Relatório What’s Next 21 (Direção 2030) detalha tendências voltadas às práticas humanistas e de solidariedade ao longo da próxima década, combinando, ainda, singularidade, biotecnologia e processos contínuos de aprendizado e urbanização
“Foi recentemente apresentado, em outubro de 2021, um relatório de tendências atualizado para década, produzido pela Inova Consulting, sob o nome de What’s Next 21 (Direção 2030). De modo geral, o relatório enumera em diversas perspectivas as tendências de um futuro próximo.
Antes de nos aprofundarmos sobre o tema neste artigo, ressalto que o relatório completo está disponível para download. A apresentação do relatório pode ser vista no Youtube. Para complementar esse rico material sobre as tendências para a próxima década, é possível conferir ainda um curso gratuito sobre o relatório.
Adiante, discuto neste artigo os principais pontos do relatório, que já é um dos mais relevantes conteúdos que a gestão tem utilizado ao longo dos anos, desde o primeiro da série, publicado em 2018.
Em síntese, O What’s Next 21 (Direção 2030) é o guia da Inova Consulting para apoiar a visão estratégica dos negócios e a decisão das empresas, suportada pela visão do futuro.
A recente mudança gerada pela pandemia iniciada em 2019 mostrou a importância de olhar o futuro, uma vez que várias empresas conseguiram, apesar do impacto global, resistir, atravessar e crescer num contexto extremamente volátil e incerto. Além disso, milhares empresas enfrentaram — e muitas ainda enfrentam — extrema dificuldade em navegar no contexto atual.
No mais, é necessário esclarecer que a estruturação deste relatório considera uma visão ampla e global da realidade atual e da perspectiva futura com algumas novidades:
1.A inclusão do conceito principal da década: main concept;
2.A estruturação de seis forças motrizes que influenciam a realidade e direcionam as tendências;
3.O tripé de tendências influenciadoras do futuro (megatendências, tendências comportamentais e tendências de negócio);
4.A ausência das tendências emergentes que, fruto da velocidade do mundo, passaram a ser integradas nas classificações anteriores indicadas em 3;
5.A inclusão da variável designada de wild cards, que lança uma nova fonte de mudança muitas vezes inesperada (com pandemias, tsunamis, terremotos, ataques terroristas, etc.), é capaz de alterar o rumo do contexto. Fruto da quarta revolução industrial, e do mundo conectado, a velocidade de mudança é (e será) cada vez maior;
A visão geral do What’s Next 21 (Direção 2030) e o resumo dos pontos principais de cada tema e tendência, 78 no total, estão descritos na página 33 do relatório.
1. Conceito principal: a singularidade é a hipotética criação futura de máquinas e humanos superinteligentes
Superinteligência é definida como uma capacidade cognitiva criada tecnologicamente muito além do possível até agora para os humanos. Quando a singularidade se massificar, a tecnologia avançará além de nossa capacidade de prever ou controlar seus resultados.
A partir dessa perspectiva, o mundo será transformado além do reconhecimento pela aplicação da superinteligência aos humanos e/ou problemas humanos, incluindo pobreza, doenças e mortalidade. Espera-se que as revoluções tecnológicas e biológicas estabeleçam as bases para a singularidade.
De acordo com a teoria da singularidade, a superinteligência será desenvolvida por computadores com capacidade de direcionarem a si mesmos). Essa superinteligência aumentará exponencialmente, em vez de incrementalmente, sendo acompanhada na mesma velocidade pela evolução exponencial dos seres humanos.
A singularidade, assim, representa a evolução da sociedade da informação para a sociedade da superinteligência, também definida como sociedade 5.0 ou da quinta revolução industrial.
Infotech: basicamente, a Infotech (definida como information technology) ou tecnologia da informação, representa o uso de computadores para armazenar, recuperar, transmitir e manipular dados ou informações. Com a massificação da quarta revolução industrial, a tecnologia tem liderado uma evolução nunca antes assistida, nem mesmo prevista.
Essa revolução tecnológica tem sido liderada pela conectividade, à qual se junta o poder computacional, que inclui inteligência artificial, machine learning, etc. e a proliferação de dados (comumente conhecido como big data, que também considera segurança de dados, criação, distribuição e exposição de e aos dados) com todos os impactos que se têm conhecido — os bons e os menos bons.
Biotech: definida como biotechnology, ou biotecnologia, essa revolução representa uma ampla área da biologia, envolvendo o uso de sistemas vivos e organismos para desenvolver ou fazer produtos. Dependendo das ferramentas e aplicativos, muitas vezes se sobrepõe a campos científicos relacionados.
