7 min de leitura

Quatro mudanças para a liderança na era do “Homo technologicus”

A evolução tecnológica requer líderes que saibam ser ousados e, ao mesmo tempo, capazes de visualizar os impactos desse novo poder na sociedade

Daniel Martin Ely
20 de agosto de 2024
Quatro mudanças para a liderança na era do “Homo technologicus”
Este conteúdo pertence à editoria Liderança e cultura Ver mais conteúdos
Este conteúdo pertence à editoria Transformação comportamental Ver mais conteúdos
Link copiado para a área de transferência!

Em cerca de um século, a humanidade evoluiu de uma era movida a velas e carruagens para a de usinas de força e estações espaciais. Algo similar pode ocorrer nas próximas três décadas, e essa exponencial evolução tecnológica nos leva a enfrentar questões fundamentais.

Como lidaremos com o desafio de conter todo o poder liberado pela tecnologia, assegurando que ela continue a servir a nós e ao planeta? Como o “Homo technologicus” do século 21 será capaz de negociar com os dilemas entre as oportunidades e os riscos de uma nova onda tecnológica? E qual será o novo papel da liderança nesse contexto?

Esse tema é bem retratado no livro “A próxima onda“, de Mustafa Suleyman (cofundador da DeepMind e da Inflection AI) e Michael Bhaskar. Segundo os autores, se formos bem-sucedidos em replicar a inteligência humana, isso não será apenas um negócio lucrativo, mas também uma mudança sísmica para a humanidade, inaugurando uma era de oportunidades e riscos sem precedentes.

A próxima onda
A próxima onda amazon.com.br

O engenheiro americano e futurista Ray Kurzweil também alertou sobre essa possibilidade em seu livro “A singularidade está próxima”. Segundo ele, em 2045, a parte artificial da inteligência da civilização de homens-máquinas será um bilhão de vezes mais poderosa do que a parte biológica. Isso significará uma ampliação monumental da inteligência dessa civilização, uma mudança tão profunda que a chamaremos de “singularidade”.

Segundo o futurista Ray Kurzweil, em 2045, a parte artificial da inteligência da civilização de homens-máquinas será um bilhão de vezes mais poderosa do que a parte biológica.

Suleyman, Kurzweil e Yuval Noah Harari são apenas alguns dos autores que antecipam esse cenário singular em termos de oportunidades e riscos à humanidade. Harari, em um de seus livros, nos instiga a pensar como os ciborgues superinteligentes poderiam tratar humanos (de carne e osso), provocando-nos a refletir sobre como, hoje, tratamos nossos primos animais menos inteligentes.

Não passaremos por essa transformação sem discutir o perfil da liderança necessária para enfrentar esse cenário. Discussões e decisões éticas serão fundamentais para conter os limites do “Homo technologicus” do século 21. A contenção será a capacidade abrangente de controlar, limitar e, se necessário, interromper tecnologias em qualquer estágio de seu desenvolvimento e emprego.

Estamos nos aproximando de um ponto de inflexão com a chegada de tecnologias de ordens mais elevadas, as mais profundas da história. A combinação, por exemplo, de Inteligência Artificial com Biologia Sintética, somada a outras tecnologias poderosas, como computação quântica, robótica e nanotecnologia, abre um campo de possibilidades jamais vivenciado.

Quatro pontos de reflexão

Para Suleyman, estas são as quatro características que intensificam o problema da contenção da tecnologia e que precisarão ser endereçadas pelas lideranças mundiais, regionais, locais e empresariais:

1. Transferência de poder

A nova onda tecnológica libera capacidades poderosas, baratas, fáceis de acessar e usar, direcionadas e escaláveis para qualquer pessoa e/ou lugar. Quanto menos localizada uma tecnologia, menos facilmente ela pode ser contida.

Pequenas nações, estados, grupos e organizações são capazes de criar e desenvolver soluções que transferem tecnologias e poder de uma região para outra.

Um exemplo claro é o uso de drones por grupos insurgentes em conflitos regionais. Esses drones, que antes eram exclusivos de grandes potências militares, agora são acessíveis e utilizáveis por pequenas facções, mudando drasticamente o equilíbrio de poder.

2. Hiperevolução

Aceleração infinita em um ritmo digital, em tempo quase real, com menos atrito e dependência. O exemplo do Chat GPT da OpenAI ilustra bem esse ponto. Desde sua primeira versão em 2018 até a atual, GPT-4o, lançada em 2023, o modelo passou por uma notável evolução, aprimorando significativamente a geração de texto e a compreensão contextual.

3. Omniuso

Tecnologias com efeitos sociais e transbordamentos mais amplos são mais difíceis de conter do que tecnologias limitadas e com perfil de monotarefa. Um exemplo é a Internet das Coisas (IoT), que conecta dispositivos em uma rede global, permitindo que tudo, desde eletrodomésticos até veículos, esteja interligado.

Essa conectividade ampla cria desafios de segurança e privacidade que são difíceis de gerenciar devido à sua natureza onipresente e multifuncional.

