Em evento realizado pela MIT Sloan Review Brasil, especialistas destacam a importância de criar soluções democráticas e alinhadas às necessidades de negócios
De acordo com um levantamento realizado pela Bain & Company, 85% das empresas globais pretendem adotar algum tipo de solução de inteligência artificial (IA) generativa nos próximos quatro anos. Em meio à popularização de plataformas como o ChatGPT e o Midjourney, a incorporação de novas tecnologias deve ser acompanhada por um planejamento consistente de gestão de dados e monitoramento de resultados. Os desafios e oportunidades desse cenário foram o tema do painel IA + Humano: a tecnologia como impulsionadora do crescimento de negócios, realizado durante o AI Showcase, evento realizado pela MIT Sloan Management Review Brasil.
Mais do que investimentos em tecnologia, Marcio Paulino, líder de tecnologia na Intel Brasil, Eduardo Peixoto, CEO do Cesar e Leandro Angelo, partner EVP Latam na CI&T, ressaltaram durante a mesa redonda a importância de adotar estratégias de inteligência artificial a partir de abordagens sistêmicas.
Na visão de Paulino, a definição de hipóteses claras e a excelência na gestão de bases de dados estão entre os principais pilares da criação de projetos alinhados a objetivos de negócios. “O primeiro passo é mapear com precisão qual é o desafio que a empresa deseja resolver com o uso de IA. A partir daí, é preciso ter um controle rigoroso com a qualidade dos dados para se certificar que as informações usadas refletem o problema escolhido”, disse.
A segunda camada dessa estratégia envolve a formação de times multidisciplinares para executar e incorporar planejamentos de inteligência artificial à operação da empresa e da sua rede de stakeholders. Nesse contexto, a colaboração entre equipes de cientistas de dados, gestores, infraestrutura e operações é fundamental para sair das fases de provas de conceito e entregar modelos finais que ajudem as organizações a atingirem suas metas de crescimento.
A democratização da tecnologia para habilitar projetos proprietários de IA generativa foi outro ponto destacado por Paulino. Passada a fase inicial das grandes plataformas transversais, o acesso ao poder computacional se apresenta como um fator crucial para consolidar um novo ecossistema de aplicações — e desenvolver soluções customizadas para diferentes indústrias e organizações. “Os custos envolvidos em projetos proprietários de IA ainda são uma grande barreira de entrada para muitos players. A manutenção de estruturas como a do ChatGPT demanda grandes volumes de investimentos”, afirmou o executivo.
Para ajudar a destravar o potencial e o surgimento da próxima geração de plataformas de IA e de IA generativa, Paulino apontou a necessidade de criar produtos e serviços que democratizem — e facilitem — a exploração de tecnologias de ponta entre empresas e consumidores finais. “Estamos fabricando uma geração de processadores que têm os componentes necessários para acelerar o uso de inteligência artificial em servidores e computadores pessoais. Esses produtos permitem rodar uma rede neural com 8 bilhões de parâmetros em um notebook, por exemplo”, disse. “A base teórica e conceitual da IA já está pronta para ser usada. Agora cabe a cada um de nós criar os produtos e serviços para aproveitar as oportunidades desta nova era de experimentação”.
Ao final do painel, os participantes comentaram que no estado atual da IA, a única certeza é que há mais perguntas do que respostas e ainda é preciso descobrir as perguntas certas para que a tecnologia cumpra sua promessa de amplificação das habilidades humanas. Um ponto histórico de inflexão que, na visão de Peixoto, do CESAR, demanda capacidade de articulação de lideranças corporativas. “Estamos vivendo um momento entre o mistério e a heurística, no qual vemos muitas coisas acontecerem, mas não sabemos explicar. Os caminhos ainda não estão codificados: precisamos construir novas redes para encontrar as soluções que desejamos e avançar em conjunto”, afirmou.