A evolução tecnológica requer líderes que saibam ser ousados e, ao mesmo tempo, capazes de visualizar os impactos desse novo poder na sociedade
Em cerca de um século, a humanidade evoluiu de uma era movida a velas e carruagens para a de usinas de força e estações espaciais. Algo similar pode ocorrer nas próximas três décadas, e essa exponencial evolução tecnológica nos leva a enfrentar questões fundamentais.
Como lidaremos com o desafio de conter todo o poder liberado pela tecnologia, assegurando que ela continue a servir a nós e ao planeta? Como o “Homo technologicus” do século 21 será capaz de negociar com os dilemas entre as oportunidades e os riscos de uma nova onda tecnológica? E qual será o novo papel da liderança nesse contexto?
Esse tema é bem retratado no livro “A próxima onda“, de Mustafa Suleyman (cofundador da DeepMind e da Inflection AI) e Michael Bhaskar. Segundo os autores, se formos bem-sucedidos em replicar a inteligência humana, isso não será apenas um negócio lucrativo, mas também uma mudança sísmica para a humanidade, inaugurando uma era de oportunidades e riscos sem precedentes.
O engenheiro americano e futurista Ray Kurzweil também alertou sobre essa possibilidade em seu livro “A singularidade está próxima”. Segundo ele, em 2045, a parte artificial da inteligência da civilização de homens-máquinas será um bilhão de vezes mais poderosa do que a parte biológica. Isso significará uma ampliação monumental da inteligência dessa civilização, uma mudança tão profunda que a chamaremos de “singularidade”.
Segundo o futurista Ray Kurzweil, em 2045, a parte artificial da inteligência da civilização de homens-máquinas será um bilhão de vezes mais poderosa do que a parte biológica.
Suleyman, Kurzweil e Yuval Noah Harari são apenas alguns dos autores que antecipam esse cenário singular em termos de oportunidades e riscos à humanidade. Harari, em um de seus livros, nos instiga a pensar como os ciborgues superinteligentes poderiam tratar humanos (de carne e osso), provocando-nos a refletir sobre como, hoje, tratamos nossos primos animais menos inteligentes.
Não passaremos por essa transformação sem discutir o perfil da liderança necessária para enfrentar esse cenário. Discussões e decisões éticas serão fundamentais para conter os limites do “Homo technologicus” do século 21. A contenção será a capacidade abrangente de controlar, limitar e, se necessário, interromper tecnologias em qualquer estágio de seu desenvolvimento e emprego.
Estamos nos aproximando de um ponto de inflexão com a chegada de tecnologias de ordens mais elevadas, as mais profundas da história. A combinação, por exemplo, de Inteligência Artificial com Biologia Sintética, somada a outras tecnologias poderosas, como computação quântica, robótica e nanotecnologia, abre um campo de possibilidades jamais vivenciado.
Para Suleyman, estas são as quatro características que intensificam o problema da contenção da tecnologia e que precisarão ser endereçadas pelas lideranças mundiais, regionais, locais e empresariais:
A nova onda tecnológica libera capacidades poderosas, baratas, fáceis de acessar e usar, direcionadas e escaláveis para qualquer pessoa e/ou lugar. Quanto menos localizada uma tecnologia, menos facilmente ela pode ser contida.
Pequenas nações, estados, grupos e organizações são capazes de criar e desenvolver soluções que transferem tecnologias e poder de uma região para outra.
Um exemplo claro é o uso de drones por grupos insurgentes em conflitos regionais. Esses drones, que antes eram exclusivos de grandes potências militares, agora são acessíveis e utilizáveis por pequenas facções, mudando drasticamente o equilíbrio de poder.
Aceleração infinita em um ritmo digital, em tempo quase real, com menos atrito e dependência. O exemplo do Chat GPT da OpenAI ilustra bem esse ponto. Desde sua primeira versão em 2018 até a atual, GPT-4o, lançada em 2023, o modelo passou por uma notável evolução, aprimorando significativamente a geração de texto e a compreensão contextual.
Tecnologias com efeitos sociais e transbordamentos mais amplos são mais difíceis de conter do que tecnologias limitadas e com perfil de monotarefa. Um exemplo é a Internet das Coisas (IoT), que conecta dispositivos em uma rede global, permitindo que tudo, desde eletrodomésticos até veículos, esteja interligado.
Essa conectividade ampla cria desafios de segurança e privacidade que são difíceis de gerenciar devido à sua natureza onipresente e multifuncional.
