna, precisa estar pronto para arriscar e investir, sem ter certeza do retorno. Todo investimento em IA precisa levar em conta a questão do risco versus a certeza do benefício, há uma dubiedade e o retorno nunca é tão certo ou tão fácil assim”, pondera o executivo.

Os números trazidos pelo estudo da everis indicam essa cautela: 60% das empresas pesquisadas afirmaram que têm um longo caminho a percorrer para adotar a IA em seu dia a dia. Dessas, 38% confirmaram os benefícios que a IA pode trazer às organizações, mas ainda não iniciaram os trabalhos com a tecnologia. Da mesma forma, 22% dos participantes da pesquisa compartilharam que suas empresas ainda não estão maduras em relação ao uso ou à adoção da IA.

“Percebemos que a adoção depende de uma série de fatores, especialmente que a cultura de IA seja inserida nas organizações. E quando falamos em cultura, o que quero dizer é: o que eu posso fazer hoje que eu não conseguiria fazer nunca com o trabalho ou com as tecnologias convencionais? É aí que entra a inovação. É dever das empresas estar de olho no que acontece, no que outros países têm desenvolvido, em aprimorar nossos desenvolvimentos, em encontrar o apoio das lideranças, o suporte de quem paga a conta. Mas o passo inicial ainda é inserir essa cultura na empresa”, decreta Ivan Brum.

Confira mais artigos sobre inteligência artificial nos Fóruns MIT Sloan Review.”

Angela Miguel
Angela Miguel é editora de conteúdos customizados na Qura Editora para as revistas MIT Sloan Management Review Brasil e HSM Management.

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