Como tecer conexões com o time, criando um ambiente onde os propósitos individuais não apenas são reconhecidos e impulsionados, mas também se entrelaçam e formam um propósito coletivo para enfrentar tempos difíceis | por Larissa Coggo dos Santos
Em um mundo tão diverso, a verdadeira essência da liderança transcende a gestão de metas, processos e tarefas. Ela reside na habilidade de tecer conexões profundas, criando um ambiente onde os propósitos individuais não apenas são reconhecidos e impulsionados, mas também se entrelaçam e formam um propósito coletivo. Mesmo em tempos de adversidade.
Neste artigo, faço uma reflexão sobre uma liderança que faz a gestão ao mesmo tempo em que inspira e transforma o ambiente de trabalho em um espaço onde cada voz contribui para uma sinfonia de objetivos compartilhados. Foi com essa convicção que abracei minha primeira experiência como líder, comprometida em entender, valorizar e alinhar as aspirações individuais ao propósito maior da nossa equipe e organização.
Gerenciar um time com diversidade de gênero, de realidades, de crenças e também de gerações foi o meu desafio inicial, que logo ressignifiquei e transformei num objetivo: conectar-me individualmente com todos eles, de maneira significativa, para compreender “o que os move a fazer o que fazem e da forma que fazem”. Essa pergunta tornou-se o norte da minha liderança, guiando-me por um caminho de descobertas e alinhamento de expectativas.
Como bem pontuou Mario Sergio Cortella: “Uma vida com propósito é aquela em que eu entendo as razões pelas quais faço o que faço e pelas quais claramente deixo de fazer o que não faço.”Nessa jornada, mergulhei nas aspirações de carreira de cada um e no modo como se percebiam dentro da organização. Juntos, desenhamos planos de desenvolvimento sólidos e coerentes, reconhecendo que nosso local de trabalho vai além de um espaço físico. É o cenário onde propósitos pessoais e coletivos se encontram e florescem.
Esse processo exigiu de mim – e de cada membro do time – dedicação genuína, priorização na agenda e compromisso com diálogos significativos e construtivos.
Em meio a esse processo de construção e alinhamento, nos deparamos com um desafio orçamentário. Como transformar o que, à primeira vista, era um obstáculo em uma alavanca para impulsionar, ainda mais, o propósito de cada profissional sob minha gestão? A resposta estava no conhecimento que eu havia cultivado sobre as aspirações individuais deles, o que contribuiu para que eu tomasse decisões ponderadas e estratégicas.
Aproveitei aquele desafio para oferecer novas oportunidades àqueles que buscavam novos ares dentro da companhia e para assegurar que os demais se sentissem desafiados, podendo desenvolver tudo aquilo que havíamos discutido individualmente.
O resultado foi um engajamento coletivo por meio das mudanças propostas, uma vez que cada um do time observou e entendeu que os movimentos não eram para simplesmente “bater a meta”, mas foram pensados cuidadosamente para impulsionar o propósito de cada um, na sua individualidade.
A partir do momento em que as pessoas entendem que elas importam dentro da sua individualidade – o que são e o que almejam no particular –, passam a enxergar a liderança com um propósito maior, que transcende o cargo e impacta o todo. O caminho fica mais simples para a construção de um propósito coletivo.
O engajamento coletivo que eu vivenciei, mediante um cenário complexo de redução orçamentária e redução de equipe, aconteceu porque as pessoas sabiam que estavam sendo ouvidas e que tinham seus lugares de fala garantidos, se sentiam seguras com uma liderança conectada, próxima e propositiva. Dessa forma, todos os desafios coletivos eram vistos como trampolins para cumprimento do propósito individual dos envolvidos.
Quando cada um percebe suas metas como desafios pessoais, sentem-se parte integrante do processo, sabem que são ouvidos, veem colegas avançando em direção aos seus propósitos individuais e, consequentemente, sentem-se seguros sob a liderança. Assim, as entregas se tornam coletivas e todo resultado é compartilhado por todos.
Por isso, não acredito em nenhuma mobilização para um propósito coletivo sem uma liderança que tenha um propósito transcendente às metas de sua organização e que não se conecte individualmente com cada indivíduo da equipe, levando em consideração os diversos propósitos que os compõem.
O líder tem o poder de tornar a vida das pessoas um “mar de rosas” ou “dias tempestivos”. Eu escolho a primeira opção porque, quando alguém alcança o seu propósito individual, isso significa que eu também alcancei o meu. E não há nada que possa inspirar mais as pessoas do que saber disso, não é mesmo?
A essência de uma liderança inspiradora reside em conhecer o próprio propósito. Afinal, quem não lidera a si mesmo enfrentará dificuldades em liderar os outros.“Quem não governa a si mesmo, não conseguirá governar mais nada.” Tiago BrunetDaí a relevância da dimensão da ‘liderança de si’ na formação do líder do futuro. Uma liderança que é um fim em si mesma não conseguirá inspirar através do propósito.
Como líderes, é crucial entender o motivo por trás de nossas ações, reconhecendo que nossa função vai além de simplesmente colaborar para uma organização ou alcançar objetivos pessoais. Lideramos com o propósito de apoiar o desenvolvimento pessoal e profissional dos outros, sendo coautores de suas histórias e facilitadores de seus sonhos.
Quando você sabe qual é o seu propósito, inspirar torna-se um processo mais fluido, fácil . As pessoas se conectam com a sua verdade.
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Este artigo é de autoria de Larissa Coggo dos Santos, que recebeu a menção honrosa por “”Liderança nas Relações”” no Prêmio Young Leaders 2023, promovido pelo Instituto Anga e MIT Sloan Management Review Brasil. Formada em Ciências Econômicas pela Universidade de São Paulo, com MBA em Gestão de Negócios. Atua como líder na empresa Raízen Energia, colabora com a disseminação de conhecimento em Gestão de Negócios em uma comunidade local e integra a Comunidade Young Leaders. https://www.linkedin.com/in/larissa-coggo-50a454a1/“