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Tecnologia e inovação

26 min de leitura

As 7 tecnologias que estão reinventando o mundo

Conforme a revolução digital avança, todo líder de negócios deve se alfabetizar em tecnologia. Confira este guia das tecnologias que estão transformando nosso mundo

Albert H. Segars

14 de Maio

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Artigo As 7 tecnologias que estão reinventando o mundo

Era uma vez o líder de negócios que podia deixar a tecnologia aos técnicos. Hoje, porém, estamos na linha de partida de uma revolução tecnológica universal –que está alterando fundamentalmente os quatro reinos de nosso mundo: comércio, assistência médica, aprendizado e meio ambiente.

Dada a natureza dominante e diferente dessa revolução, os líderes de negócios devem entender as tecnologias que estão direcionando essa revolução, as capacidades que oferecem e seu impacto potencial.

Este relatório oferece aos executivos um léxico à revolução. Identifica sete tecnologias principais: 

  1. computação ubíqua, 

  2. redes mesh, 

  3. biotecnologia, 

  4. impressão 3D, 

  5. machine learning, 

  6. nanotecnologia e 

  7. robótica. 

Use este relatório como um guia para uma discussão estratégica conforme você e sua equipe busquem compreender as fronteiras de negócios e oportunidades que estão adiante.

AS SETE FAGULHAS TECNOLÓGICAS

“Você só tem direito a uma pequena fagulha de loucura”, disse Robin Williams, o ator que usou sua fagulha para lançar um foguete cômico e deixar para trás os limites definidos de sua espaçonave. A tecnologia proporciona uma fagulha parecida: ela nos permite ir além das fronteiras de nosso mundo, como ocorreu, por exemplo, com a revolução industrial do século 18, favorecida pela mecanização do setor têxtil, manufatura em larga escala de produtos químicos, máquinas a vapor e ganhos de eficiência na produção de ferro.

Hoje, vemos fagulhas tecnológicas em toda parte, emergindo das ciências digitais, químicas, materiais e biológicas, e precipitando uma revolução que muda quase todas as dimensões de nossas vidas.

Mas como as tecnologias dominantes estão fazendo isso? Como darão nova forma ao comércio e ao mundo? A resposta a essas perguntas dirá como o valor será definido e onde novas oportunidades de crescimento lucrativo estarão.

Para auxiliar os executivos a responderem essas questões, conduzi pesquisas com empreendedores de tecnologias veteranas em diversos setores e realizei entrevistas para validar meus achados. Fiz, ainda, visitas a campo.

Cada uma das sete classes tecnológicas identificadas, pressupõe três capacidades diferentes que rapidamente evoluem e que se distinguem das tecnologias de revoluções passadas de maneira significativa; são mais avançadas e mais amplas em espectro. 

  1. Inteligência: capacidade de perceber ou prever um ambiente ou situação e agir de acordo com esse conhecimento. Esta é a capacidade de dar sentido às coisas.

  2. Interface natural: capacidade de alinhar-se a ações, traços e esquemas intuitivos humanos, bem como a aspectos como voz, gesto e outros sinais biomecânicos, na realização de tarefas digitais.

  3. Ubiquidade: capacidade de ser onipresente onde antes havia transações, objetos, máquinas e pessoas distintos. Essas tecnologias podem ser incorporadas a objetos do dia a dia.

O que torna as sete tecnologias importantes é o fato de apresentarem, cada uma, impacto universal a sua maneira única. Individualmente, estão mudando a maneira como consumimos, nosso bem-estar, nossa evolução intelectual e o ambiente em torno de nós. Seu impacto também diz respeito a seu potencial de combinação, já que as fronteiras entre elas começam a cair. Em breve, a síntese das tecnologias fará surgir uma nova classe de super-tecnologias que não apenas ultrapassarão seus elementos particulares, mas também oferecerão ricas oportunidades a empresas que as poderão vislumbrar e aproveitar.

1 Computação ubíqua: processadores proativos, incorporados e em rede

O QUÊ?

Também conhecida por computação pervasiva, ela fornece informações, mídia, contexto e poder de processamento onde quer que estejamos, por meio de uma vasta rede de microprocessadores incorporados aos objetos do dia a dia.

Assim, em vez de os dados serem gravados e atualizados de maneira privada, eles são embutidos e continuamente conciliados em redes públicas. É mais difícil, portanto, que sejam corrompidos. As implicações sobre fluxo de trabalho, comércio e sistemas financeiros são muitas. 

