Exemplos nacionais e internacionais mostram que é possível gerar oportunidades para desenvolver novos modelos de negócio, reconfigurar empresas, mercados, ecossistemas, além de criar cadeias de consumo, por meio da transformação digital
“Para entender a transformação digital é necessário compreender que ela é composta por três diferentes estágios: (1) digitização, voltada à conversão da transformação analógica em formato digital; (2) digitalização, quando as empresas aplicam tecnologias digitais para otimizar processos de negócios existentes; (3) e a transformação digital em si.
No caso da digitização, ela permite codificar a informação de modo que os computadores possam armazenar, processar e transmitir determinada informação. Já a digitalização é a forma como as tecnologias digitais são usadas para alterar processos de negócios existentes, permitindo uma coordenação entre métodos mais eficientes e criando um valor adicional para o cliente.
Bons exemplos disso são os novos canais de comunicação online ou pelo celular, que permitem que o consumidor se conecte facilmente com as instituições, mudando a forma como tradicionalmente era realizada essa interação. Assim, a digitalização não é tão focada em redução de custo, como a digitização, e inclui mudanças que podem aprimorar, consequentemente, a experiência do usuário.
A transformação digital é a fase mais profunda do processo, na qual envolve uma mudança mais abrangente na instituição e que leva, inclusive, ao desenvolvimento de novos modelos de negócio. São diversas as implicações organizacionais ocasionadas pela transformação digital, especialmente porque o modelo de core business da empresa pode ser modificado por meio do uso de tecnologias digitais.
Toda essa abordagem traz vantagens competitivas, uma vez que há uma mudança na estrutura da instituição e sua forma de fazer negócios, além de permitir que a companhia entre em novos mercados, interaja com fornecedores, clientes e competidores em um formato totalmente novo.
As metas também refletem a maturidade da organização. Se a instituição ainda está em uma fase inicial de digitização, por exemplo, os objetivos podem estar atrelados à redução de custo, tornando as atividades já existentes mais efetivas. Agora, quando a companhia passa para a fase de digitalização, é possível trabalhar metas de aumento de receita, justamente porque há melhorias na experiência do cliente.
No mais, quando finalmente a empresa passa por um processo de transformação digital mais robusto, é possível implementar metas relacionadas ao novo modelo financeiro, já que houve uma reconfiguração dos ativos para desenvolver o novo modelo de negócio.
Existem inúmeras estratégias para o crescimento digital, mas a mais proeminente envolve o uso de plataformas — tática comum também nas fases mais profundas da mudança digital. É importante dizer que uma característica única das empresas dentro deste perfil diz respeito aos números expressivos de crescimento.
O Google, por exemplo, cresceu, em um período de 17 anos, a uma taxa de 50% ao ano, passando de um bilhão de buscas, em 1999, para dois trilhões, em 2016. Já o Facebook teve um crescimento de usuários em torno de 25% ao ano, no período de 2009 a 2017. Existem muitos fatores por trás desses números, mas os principais têm a ver com a escalabilidade das plataformas e os efeitos de fortalecimento de rede.
Com relação às estratégias em si, podemos falar da penetração e do desenvolvimento de mercado. Para se ter ideia, 30% dos usuários da Netflix, por exemplo, não assistem TV e, ainda assim, tornaram-se clientes do streaming, que funciona de maneira televisionada ou por meio de outros dispositivos (às vezes, isso abre portas para novos mercados como, por exemplo, o de smartwatches, criado pela Apple).
As plataformas digitais permitem, inclusive, que usuários externos cocriem valores de maneira ativa quando recebem autoridade para desenvolverem certas atividades. Desse modo, o sistema de avaliação existente também tem a ver com essa estratégia, como acontece nos websites de viagens do Tripadvisor e Booking.
Por último, podemos olhar para a possibilidade de crescimento de grandes plataformas, buscando mercados ainda inexplorados de novos produtos, por meio da diversificação.
Temos muitos exemplos de cases reais de transformação digital no mundo, como o da Amazon, que se tornou a segunda maior varejista do mundo, atrás apenas do Walmart, sem possuir nenhuma loja física; o Airbnb, que é o maior provedor de hospedagem do mundo, sem ao menos possuir um hotel; a Uber, que é a maior companhia de táxi do mundo e não conta com nenhum carro; e, por fim, o Facebook, que é o provedor de mídia mais popular do mundo e não produz nenhum conteúdo.
No Brasil, temos o case da Natura&Co, que desenvolveu e integrou um conjunto de soluções digitais e móveis que faz o networking dos clientes com as consultoras, gerentes internos de vendas e com o sistema de gestão da rede. Por meio do aplicativo, essas empreendedoras são conectadas com gerentes de vendas internos da marca, o que auxilia em todo o processo de desenvolvimento e aprendizado delas, como a realização de treinamentos, negociação de boletos, entre outras atividades.
Além de parcerias com startups brasileiras para criação de um sistema de machine learning para otimização da análise dos dados, a companhia busca, ainda, aprimorar a eficácia de cada empreendedora, melhorando, assim, não apenas os resultados na empresa, mas, também, a vida dessas profissionais, uma vez que são gerados novos benefícios para essas parceiras.
Vale reforçar que o desenvolvimento de produtos da Natura passou de um time-to-market, com tempo de desenvolvimento de mais de seis meses, para entregas semanais, e possibilidades de mudar a direção de desenvolvimento de forma quase que instantânea com esse aprendizado e grandes dados disponíveis de forma imediata. Hoje, a companhia conta com mais de 1 milhão de e-commerces individuais ativos (por consultora), um excelente case brasileiro de empresa que mudou seu modelo de negócio como resultado da aplicação da transformação digital.
A transformação digital é uma realidade no presente e futuro no mundo todo. É uma das principais forças de inovação atualmente, sendo necessário o olhar atento das empresas a este tema, além da preparação para absorver conceitos, aplicando-os em seus modelos de negócios e garantindo sua existência no novo mundo que se apresenta.””