No final do século 20 e no início do século 21, a biotecnologia se expandiu para incluir novas e diversas ciências, como genômica, técnicas de genes recombinantes, imunologia aplicada e desenvolvimento de terapias farmacêuticas e testes de diagnóstico. O termo “”biotecnologia”” foi usado pela primeira vez por Karl Ereky em 1919, significando a produção de produtos a partir de matérias-primas com a ajuda de organismos vivos.
1. Tecnologia e conectividade: as evoluções em tecnologia e conectividade já traziam amplos benefícios para o dia a dia das pessoas de diferentes formas. O contexto atual de pandemia (e para o pós-pandemia) acelerou ainda mais o papel fundamental da tecnologia e da conectividade para que todos continuem as suas rotinas pessoais e profissionais da melhor forma possível.
Assistimos diversas empresas, de segmentos distintos, se adaptarem rapidamente para possibilitar, por exemplo, alternativas de trabalho remoto, equilibrando a entrega com a saúde de seus funcionários e familiares.
Além disso, automação, robótica e as ferramentas de inteligência artificial já estão mudando a natureza e o número dos trabalhos disponíveis, alterando as oportunidades que se apresentam no presente e no futuro.
A tecnologia tem o poder de melhorar a qualidade de vida, aumentar a produtividade, a expectativa de vida e libertar as pessoas para se focarem em funções não operacionais. No entanto, esse fenômeno também traz as ameaças ao nível social, político e econômico caso não se atinja o equilíbrio entre as mudanças. Indiscutivelmente essa é a maior força que direciona o presente e o futuro dos negócios, bem como o comportamento humano.
2. Ambiente e clima: atualmente, as condições climáticas estão sendo mais pautadas do que nunca. A subida do nível da água do mar, as secas e as inundações, o aquecimento e arrefecimento global, a poluição atmosférica e as alterações climáticas, em geral, levam à transformação dos nossos ecossistemas e do nosso planeta.
Isso afeta o desenvolvimento, a saúde, a produção e a utilização dos recursos naturais; e vale lembrar que um conjunto amplo de impactos talvez não tenha sido totalmente e devidamente mapeado.
As mudanças climáticas podem (se nada for feito) potencialmente acelerar catástrofes humanitárias, alimentar uma série de conflitos e tornar partes do planeta inabitáveis. É essencial que todos contribuam para a prevenção de mais mudanças climáticas.
Não é segredo que a prevenção poupa vidas e valores, reduzindo a necessidade de apoio humanitário quando uma catástrofe ocorre e apresenta-se como algo crescente na agenda da sociedade civil, que consequentemente aumenta a sua pressão sobre líderes (políticos e empresariais) na exigência de ações concretas para reduzir as suas consequências e impactos.
A procura por energia e água deve aumentar em 50% e 40% respectivamente até 2030. Novos trabalhos em energias alternativas, engenharia de processos, design de produtos e gestão de desperdícios serão necessários para gerenciar e reutilizar os resíduos para lidar com essas necessidades. As indústrias tradicionais de energia, e os milhões de pessoas empregadas por elas, sofrerão uma rápida reestruturação.
3. Política e economia: o impacto da pandemia revelou-se intenso no tema da política, e não foram menos pesadas as consequências na área socioeconômica. Mudanças são enfrentadas no trabalho, na produção, no consumo e na própria forma de se conviver em sociedade.
Desde que a crise emergiu, houve impactos no circuito global de produção e circulação de todo tipo de bem, afetando o fluxo do comércio internacional e a gestão da cadeia de suprimentos. Governos enfrentam o desafio de amenizar o aumento do desemprego e a queda na renda disponível, promovendo auxílios às famílias e às empresas atingidas pela crise, ante o quadro de crescente aumento do endividamento público.
Viveu-se uma queda expressiva no PIB em 2020 ao nível global, configurando cenário de dura recessão, mas com perspectivas claras e efetivas de recuperação nos próximos anos, em todo o planeta, podendo-se acreditar em sólida recuperação econômica.
Esse cenário, sem dúvida, contribuirá para o fortalecimento da urbanização crescente. Até 2030, a ONU projeta que 4,9 bilhões de pessoas serão urbanas, e até 2050 a população urbana do mundo aumentará 72%. Hoje, a maioria das grandes cidades já tem crescimento superior a uma grande parte dos países médios.
Nesse novo mundo, as cidades serão importantes agentes de criação de outros/novos empregos. Fruto de uma conscientização mais apurada das pessoas sobre a sua real influência na sociedade e no mundo, a atenção tem-se virado também para a atuação política com efetiva busca por mudança nos sistemas políticos e econômicos vigentes.
As nações em rápido desenvolvimento (particularmente os países com uma grande população em idade ativa) que adotarem um espírito de negócios, conseguirem atrair investimentos e melhorarem a sua educação, são, certamente, as nações que terão mais sucesso. A erosão da classe média, disparidade de riqueza e perda de empregos, devido à automação em larga escala, poderá aumentar o risco de agitação social nos países desenvolvidos.