A computação ubíqua é o motor da Internet das Coisas.  Suas redes são invisíveis, onipresentes e sempre disponíveis. Podem estar em sistemas mobile, tecnologias vestíveis ou implantáveis.

POR QUÊ?

A computação ubíqua está reformando a lógica dos negócios, que antes era determinada pela propriedade e uso exclusivo, para privilegiar informação e acesso. Isso permite a criação de produtos com forte componente de informação que pode ser moldada pelos clientes. Permite, então, a contínua construção e desconstrução de produtos.

Mais do que isso, os produtos são capazes de se aperfeiçoar com o tempo –em oposição à lógica de uso e obsolescência. Um carro bastante rodado poderá ser mais valioso do que um novo!

Para aproveitar as oportunidades proporcionadas pela computação ubíqua, os executivos precisarão considerar como o aparato digital, as redes e o leque de mídias podem ser incorporados aos processos de sua empresa, bem como aos produtos e cadeia de valor expandida.

ONDE?

A computação ubíqua produz novas formas de trocas ao gerar informações que as empresas podem usar para criar valor para uma série de produtos, serviços e ativos. O Uber, por exemplo, usou a computação ubíqua para destravar valor que residia na capacidade ociosa de automóveis. Ao acrescentar três passageiros a uma corrida para o aeroporto, o motorista do Uber utiliza melhor a capacidade de seu veículo e ganha mais, enquanto o cliente paga menos.

Esta tecnologia também pode proporcionar a queda de barreiras entre funções da empresa, uma vez que dispositivos conectados oferecem informação que pode ser usada para integrar e orquestrar tais funções pela cadeia de valor. 

No campo da assistência médica, a computação ubíqua pode ajudar a monitorar e manter nosso bem-estar. Exemplo disso é o VitalPatch, biossensor que é implantado no antebraço e possui eletrodos para realizar eletrocardiogramas. A informação que aufere é transmitida a profissionais de saúde que poderão oferecer cuidados mais adequados ou urgentes ao paciente, eliminando muitos dos efeitos colaterais de medicações e reduzindo o custo do atendimento médico.

No campo do aprendizado, também, a computação ubíqua é transformadora, uma vez que permite o acesso à informação de maneiras altamente personalizadas, como de indivíduo para indivíduo (uma mensagem de texto), de indivíduo para um coletivo (um tuíte), de muitos para muitos (um grupo no Facebook) e de muitos para um (no Yelp.com).

O acesso, a conversão e o fluxo de informações levará a ciclos mais curtos de aprendizado e aplicação do conhecimento e novas abordagens pedagógicas ao ensino. A Khan Academy, por exemplo, já superou os limites do ensino em sala de aula. No futuro, a computação ubíqua transformará o aprendizado em algo parecido com o Echo, da Amazon, que explora nossos cinco sentidos.

A Ambient Devices, braço do MIT Media Lab, trabalha no sentido de nos livrar da tela do computador, desenvolvendo plataformas digitais que mostram informações em vidro (janelas e para-brisas), som (autofalantes inteligentes) e luz (projeções).

As aplicações são inúmeras. No campo ambiental, a computação ubíqua pode oferecer dados complexos sobre condições que sempre mudam, por meio de sensores que aprimoram a detecção de terremotos, enchentes, incêndios e outros desastres naturais e aperfeiçoam a comunicação, coordenação e reposta de pessoal de resgate e outros.

2 Redes mesh: com grande largura de banda, dinâmicas, sem fio, de conexão inteligente

O QUÊ?

As redes mesh (conhecidas pela sigla em inglês WMN) são circuitos ad hoc de conexão sem fio nos quais apenas um dispositivo requer uma conexão de internet. São redes inteligentes que podem formar-se e, depois, formar-se novamente sob o comando do usuário. Elas se criam, portanto, de baixo para cima, e também são capazes de se repararem, o que propicia comunicação robusta e confiável em qualquer lugar, a baixo custo e sem infraestrutura fixa.

Assim, o que as redes mesh fazem é tornar a computação ubíqua mais pluralista e dinâmica. Em termos globais, essas malhas tendem a ser patrocinadas pelos governos, como a Serval Project, da Austrália, e a Guifi.net da Espanha. Essa tecnologia é uma grande promessa para comunidades remotas demais para que nelas se instale infraestrutura fixa.

POR QUÊ?

