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Como se constrói o futuro sustentável?

Segundo especialistas, essa construção está baseada na tríade ação coletiva, liderança ousada e tecnologias inteligentes

Ticiana Werneck
15 de julho de 2024
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“Se você pensava que a disrupção causada pelo digital foi grandiosa, espere para ver como as empresas irão correr para transformar seus negócios para que se tornem verdadeiramente sustentáveis”. Essa fala de Antonio Nieto-Rodriguez, do Strategy Implementation Institute, em artigo na Harvard Business Review, mostra que não há outro caminho: as companhias precisam criar uma agenda ESG para continuarem competitivas no mercado.

Para Marina Grossi, presidente do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (Cebds), “ser sustentável é o único caminho possível para os negócios e, portanto, deve ser um pilar estruturante das estratégias e da atuação das empresas, desde o conselho de administração, sua diretoria-executiva, perpassando todos os níveis da empresa”.

Na visão de Gabriel Santamaria, gerente-executivo da gerência de sustentabilidade empresarial do Banco do Brasil, essa discussão vem ganhando novos contornos. Se antes o tema era considerado apenas do ponto de vista do risco e de suas formas de mitigação, passa, hoje, a ser percebido também como oportunidade para geração de novos negócios e de posicionamento da marca. “Acreditamos que a sustentabilidade promove negócios, suporta as necessidades dos nossos clientes, gera rentabilidade e contribui para um mundo melhor. Com esse olhar, passa a ocupar, cada vez mais, uma posição de transversalidade dentro das empresas, ao estar presente na visão, nos propósitos e valores declarados, o que permite ser tangibilizada a partir de ações, indicadores e metas mensuráveis”, reflete.Segundo ele, no Banco do Brasil, a sustentabilidade é percebida como um elemento essencial para a geração de valor em toda a cadeia. “Ela impacta a maneira como oferecemos nossos produtos e serviços e a forma como nos relacionamos com os diferentes stakeholders”.

O olhar a todos os stakeholders é fundamental já que as cobranças pelo modelo de desenvolvimento ambientalmente correto, socialmente justo e economicamente viável vêm de todas as partes. “Qualquer ação em direção oposta a essa significa perda de competitividade, represálias comerciais e prejuízos, afetando a geração de receita, empregos e renda. Os negócios que não considerarem ESG terão cada vez mais dificuldade de prosperar”, analisa Grossi, do Cebds.

Para entender o que significa futuro sustentável nas organizações, o Capgemini Research Institute escolheu a sustentabilidade como pauta da edição inaugural do projeto Conversations for Tomorrow, em que captou pensamentos e ideias criativas de líderes empresariais, organizações sem fins lucrativos, governos e acadêmicos pelo mundo. A discussão com essas lideranças mostra que o futuro sustentável se baseia em três pilares: ação coletiva, liderança mais ousada e tecnologias mais inteligentes. Além disso, os especialistas também apontaram que as companhias devem encontrar formas inovadoras de causar um impacto positivo no mundo construindo, assim, vantagem competitiva.

Ação coletiva

De acordo com Emanuel Queiroz, diretor de soluções de nuvem e sustentabilidade da Capgemini Brasil, cada vez mais haverá um movimento para unir forças entre empresas concorrentes, entre as companhias e seus clientes, e entre as empresas e seus fornecedores. “Setores se unirão em conjunto para explorar novas linhas de produtos e serviços em pró da longevidade do negócio”, acredita. A economia circular ganhará destaque. Exemplos pelo mundo não faltam. Recentemente, a Nestlé colaborou com o McDonald’s para transformar o óleo de cozinha usado em diesel renovável em mais de 250 estabelecimentos nos Países Baixos.

Para Grossi, do Cebds, essa é uma forma de fazer frente às crises globais que o mundo enfrenta e que não serão resolvidas com iniciativas individuais ou setorizadas. “É fundamental que haja união de forças e habilidades para fazer frente às mudanças climáticas, à perda de biodiversidade e à desigualdade social crescente. Governos, empresas, academia, ONGs, todos devem buscar coordenar esforços e ações, para que este novo modelo de desenvolvimento que já vemos acontecer se estabeleça com o menor custo social”, atesta ela.

Se a colaboração entre empresas é benéfica, a pressão de uma companhia sobre outra pode ser o incentivo que falta para evoluir. Exemplo disso é a BNP Paribas, de serviços financeiros, que anunciou seu cronograma de saída do setor de carvão. Desde 2017, o financiamento para novas usinas a carvão foi completamente interrompido. O objetivo é alinhar a carteira de crédito para apoiar a meta de temperatura abaixo dos 2° C do Acordo de Paris.

A sustentabilidade também alterou a forma como a empresa concede empréstimos. Os comitês de crédito da BNP Paribas utilizam critérios de empréstimo que vão além das métricas financeiras e incluem riscos potenciais do ponto de vista ESG. “Isso nos ajudou a trazer o tema das mudanças climáticas para nossos clientes e fazê-los se sentir responsáveis”, conta Laurence Pessez, chefe de responsabilidade social corporativa da BNP Paribas no relatório Conversations for Tomorrow. “No início”, diz ela, “nossos gerentes de relacionamento encontraram dificuldades para conduzir essas conversas com clientes corporativos. Agora, a maioria dos clientes em diferentes países está trabalhando na transformação de seus modelos de negócios, especialmente no âmbito climático”.

Internamente, o banco é neutro em carbono desde 2017. “Alcançamos a neutralidade de carbono de várias maneiras: com redução nas emissões relacionadas a viagens de negócios, eficiência energética em edifícios e centros de dados, e o uso de energia renovável e compensação das emissões residuais”, explica Pessez.

Alinhar objetivos de sustentabilidade entre os parceiros da cadeia de valor, como fornecedores e distribuidores, quando se atua em mais de 200 países é um enorme desafio. É esse o cenário da The Coca-Cola Company. A empresa emprega mais de 700 mil pessoas e atende a cerca de 30 milhões de pontos de venda pelo mundo. “Reconhecemos que não podemos alcançar nossos objetivos de sustentabilidade sozinhos. Sendo uma empresa global com ampla cadeia de suprimentos, temos um importante papel de criar mudanças para alcançar uma economia mais justa e sustentável”, comenta a diretora de comunicações, sustentabilidade e parcerias estratégicas da The Coca-Cola Company, Beatriz Perez, também ouvida pela Conversation for Tomorrow.

Entre as iniciativas da empresa está a facilitação de auditorias de terceiros como parte do programa de diligência para garantir que os fornecedores atendam aos padrões de direitos humanos e às condições de trabalho e manejo responsável das fazendas estabelecidas em seus princípios orientadores de agricultura sustentável.

A executiva ressalta o poder transformador das parcerias e comenta que um dos aprendizados da pandemia de covid-19 é que não se pode agir sozinho. “A crise destacou a natureza interconectada do nosso mundo, demonstrou a necessidade de mudanças sistêmicas profundas e revelou que as melhores soluções frequentemente residem na capacidade e conhecimento local, que podem ser escalados”, comenta.

No próximo fórum, saiba como a liderança ousada e as tecnologias inteligentes contribuem para um futuro sustentável.”

Ticiana Werneck
Ticiana Werneck é colaboradora de MIT Sloan Review Brasil.

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