Tecnologias autônomas serão capazes de interagir com o ambiente e agir sem aprovação imediata de humanos, produzindo efeitos novos e imprevisíveis. Muitos sistemas se tornarão tão complexos que estarão além da capacidade de compreensão de qualquer indivíduo.
Um exemplo é o desenvolvimento de veículos autônomos, que podem tomar decisões em frações de segundo sem intervenção humana, criando um novo conjunto de desafios legais e éticos sobre responsabilidade e segurança.
Como líderes, não podemos pretender conter essa nova onda tecnológica, assim como nenhuma das ondas anteriores foi contida. Mas, pela primeira vez na história, o “Homo technologicus” deste século pode ser ameaçado por sua própria criação.
A questão principal será como nos prepararemos para enfrentar os dilemas desse novo momento, compreendendo e tomando decisões que começam em nosso campo local de atuação, mas vão muito além dele.
Seremos líderes com um impacto muito maior do que aprendemos a gerenciar. Nossas decisões, ou a falta delas, irão impactar muito além dos quatro muros de nossas organizações, comunidades, estados ou nações.
Os líderes precisarão agir de maneira ousada e sem precedentes, trocando ganhos de curto prazo por benefícios de longo prazo. Será essencial desenvolver a capacidade de visualizar e antecipar os impactos das novas tecnologias na sociedade, uma competência crucial para as lideranças do futuro.
Além disso, é imperativo abordar discussões éticas e avaliar as oportunidades e riscos de cada novo projeto, produto ou processo que emergir dessa próxima onda tecnológica.
A capacidade de antecipar e gerenciar os impactos das novas tecnologias, combinada com uma abordagem ética e inclusiva, será crucial para garantir que a tecnologia continue a servir a humanidade e o planeta.
Dessa forma, deixaremos de ser meramente impactados pelas inovações tecnológicas para nos tornarmos protagonistas ativos, decidindo o que realmente precisa ser acelerado, ampliado ou até mesmo mitigado, sempre mantendo um compromisso firme com a ética e a inclusão.
Essa postura proativa e ética permitirá que os líderes naveguem pelos complexos desafios e oportunidades que a nova onda tecnológica trará, assegurando que a tecnologia continue a servir a humanidade e ao planeta de maneira sustentável e responsável.
A liderança na era do “Homo technologicus” do século 21 exigirá uma transformação profunda na maneira como pensamos e agimos. A capacidade de antecipar e gerenciar os impactos das novas tecnologias, combinada com uma abordagem ética e inclusiva, será crucial para garantir que a tecnologia continue a servir a humanidade e o planeta.
Os líderes do futuro precisarão ser visionários, corajosos e comprometidos com o bem-estar coletivo, navegando pelos complexos desafios e oportunidades que a nova onda tecnológica trará.
Ao adotar uma postura proativa e ética, os líderes poderão transformar as inovações tecnológicas em ferramentas poderosas para o progresso humano, garantindo que os benefícios sejam amplamente distribuídos e que os riscos sejam cuidadosamente gerenciados.
Dessa forma, poderemos construir um futuro onde a tecnologia não apenas impulsione o desenvolvimento econômico, mas também promova a justiça social, a sustentabilidade ambiental e o bem-estar global.
Essa postura proativa e ética permitirá que os líderes naveguem pelos complexos desafios e oportunidades que a nova onda tecnológica trará.
Em última análise, a liderança na era do “Homo technologicus” será definida pela capacidade de equilibrar a inovação com a responsabilidade, garantindo que as decisões tomadas hoje preparem o caminho para um futuro mais justo, sustentável e próspero, de maneira ousada e sem precedentes, trocando ganhos de curto prazo por benefícios de longo prazo.
Será essencial desenvolver a capacidade de visualizar e antecipar os impactos das novas tecnologias na sociedade, uma competência crucial para as lideranças do futuro. Além disso, é imperativo abordar discussões éticas e avaliar as oportunidades e riscos de cada novo projeto, produto ou processo que emergir dessa próxima onda tecnológica.
Dessa forma, deixaremos de ser meramente impactados pelas inovações tecnológicas para nos tornarmos protagonistas ativos, decidindo o que realmente precisa ser acelerado, ampliado ou até mesmo mitigado.
Essa postura proativa e ética permitirá que os líderes naveguem pelos complexos desafios e oportunidades que a nova onda tecnológica trará, assegurando que a tecnologia continue a servir a humanidade e ao planeta de maneira sustentável e responsável.