Como as redes mesh alteram a própria definição de conectividade, elas levarão à revisão de investimentos em infraestrutura de redes. Elas abrem uma nova fronteira de banda larga e promovem colaboração mais eficiente em processos que envolvem qualquer tipo de coordenação entre máquinas, pessoas, empresas e produtos.

ONDE?

No comércio, as redes mesh transformam a gestão da cadeia de negócios. A etiqueta RFID (de identificação por radiofrequência), que antes era passiva, agora é um dispositivo ativo que permite rastreamento remoto de produtos, pessoas e ativos de transporte.

A empresa holandesa Ambient Systems desenvolveu e implantou uma tecnologia de tagueamento que, com redes mesh, faz com que sensores interconectados rastreiem uma ampla variedade de ativos e condições ambientais.

No futuro, veículos, drones e dispositivos equipados com redes mesh ampliarão nosso alcance geográfico, nosso acesso a informação e as capacidades empresariais, que irão muito além das atuais tecnologias de rede.

Os veículos Land Cruisers da Toyota já têm sido usados com sucesso como pontos de rede mesh para fornecer capacidades dinâmicas de rede a cidades densamente povoadas e no interior da Austrália.

As redes WMN de dispositivos, máquinas e pessoas estão criando uma “rede de redes” em assistência médica que ajudará a promover a ruptura nas noções convencionais de como, onde e quando o serviço de saúde é fornecido.

Em 2015, quando o estado norte-americano da Carolina do Sul foi atingido por uma inundação sem precedentes, drones utilizando redes mesh foram usados para avaliar o dano e ajudar o pessoal de socorro a desenvolver estratégias de resgate. Essa rede ad hoc permitiu que os drones pesquisassem uma grande área e transmitissem fotografias e vídeos para diferentes sites.

Além de alívio em desastres, a tecnologia mesh, em combinação com a computação ubíqua, está afetando positivamente a água, o ar e a qualidade do solo por meio de sensores, relatórios e intervenções remotos.

Essas redes ainda facilitam um novo tipo de capacidade de aprendizado que nos permite criar, compartilhar e consumir conhecimento em qualquer parte, a qualquer tempo e entre quaisquer tipos de dispositivos.

3 Biotecnologia: formas de vida e sistemas tecnologicamente criados e melhorados

O QUÊ?

Em essência, a biotecnologia é o uso de sistemas vivos e organismos para desenvolver ou criar produtos. Avanços em tecnologia digital, engenharia genética, informática, tecnologia celular e ciências químicas estão expandindo enormemente as fronteiras da biotecnologia.

Um bom exemplo disso é o desenvolvimento do sistema CRISPR-Cas, que permite a geneticistas e pesquisadores médicos editar genes, levando-nos mais perto do dia em que doenças genéticas como o câncer de mama, a anemia falciforme ou a doença de Huntington possam ser tratadas antes que ataquem a pessoa que as carrega em seu DNA.

A ideia de manipular células vivas e da emergência da indústria de ciências da vida mudará radicalmente as fronteiras da assistência médica, da agricultura e dos produtos químicos.

POR QUÊ?

A biotecnologia tem potencial tanto para expandir as fronteiras da indústria atual como para criar indústrias totalmente novas. Mas é fácil enxergar essa tecnologia de modo muito estreito. Um fabricante de bens de capital pode ver a biotecnologia como uma tecnologia de ciências da vida, mas isso o faria perder uma série de aplicações em reciclagem, produção de energia, controle de poluição, resíduos perigosos e outras áreas.

Da mesma maneira, companhias de ciências da vida que relegam a biotecnologia ao desenvolvimento de produtos perderiam as mesmas oportunidades. Os produtos, processos e proposições de valor de empresas serão afetadas pela combinação de tecnologia, química e ciências da vida que é a biotecnologia.

ONDE?

Em comércio, biotecnologia é a base para uma nova forma de autenticação: a bio-identificação, também conhecida como biométrica. Em vez de chaves de acesso, senhas, cartões de crédito, e códigos, marcadores como retina, impressão digital e voz são a nova entrada para acesso a informação e comércio. Mais adiante, outros marcadores únicos, como orelhas, narizes, cheiros corporais e mesmo o padrão de nossas veias darão (ou impedirão) acesso a tudo –de carros a aparato eletrônico.