4. Autonomia

Tecnologias autônomas serão capazes de interagir com o ambiente e agir sem aprovação imediata de humanos, produzindo efeitos novos e imprevisíveis. Muitos sistemas se tornarão tão complexos que estarão além da capacidade de compreensão de qualquer indivíduo.

Um exemplo é o desenvolvimento de veículos autônomos, que podem tomar decisões em frações de segundo sem intervenção humana, criando um novo conjunto de desafios legais e éticos sobre responsabilidade e segurança.

O desafio dos novos líderes

Como líderes, não podemos pretender conter essa nova onda tecnológica, assim como nenhuma das ondas anteriores foi contida. Mas, pela primeira vez na história, o “Homo technologicus” deste século pode ser ameaçado por sua própria criação.

A questão principal será como nos prepararemos para enfrentar os dilemas desse novo momento, compreendendo e tomando decisões que começam em nosso campo local de atuação, mas vão muito além dele.

Seremos líderes com um impacto muito maior do que aprendemos a gerenciar. Nossas decisões, ou a falta delas, irão impactar muito além dos quatro muros de nossas organizações, comunidades, estados ou nações.

Os líderes precisarão agir de maneira ousada e sem precedentes, trocando ganhos de curto prazo por benefícios de longo prazo. Será essencial desenvolver a capacidade de visualizar e antecipar os impactos das novas tecnologias na sociedade, uma competência crucial para as lideranças do futuro.

Além disso, é imperativo abordar discussões éticas e avaliar as oportunidades e riscos de cada novo projeto, produto ou processo que emergir dessa próxima onda tecnológica.

A capacidade de antecipar e gerenciar os impactos das novas tecnologias, combinada com uma abordagem ética e inclusiva, será crucial para garantir que a tecnologia continue a servir a humanidade e o planeta.

Dessa forma, deixaremos de ser meramente impactados pelas inovações tecnológicas para nos tornarmos protagonistas ativos, decidindo o que realmente precisa ser acelerado, ampliado ou até mesmo mitigado, sempre mantendo um compromisso firme com a ética e a inclusão.

Essa postura proativa e ética permitirá que os líderes naveguem pelos complexos desafios e oportunidades que a nova onda tecnológica trará, assegurando que a tecnologia continue a servir a humanidade e ao planeta de maneira sustentável e responsável.

Novas habilidades com olhar mais amplo

A liderança na era do “Homo technologicus” do século 21 exigirá uma transformação profunda na maneira como pensamos e agimos. A capacidade de antecipar e gerenciar os impactos das novas tecnologias, combinada com uma abordagem ética e inclusiva, será crucial para garantir que a tecnologia continue a servir a humanidade e o planeta.

Os líderes do futuro precisarão ser visionários, corajosos e comprometidos com o bem-estar coletivo, navegando pelos complexos desafios e oportunidades que a nova onda tecnológica trará.

Ao adotar uma postura proativa e ética, os líderes poderão transformar as inovações tecnológicas em ferramentas poderosas para o progresso humano, garantindo que os benefícios sejam amplamente distribuídos e que os riscos sejam cuidadosamente gerenciados.

Dessa forma, poderemos construir um futuro onde a tecnologia não apenas impulsione o desenvolvimento econômico, mas também promova a justiça social, a sustentabilidade ambiental e o bem-estar global.

Essa postura proativa e ética permitirá que os líderes naveguem pelos complexos desafios e oportunidades que a nova onda tecnológica trará.

Em última análise, a liderança na era do “Homo technologicus” será definida pela capacidade de equilibrar a inovação com a responsabilidade, garantindo que as decisões tomadas hoje preparem o caminho para um futuro mais justo, sustentável e próspero, de maneira ousada e sem precedentes, trocando ganhos de curto prazo por benefícios de longo prazo.

Será essencial desenvolver a capacidade de visualizar e antecipar os impactos das novas tecnologias na sociedade, uma competência crucial para as lideranças do futuro. Além disso, é imperativo abordar discussões éticas e avaliar as oportunidades e riscos de cada novo projeto, produto ou processo que emergir dessa próxima onda tecnológica.

Dessa forma, deixaremos de ser meramente impactados pelas inovações tecnológicas para nos tornarmos protagonistas ativos, decidindo o que realmente precisa ser acelerado, ampliado ou até mesmo mitigado.

Essa postura proativa e ética permitirá que os líderes naveguem pelos complexos desafios e oportunidades que a nova onda tecnológica trará, assegurando que a tecnologia continue a servir a humanidade e ao planeta de maneira sustentável e responsável.

Daniel Martin Ely
Daniel Martin Ely é vice-presidente executivo da Randoncorp, COO da Rands, conselheiro do CNEX (Centro de Excelência Humana e Organizacional) e do Instituto Hélice de Inovação e presidente do conselho do Instituto UniTEA do Autismo. Mestre em estratégias organizacionais e especialista no desenvolvimento de lideranças, é também autor da obra O Líder em Transformação (2024).

Deixe um comentário

Você atualizou a sua lista de conteúdos favoritos. Ver conteúdos
aqui