4. Social e humano: temos mais gente no mundo, vivendo mais tempo entre os impactos gigantes na transformação da sociedade e dos negócios. Com algumas exceções regionais, a população está envelhecendo, colocando pressão nos negócios, instituições e na própria economia.
A expectativa de vida vai afetar modelos de negócio, ambições e custos de pensão. Trabalhadores mais velhos precisarão de novas competências para trabalharem mais tempo. O lifelong learning será a norma, e a falta de mão de obra humana, em diversas economias em rápido envelhecimento, impulsionará a necessidade de aprimoramentos de automação e produtividade.
A situação que o mundo viveu recentemente, de isolamento conjugada com a crescente consciência social, trouxe à tona a valorização do humanismo e da solidariedade com o próximo. Um dos legados desse momento do mundo será o de maior consciência e preocupação com o outro, dando sentido à expressão: o futuro do ser humano é ser humano. Esse é o papel de cada um de nós, e essa obrigação também só aumenta daqui para a frente na busca de um mundo melhor.
5. Saúde e bem-estar: a grave crise sanitária global deflagrada no início de 2020 vem provocando incontestáveis desafios à área da saúde. Face a milhões de pessoas doentes, inúmeras e lamentáveis mortes, uma literal corrida em busca de vacinas, medicamentos eficazes e de infraestrutura para atendimento aos doentes, as empresas farmacêuticas, centros de pesquisa, cientistas, hospitais, universidades, profissionais da área da saúde, laboratórios e governos, em todo o planeta, estão se mobilizando.
Em decorrência de fatos e contingências que vivemos nos últimos dois anos, observa-se de maneira inédita um estímulo para práticas colaborativas entre nações em diversos níveis: agentes econômicos (públicos e privados) ampliaram o fluxo de troca de informações sobre a crise, de investimentos transnacionais, de compartilhamento de pesquisas e descobertas científicas em busca de respostas coletivas e eficazes ao grave momento.
Ao redor do planeta, práticas humanitárias e de solidariedade ganham força e relevo como “pano de fundo” da tragédia global em curso. E a humanidade, vivenciando uma crescente expectativa de vida, aumentou a sua consciência por práticas de vida mais saudáveis, privilegiando atividades e comportamentos que antes não tinham tanta dedicação e alocação de recursos: busca por alimentação saudável, prática de exercício físico e envelhecimento com qualidade, alterando até a forma como encaram carreira e trabalho.
6. Educação, empresas e negócios: a gestão das empresas tem sido, até hoje, influenciada pelos princípios de gestão criados na segunda revolução industrial, princípios esses baseados na produção em massa, que se alcança graças ao conceito de divisão de tarefas e ao uso da energia elétrica.
O primeiro exemplo conhecido foi o da primeira correia transportadora em um matadouro em Cincinnati, no ano de 1870. Desde essa altura que as regras de funcionamento das empresas (com os normais ajustes) não sofreram grandes questionamentos nem alterações significativas, mantendo-se fiel aos princípios de Taylor, Fayol e Ford.
Por dois séculos, a gestão tem sido baseada na hierarquia de decisões e funções, com elevado foco na cadeia de valor e atenção máxima ao produto, numa clara visão construída “de dentro para fora”.
Apesar das diferentes mudanças que o mundo tem vivido, nomeadamente no início do século 21, as empresas têm resistido a alterar o seu modo de atuar e de pensar. Modelos mentais engessados no passado, e crenças culturais do século passado, têm bloqueado a evolução e a transformação dos negócios, condenando empresas um pouco pelo mundo.
Adiante, é necessário lembrar que a educação é um dos meios mais importantes para o desenvolvimento de uma sociedade. Por meio da educação, produz-se conhecimento e, assim, todas as esferas de um país desenvolvem-se.
A educação vai além da educação formal nas escolas, abrangendo também os âmbitos familiar e social. E no contexto de elevada transformação, a necessidade de uma educação continuada e atualizada é um dos pilares importantes (se não o mais importante) na evolução da sociedade e dos negócios.
Em continuidade, fruto também do já referido contexto pandêmico, os modelos de gestão, e consequentemente os negócios e as empresas, têm sido envolvidas numa nova realidade de acelerada transformação.
Dessa forma, reforçamos o convite para acessar o relatório na íntegra) para que você possa utilizar o seu conteúdo para a reflexão estratégica e na tomada de decisão na gestão do seu negócio e carreira.
Vale explicar, por fim, que para cada força motriz existe um grupo de três megatendências, cinco tendências comportamentais e cinco tendências de negócio, num total de 78 tendências que fortalecem a visão da gestão para o presente e para o futuro.
A utilização desse material reduz a incerteza e a ambiguidade face ao futuro e, sobre esse tema, trataremos dos diferentes capítulos nos próximos artigos.
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