Esses marcadores também colocarão desafios de privacidade fundamentais. A biométrica e a bioinformática transformarão radicalmente o que sabemos e o que não sabemos sobre nós mesmos e nossa comunidade. Esse conhecimento trará insights sobre como percebemos valor e levará a novos designs ao ambiente de trabalho. A startup suíça Epicenter, por exemplo, já oferece a seus funcionários implantes do tamanho de um grão de arroz que funcionam como cartões de acesso e sistema de pagamento na cafeteria da empresa.

A Disney entrega a seus convidados pulseiras com tecnologia RFID, as MagicBands, que, além de enriquecer a experiência da pessoa, também gera um fluxo contínuo de dados e feedback que está dando forma a novas e ainda mais imersivas experiências, como as atrações Star Wars e Guardiões da Galáxia.

A bioinformática ainda proverá a Disney com dados sobre ritmo cardíaco e respiratório, abrindo novos caminhos para engajar os visitantes do parque por meio de experiências únicas para cada cliente.

Os mais óbvios e prolíficos impactos da biotecnologia se dão no campo da saúde. Imagine, por exemplo, órgãos que tenha capacidade de curar a si mesmos, como já aconteceu em um caso de degeneração macular ligada à idade. No London Project to Cure Blindness, em 2015, células oculares derivadas de células tronco foram usadas para tratar, com sucesso, um paciente com perda severa de visão. 

Um dos aspectos mais interessantes da biotecnologia é seu impacto sobre a aprendizagem. Podem ser mencionados, nesse sentido, os futuros implantes cerebrais, que aperfeiçoam ou restauram funções cognitivas, incluindo a memória. Tais dispositivos prometem enriquecer a capacidade humana de aprender ou restaurá-la naqueles que tiverem perdido a capacidade de aprender como resultado de envelhecimento, acidente ou distúrbios fisiológicos.

Na esfera ambiental, o biomonitoramento e a biorremediação, bem como o uso de micro-organismos para tratar resíduos sólidos, líquidos e gasosos são tecnologias e processos fundamentais que ajudam na criação de fábricas e outras facilidades que favorecem, em vez de prejudicarem, o meio ambiente.

4 Impressão 3D: objetos criados digitalmente e quimicamente produzidos

O QUÊ?

A impressão 3D é uma revolução com base em química que está sendo amplificada por capacidades que estão continuamente evoluindo. Esta tecnologia transforma um projeto digital em um produto final. Trata-se de manufatura sob demanda.

As impressoras 3D estão progredindo rapidamente. Elas superaram seu alcance inicial limitado de materiais e tolerâncias. Agora, estão no sistema mobile e podem precisamente imprimir qualquer coisa, de concreto a células vivas. Se pesquisas atuais forem bem-sucedidas, essas máquinas operarão no nível molecular, o que levará a uma série de novos produtos, como formas de iluminação Led e células solares, além de medicamentos super-personalizados.

POR QUÊ?

A impressão 3D levará executivos a repensar o modo como suas empresas criam e fabricam produtos e dará nova forma à cadeia de valor e aos sistemas de distribuição.

ONDE?

Os clientes passarão a envolver-se intimamente nos projetos e na produção de bens. O valor mudará dos bens acabados para as suas representações digitais. Conforme as barreiras à produção em escala caiam, uma inundação de novas oportunidades empreendedoras estará disponível para inventores e inovadores, e as instalações e maquinários de hoje serão desnecessários.

No setor de saúde, a impressão 3D vem sendo usada na confecção de ossos substitutos, próteses e equipamentos médicos tais como impressoras de tecidos e órgãos que estão mudando radicalmente estratégias cirúrgicas. Tratamentos derivados da aplicação desta tecnologia não mudará apenas o modo de entrega, mas também a dinâmica de preços dos tratamentos. Muitas soluções estão chegando ao mercado a preços relativamente baixos.

Na área de aprendizado, a impressão 3D permite visualizar e experimentar objetos conforme são criados, permitindo melhor compreensão de sua massa e proporção. O uso de protótipos impressos assim está mudando a face da arquitetura e da engenharia, levando a designs mais criativos.

Para além da produção de bens, a impressão 3D será usada para criar estruturas que ocorrem na natureza para preservá-la. Um exemplo disso é o desenvolvimento de recifes artificiais, destinados a preservar a vida marinha, que usam tecnologia digital, sistemas de posicionamento global e impressão 3D. 

5 Machine learning: análise de dados ampliada e automatizada

O QUÊ?

