A tecnologia deixou de ser uma “promessa do futuro” e agora é uma realidade. Ainda há desafios a serem superados, mas o que a realidade estendida entrega hoje já é suficiente para que seja usada – e testada – pelas organizações
Há muitos anos falamos sobre tecnologias que envolvem a realidade estendida – o mundo composto pelas realidades aumentada, virtual e mista – e como suas aplicações poderiam ser importantes ou até mesmo imprescindíveis num futuro próximo. Mais de dez anos atrás escutávamos que esse futuro seria hoje, 2023. Mas, após a chegada do termo metaverso, houve uma sensação de euforia e posterior receio de que seja apenas um “hype” sem aplicabilidade em nosso mundo atual. Com isso, veio a sensação de que a realidade estendida continua sendo uma tecnologia “do futuro”.
Será mesmo?
Para uma tecnologia “pegar”, ela precisa ter custo acessível, ter aplicação fácil e, claro, fazer melhor o que já fazemos – ou, cenário ideal, fazer o que não éramos capazes de fazer.
O que acontece com a realidade estendida é que ela ainda não conseguiu superar as barreiras citadas acima, num âmbito de uso pessoal. Por enquanto, os óculos são inacessíveis para a grande maioria da população. O novo modelo da Apple, lançado recentemente, será comercializado em janeiro por US$ 3.499. O Quest Pro, óculos mais caros da Meta, custa US$ 999. E, atualmente, o grande público que usa óculos de realidade virtual/aumentada está concentrado nos “gamers”.
Situação bem diferente do uso de realidade estendida nos negócios. O preço dos óculos pode ser absorvido por muitas empresas, embora ainda limite o uso em larga escala. Mas já há um conjunto bem interessante de aplicações nos negócios que geram valor, engajam os profissionais e reduzem custos na operação.
Treinamento em realidade virtual: um caso de uso que vem crescendo fortemente é a realização de treinamentos operacionais em uma experiência totalmente imersiva usando óculos de realidade virtual. Aqui temos a possibilidade de criar os gêmeos digitais (objetos 3D que simulam com exatidão sua existência no mundo real) e criar as simulações e treinamentos necessários que envolvem uma operação. Temos ganhos, claro, com redução de custo (deslocamentos, hospedagens, materiais descartados, entre outros) e, principalmente, na diminuição de riscos na saúde do profissional ao evitar a realização desses treinamentos em ambientes reais de alto risco. Isso é especialmente válido nos treinamentos em ambientes onde há manutenção de grandes motores, usinas eólicas ou hidroelétricas.
Experiência do colaborador: aqui estamos falando da criação de um ambiente corporativo num mundo virtual para encontro dos profissionais e disponibilização de processos que são executados pelo departamento de recursos humanos. Pense na realização de um processo de chegada de novos profissionais em que o instrutor não precisa estar fisicamente no escritório (ou no mesmo escritório que os novos profissionais), que os novos funcionários se conectem com seus gêmeos digitais (avatares próprios) e acessem todas as informações da empresa na ordem que quiserem, entendendo como será sua jornada profissional na organização, assistindo a vídeos, trocando ideias com outros novos profissionais e visitando (virtualmente) todos os escritórios da empresa ao redor do globo. Este caso de uso abre espaço para diversas outras operações internas da companhia. Há um grande aumento de empresas buscando por soluções como essa.
Spatial computing: aqui a realidade aumentada se transforma em uma experiência muito mais avançada em nossas vidas. Podemos andar pelas ruas e apontar os smartphones para qualquer item ao redor e ver informações em tempo real sobre o trânsito, transporte, serviços, pessoas, imóveis, promoções em lojas ou qualquer outra interação digital que tenha sido previamente criada através de camadas de computação espacial ancoradas permanentemente sobre um ambiente físico. Estas camadas podem ser criadas por diversas companhias distintas e serem posicionadas no mesmo espaço físico.
Ou seja, ao contrário do que parece, o “futuro” da realidade estendida realmente já chegou. Está aqui, com aplicações práticas e geração de valor para os negócios. Ainda há desafios a serem superados e, de fato, novos casos de uso precisam ser desenvolvidos. Mas o que a tecnologia entrega já é suficiente para que seja usada – e testada – pelas organizações.
Muitas empresas ainda buscam por referências antes de testar tecnologias emergentes. Se esquecem que, quando falamos em inovação nos negócios, quem lidera o mercado é quem dá o primeiro passo.”