O machine learning diz respeito a amplo espectro de tecnologias e capacidades. Alguns cientistas abordam esse domínio puramente de uma perspectiva de programas de computadores que “aprendem”. Uma abordagem próxima inclui reconhecimento de padrões baseado em computação, modelação estatística e análises para tomada de decisão. Uma terceira perspectiva, mais holística, combina algoritmos, padrões estatísticos e inteligência artificial.

Hoje, existem três tecnologias principais que foram combinadas para liberar aspectos chave de cada perspectiva:

  • Computação em nuvem: é o acesso sob demanda a recursos de computação, incluindo aplicativos, armazenamento, redes e outros serviços. Tendo significado a separação entre armazenamento e processamento e o dispositivo, a computação em nuvem criou acesso a softwares e dados de qualquer lugar. Também ensejou o surgimento de formas criativas de colaboração, como o Pokémon Go.

  • Big data: geração e coleta de volume massivo de dados estruturados ou não na busca por novos insights e respostas aos desafios que organizações e tomadores de decisão enfrentam.

  • Inteligência artificial: são os programas e algoritmos que permitem que dispositivos digitais acessem, combinem e compartilhem dados para aprender, explicar e prever eventos, processos e tendências.

Apesar de essas três tecnologias serem descritas como distintas umas das outras, elas raramente são encontradas isoladamente. Juntas, tiveram seu impacto para além do campo da Tecnologia da Informação, pela disponibilidade de dados em muitas formas, de muitas fontes e em muitos lugares e pela capacidade de analisar eficientemente os dados e aplicar essa análise de maneira eficaz.

POR QUÊ?

O sangue da empresa moderna são os dados e a capacidade de acessá-los, organizá-los, interpretá-los e distribuí-los. Hoje, contudo, os dados são maiores do que nunca, coletados dentro e fora da companhia, e são estruturados (uma fatura, um recibo) e não estruturados (um tuíte, um vídeo). Esse fluxo caótico de dados pode parecer uma ameaça ou inconveniência, mas traz enorme oportunidade de obter insights valiosos para a operação da empresa e seu ecossistema.

No desenvolvimento do machine learning para suas empresas, líderes corporativos precisam expandir seu alcance analítico, passando de monitoramento e controle (análise operacional) para previsões e planejamento (análise estratégica). Além disso, devem estender seu alcance: de tomada de decisão altamente previsível (não interpretativa) para decisões dinâmicas e não previsíveis.

As empresas que estão fixadas em análises de controle estão vulneráveis a riscos de concorrência, em especial em setores voláteis e competitivos. Mas aqueles que aproveitam o poder do machine learning e expandem suas capacidades para incluir sistemas, processos e análises preditivas podem ter acesso a conhecimento mais profundo e acelerar seus ciclos de decisão. 

A pergunta que se faz aos líderes: em que ponto está sua empresa posicionada e quais investimentos são necessários para melhorar essa posição?

ONDE?

O big data e as análises de dados estão rapidamente eclipsando outras fontes de valor no âmbito dos negócios. As empresas têm usado os dados para compor perfis de hábitos de compras, preços e outros contextos de varejo para melhor direcionar produtos aos consumidores. Por exemplo, dados de uso de cartão de crédito agora são usados para antecipar necessidades de compradores.

O projeto Watson, da IBM, reúne big data, computação em nuvem e inteligência artificial em uma tecnologia de machine learning que é maior que a soma de suas partes. O Watson combina processamento de linguagem natural com algoritmos de recuperação de dados, raciocínio e aprendizado para pesquisar, ligar e conciliar dados estruturados ou não para compreender as questões que humanos lhe fazem e oferecer respostas que possam ser compreendidas e justificadas.

Em vez de inteligência artificial, a IBM dá a essa capacidade o nome de “inteligência aumentada” para enfatizar o modo pelo qual o Watson aumenta a inteligência humana (e não a reproduz).

Elementos que compõem o Watson já são usados em aplicativos que rodam em dispositivos como o Apple Watch, oferecendo respostas às perguntas que o usuário faz sobre exercícios, dieta e saúde. Até mesmo oferece conselhos não solicitados.

Em serviços de saúde, o machine learning promete mudar estratégias de diagnóstico e tratamento, já que marcadores vitais dos pacientes serão continuamente monitorados, viabilizando medidas preventivas e intervenções mais oportunas.

O machine learning também permite às empresas reduzir o desperdício, conservar energia e compreender o impacto ambiental de toda sua cadeia de valor. Por exemplo, bancos de dados mundiais estão sendo usados por coalizões de produtores e consumidores para monitorar produtos industrializados e assegurar que estejam sendo feitos em condições de trabalho e ambientais justas.

De maneira similar, a Global Partnership for Sustainable Development Data é uma união de governos, empresas e outras organizações globais que atingem metas de sustentabilidade compartilhando seus conjuntos de dados. Conforme esse tipo de colaboração continue a acontecer, podemos esperar progresso notável no mapeamento de riscos ligados a recursos naturais, práticas laborais e uma série de outras áreas.

6 Nanotecnologia: engenharia molecular e supermateriais

A nanotecnologia, que abrange a engenharia molecular, é uma ciência nova e radical que está concebendo e produzindo circuitos incrivelmente pequenos e dispositivos que são construídos no nível molecular da matéria, tipicamente medindo de 1 a 100 nanômetros. (Há 10 milhões de nanômetros em 1 centímetro.)

Calçados impermeáveis, emplastros medicamentosos, tecidos Dry-Fit e bandagens antibacterianas são aplicações da nanotecnologia. Mas elas apenas significam a superfície do que promete ser um salto revolucionário em capacidades dos materiais. Engenheiros moleculares estão pesquisando novos modos e novas ferramentas para ver e manipular átomos que compõem a comida que ingerimos, as roupas que usamos, os lugares que vivemos e o ar que respiramos.

POR QUÊ?

Combinações de nanomateriais podem levar a uma nova era da Lei de Moore, trazendo-nos computadores e outros aparatos com capacidade de processamento até agora inatingível. Esses dispositivos poderiam ser prontamente manipulados em várias dimensões para satisfazer a diferentes requisitos, reinventando as hipóteses de forma e função que governam atualmente os hardwares de computação.

Com a nanotecnologia, mídias e materiais que não tinha capacidade de processamento e entrega de informação podem tornar-se portais de comércio e comunicação. Uma janela de sua casa, por exemplo, poderia mostrar não apenas a vista, mas também a previsão do tempo, as manchetes de jornais, uma chamada de vídeo e seu e-mail.

ONDE?

A nanotecnologia já produz uma enorme onda de desenvolvimento de novos produtos e nanomateriais que são usados em uma série de produtos, embutindo-os com capacidades anteriormente impossíveis. As bolas de golfe podem voar em linha mais reta ao canalizar a energia do taco para corrigir tacadas e desvios. Os consoles de jogos terão sua parte gráfica excepcionalmente aperfeiçoada com fibras óticas em microescala que aceleram a transmissão de dados entre microprocessadores.

No setor de saúde, nanopartículas estão sendo desenvolvidas para transmitir drogas, calor, luz e outras substâncias a células humanas. Pesquisadores de Harvard recentemente fizeram um “nanorobô origami” de DNA para transportar carga molecular para células com câncer. Já foi possível transmitir moléculas que fizeram células se suicidarem em casos de leucemia e linfoma.

No futuro, a nanotecnologia apoiará o desenvolvimento de estruturas moleculares que replicarão células vivas. Essas estruturas serão a fundação para a regeneração ou substituição de partes do corpo perdidas em razão de infecções, acidentes ou enfermidades.

O impacto mais imediato da nanotecnologia no aprendizado será provavelmente os ganhos em ambientes de aprendizagem e ferramentas como lápis, papéis, quadros brancos e mesmo as paredes das salas de aula e de conferências. 

As superfícies angulares dos computadores e das classes tendem a dar lugar a superfícies curvas e abobadadas, conforme as leis estruturais de uso, forma e função da energia são alteradas pela nanotecnologia. Displays flexíveis que poderão ser esticados e curvados para nos rodear proverão novas ferramentas para visualizar melhor e compreender fenômenos complexos, como o clima e o corpo humano, e para conceber soluções inovadoras.

Em termos de meio ambiente, a nanotecnologia está tanto aprendendo com a natureza como ajudando a preservá-la. Usando nanoestruturas derivadas da natureza, cientistas desenvolveram produtos como a fibra Kevlar (inspirada na seda), adesivos (inspirados em lagartos e mexilhões) e coberturas (inspiradas em folhas de lótus). 

Ao mesmo tempo, engenheiros moleculares estão desenvolvendo novos tipos de estruturas, tais como nanopartículas de ferro, que se dispersam em um curso de água e decompõem solventes orgânicos que são poluentes. Similarmente, nanopartículas de prata são usadas para reduzir significativamente a quantidade de poluição que resulta da produção de plástico, tinta, detergente e outros materiais. 

Esses tipos de partículas também podem limpar o ar dos vírus e outros microorganismos prejudiciais. No futuro, a nanotecnologia poderá melhorar a eficiência de painéis solares e servir de base para o armazenamento de energia, tornando as redes inteligentes de energia ainda mais inteligentes.

7 Robótica: sistemas mecânicos precisos, ágeis, inteligentes

O QUÊ?

Fazendo a ponte entre as disciplinas de engenharia mecânica, engenharia elétrica e a ciência da computação, a robótica constitui o design e o desenvolvimento de sistemas mecânicos que podem operar de maneira autônoma ou semiautônoma. A robótica não é uma nova tecnologia em si, e se fosse relegada a desempenhar pequenos conjuntos de tarefas repetitivas, não mereceria nossa atenção. Mas, na década que passou, a robótica passou por uma transformação radical conduzida por três atributos:

  • Precisão: capacidade de realizar acuradamente tarefas com extrema exatidão e nível de detalhe.

  • Agilidade: capacidade de realizar uma variedade de tarefas rapidamente e facilmente.

  • Inteligência: capacidade de adquirir e aplicar novos conhecimentos e habilidades.

POR QUÊ?

A robótica transcendeu suas raízes de redução de custo e automação. Agora, vem sendo aplicada na reimaginação de processos em toda a empresa, para abrir novas fronteiras em inovação de negócios.

Os robôs vêm ajudando clientes a encontrar e adquirir produtos, fazer check-in em aeroportos e receber e entregar ordens de serviço. Eles são parte essencial na nova força de trabalho, na qual dão assistência a funcionários que tenham amplo leque de tarefas operacionais, de serviço e gerenciais. E estão rapidamente definindo o futuro dos transportes por terra, mar e ar.

ONDE?

No campo dos negócios, os robôs estão montando produtos cada vez mais complexos e aumentando o desempenho humano. Por exemplo, as plataformas robóticas que são construídas pela Kuka Robotics, a ABB e a Rethink Robotics são mais leves em peso e adaptáveis, e capazes de sentir quando peças são encaixadas corretamente. Plataformas como essas viabilizam ciclos de montagem mais rápidos, adaptação instantânea e reconfigurações fáceis na produção.

A robótica ainda entregará, a um custo muito mais baixo do que o atual, eficiências de manufatura que antes eram reservadas aos investimentos em maquinário industrial pesado.

Além disso, os robôs estão interagindo com humanos de modos que podem antecipar o desenvolvimento de novos laços relacionais. Cientistas da Nanyang Technological University, de Singapura, criaram um robô recepcionista chamado Nadine, que recebe os visitantes, sorri, faz contato visual e aperta mãos. Ele também reconhece visitantes que retornam e inicia conversas com base em bate-papos anteriores. Conforme os robôs se tornem nossos colegas, ajudantes e tutores, a interface de tecnologia humana tende a evoluir de maneiras inesperadas.

No que diz respeito à área de saúde, a robótica está revolucionando a cirurgia. Exemplo disso é o Da Vinci Surgical System, que permite aos médicos traduzir seus movimentos de mão em movimentos precisos de pequenos instrumentos dentro do corpo de um paciente. Para ele, um procedimento da Vinci pode oferecer todos os benefícios potenciais de um procedimento minimamente invasivo, incluindo menos dor e perda de sangue.

No campo do aprendizado, os robôs podem servir de representantes para instrutores humanos, diminuindo custos educacionais e estendendo o alcance da educação. Os robôs podem ser usados para certificar-se de que as crianças com dificuldades ou doenças não fiquem para trás, enquanto oferece um senso de presença que enriquece a experiência de aprendizado.

Novas formas de robótica permitirão aos educadores criarem maneiras mais significativas e humanizadas de ensino online. Além disso, simulações baseadas em robótica podem criar o contexto educacional que viabiliza o aprendizado complexo sem os riscos associados.

Na esfera ambiental, a robótica está permitindo a criação e a instalação de complexos sistemas de energia solar, turbinas eólicas e energia de onda. formas avançadas de reciclagem, monitoração ambiente e exploração de energia também estão sendo propiciadas pela robótica.

O espaço sideral é tido como domínio da robótica. Aprendemos muito sobre o universo usando essa tecnologia nos programas Mariner 4, Viking e Voyager. A robótica avançada continuará a nos ajudar a tirar proveito dos recursos do universo. Atualmente, o California Institute of Technology e a Northrop Grumman estão desenvolvendo uma tecnologia robótica dinâmica que capturará a luz do sol do espaço para convertê-la em energia de radiofrequência e transmiti-la para estações na Terra, onde será convertida em eletricidade. 

A ascensão das supertecnologias

As sete tecnologias descritas neste relatório mudarão nosso mundo de mais maneiras do que podemos imaginar. Mas a mudança mais intrigante e de longo alcance tende a resultar das combinações de suas capacidades. Juntas, farão surgir supertecnologias.

Elas abrirão novas fronteiras digitais que eventualmente mudarão a maneira como vivemos. A integração de tecnologias digitais com as ciências dos materiais, a química e a biológica podem alterar a vida.

Considere a assistência médica. Tecnologias de computação ubíqua, tais como as blockchains, manterão os dados de assistência à saúde descentralizados e mais próximos dos pacientes que as geram. Outros dados relevantes serão mantidos em blocos próximos aos provedores de serviços de saúde. 

O machine learning pode ser acrescentado à blockchain para quebrar a sequência tradicional de exames clínicos e tratamentos. Pacientes, pesquisadores, empresas farmacêuticas e médicos podem coletivamente usar esses dados para realizar testes e obter benefícios que serão personalizados e disponíveis mais facilmente.

Quando a impressão 3D de medicamentos e equipamentos médicos for adicionada a essa cadeia, uma forma inteiramente nova de tecnologia de cuidados médicos nascerá.

Supercapacidades similares que permitem criação, fluxo e atualização instantâneos de dados – junto com a capacidade das máquinas de interpretar, sintetizar e agir inteligentemente sobre eles – já estão mudando a face dos sistemas financeiros, do comércio, do desenvolvimento de produtos, da maneira como votamos e muito mais.

São esses tipos de combinações que têm mais potencial para transformar os sistemas tradicionais de comércio, aprendizado, saúde e também nosso meio ambiente. Essa é a razão pela qual essa onda tecnológica é tão diferente daquelas do passado. A natureza universal dessa revolução carrega com ela mais peso, devido a seu poder tanto de fazer o bem como de causar malefícios. 

Ouvimos alertas desesperados sobre como a tecnologia poderia diminuir o papel dos humanos ou até mesmo suplantá-lo. Creio, porém, que é mais provável que as sete tecnologias e suas combinações simbióticas enriquecerão a experiência humana. Eu ofereço este relatório aos executivos estrategistas da atualidade como meio de iniciar um diálogo estruturado sobre como a tecnologia pode alterar o futuro da geração de valor e das trocas, dos produtos e dos mercados.

Quase todos os setores de atividade serão impactados por essas sete tecnologias e, quando isso acontecer, a mudança disruptiva – ainda mais disruptiva do que a que estamos vivendo hoje – poderá vir rapidamente e de modo inesperado. Espero ter provocado em você a “fagulha de loucura” necessária para fazer frente às oportunidades que virão. 

SOBRE A PESQUISA

Este estudo incluiu duas pesquisas com especialistas em tecnologia dos Estados Unidos, bem como empreendedores e executivos que tinham ao menos dez anos de experiência no setor. Os respondentes, mais de 300 pessoas, representam empresas novas (entre 2 e dez anos de atividade) que operam em setores tecnológicos emergentes e de rápida evolução mundialmente.

A primeira rodada de questionários avaliou o impacto de uma lista de tecnologias específicas nas áreas de comércio, saúde, meio ambiente e aprendizado. A segunda, avaliou a validade e o impacto de sete tecnologias. Depois disso, foram realizadas entrevistas com pessoas aleatoriamente escolhidas, além das visitas a campo para validar as tecnologias identificadas e reunir mais informações sobre o contexto de seu impacto.

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Autoria

Albert H. Segars

Albert H. Segars é professor-emérito da Kenan-Flagler Business School da University of North Carolina (UNC), situada em Chapel Hill, Carolina do Norte, EUA. É também diretor do Center for Sustainable Enterprise da UNC.

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Se nada for feito, a inteligência artificial pode se tornar uma das maiores emissoras de carbono da economia global. Mas com boas práticas, estratégias eficientes, conscientização e, claro, maior uso de fontes renováveis de energia, esse quadro pode ser revertido. Veja como agir

Niklas Sundberg