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DeFi: novos horizontes para o mercado financeiro

Alguns o enxergam como oportunidade, outros como risco. O fato é que os investimentos e experimentos em DeFi já começaram a acontecer em todo o mundo abrindo oportunidades para inovação e novos negócios

Denise Turco

18 de Outubro

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Artigo DeFi: novos horizontes para o mercado financeiro

O DeFi (decentralized finance) tem potencial para revolucionar o mercado e redefinir o papel das instituições financeiras ao trazer uma abordagem disruptiva para retirar intermediários das transações. Para o cliente, a vantagem em relação ao modelo tradicional, ou CeFi (centralized finance), é acessar serviços financeiros – empréstimos, compra e venda de ativos, compras internacionais etc –, de qualquer lugar do mundo, sem a necessidade de intermediários, com transparência e autonomia.

A consolidação de tecnologias como blockchain e das criptomoedas prepararam o terreno para essa mudança. A plataforma Ethereum, por exemplo, é a base para muitos projetos DeFi enquanto as stablecoins são referência para diversos protocolos descentralizados. Somado a isso, os efeitos de tokenização, DLTs e das moedas digitais – as CBDCs (Central Banking Digital Currency), no caso do Brasil com o Real Digital, o DREX –, mostram que os governos também entenderam que a moeda fiduciária pode ser emitida por meio de novos mecanismos.

O DeFi pode parecer distante da realidade das organizações, mas é uma das dez tendências listadas no relatório Retail Banking Top Trends 2023, feito pelo Capgemini Research Institute. O estudo aponta que, depois de um período de ceticismo, as organizações financeiras – a exemplo de Morgan Stanley, Citi Ventures, J.P. Morgan e Goldman Sachs –, passaram a considerar o DeFi em suas estratégias nos últimos dois anos, apesar da instabilidade e das perdas que ocorreram em 2022 e da regulamentação ainda incipiente. A maioria dos investimentos foi direcionada para DeFi, web3, infraestrutura, tokenização, provedores de dados criptográficos e empresas de segurança blockchain. Segundo o estudo, empréstimos têm sido um dos segmentos de DeFi que mais crescem.

“O cenário internacional é complexo e heterogêneo, variando em cada país ou região, mas a tendência global é: o DeFi veio para ficar. Os ativos digitais já foram entendidos como ferramentas apropriadas para fazer transações de diversos tamanhos, níveis e escalas de uma melhor forma”, analisa Fulvio Xavier, líder de soluções para bancos na Capgemini Brasil.

Segundo ele, o tema avança no País, onde big techs, exchanges, bancos, entidades, consultorias, empresas de tecnologia financeira e até varejistas estão de olho em DeFi. “Todos os atores, dos menores aos maiores, estão de certa forma envolvidos com isso. A maioria das grandes instituições já tem uma área de criptoativos ou de digital assets, afinal a tecnologia já se provou factível e viável para representação de ativos financeiros, de ativos não financeiros, mas de formato digital, e uma série de outras linhas de trabalho que estão sendo implementadas”, resume Xavier.

“No Mercado Bitcoin, por ora, oferecemos a negociação de tokens de governança de protocolos de DeFi, permitindo que os clientes se beneficiem do sucesso desse tipo de aplicação”, conta Fabrício Tota, diretor de novos negócios no Mercado Bitcoin (MB). Na visão dele, o uso do DeFi ainda é restrito às pessoas já engajadas no mundo cripto. “No entanto, há um interesse cada vez maior por parte do mercado em explorar as oportunidades que o DeFi oferece e algumas soluções pontuais começam a surgir”, avalia o executivo.

Desafios para empresas e usuários

Para desbravar o território das finanças descentralizadas, parte do desafio está relacionada às questões de infraestrutura tecnológica, segurança e integração com o legado. “Todas as tecnologias novas conseguem sobreviver sem o legado, mas o legado não vai conseguir sobreviver sem elas. É preciso integração”, afirma Xavier, da Capgemini. Além disso, lembra o executivo, ainda não existe um padrão tecnológico definido e, portanto, o mercado ainda precisará desenvolver mecanismos para comunicação entre o mundo descentralizado e o centralizado.

Outro ponto central é a experiência do usuário, porque as interfaces que permitem a interação com os protocolos de DeFi ainda são complexas. “Hoje, somente usuários fluentes em cripto e blockchain conseguem interagir com a maior parte dos protocolos. Da mesma forma que as exchanges foram a ponte para a maior parte dos usuários comprarem seus primeiros criptoativos, ainda precisamos de soluções em larga escala para fazer a ponte com DeFi”, diz Tota, do MB.

Outro desafio, este comum tanto para empresas como clientes, é o uso efetivo das estruturas de emissão em redes públicas e de pools de liquidez, segundo Xavier. “Num pool de liquidez, por exemplo, posso aplicar meu dinheiro, outra pessoa pegá-lo emprestado e recebo juros disso. O pool de liquidez faz todo o trabalho sem precisar de agência física, pessoas nem modelos tradicionais. Esses e outros mecanismos de finanças descentralizadas, como smart contracts, garantias, trocas atômicas etc, precisam de mais experimentação e de maturidade, porque ainda não são muito explorados pelo ambiente corporativo”, considera Xavier.

Visão de negócio

Quando se fala em DeFi, é comum surgir a discussão: o CeFi vai desaparecer? É bem provável que não, segundo os especialistas. O mercado pode esperar um equilíbrio entre sistemas centralizados e descentralizados, o que deve impulsionar a inovação nas instituições financeiras, que precisarão se adaptar para fornecer novos produtos e serviços.

“Inicialmente, não teremos uma disrupção do modelo tradicional, mas no futuro precisaremos entender qual será o caminho a ser seguido”, pontua Xavier. “Nesse sentido, nossa recomendação é que as instituições comecem a criar o seu próprio framework para os ativos digitais e que ele permeie toda organização, porque hoje as iniciativas são isoladas, com o Real Digital ou a emissão de empréstimo, por exemplo”, orienta o especialista da Capgemini.

Assim, mais do que tecnologia, DeFi envolve decisões de negócios. “Com um framework, a empresa consegue entender quais os ativos e em quais redes pretende emitir e, a partir daí, surgem muitas possibilidades para criar soluções, como, por exemplo, fazer um pool de liquidez para usar DeFi junto com o ativo, distribuir em alguma decentralized exchange ou só em parceiros centralizados etc. As decisões são muito mais de negócio do que de tecnologia”, afirma Xavier.

“Ao traçar uma estratégia para levar o DeFi adiante é crucial atentar-se ao problema que se deseja resolver. Usar DeFi somente pelo buzz não vai levar ninguém a lugar algum. A grande promessa do DeFi é a desintermediação. Portanto, é fundamental saber o que se pretende mudar e quais processos terão de ser repensados à luz de uma solução essencialmente descentralizada”, afirma Tota.

Para ele, o futuro é promissor. “Podemos esperar um maior desenvolvimento de protocolos e aplicativos DeFi, com a adoção em massa de serviços financeiros descentralizados. A interação entre DeFi e outras tendências, como a tokenização de ativos reais e a integração com sistemas financeiros tradicionais, abrirá novas oportunidades para a inovação e a colaboração. Além disso, a regulamentação do setor também tende a evoluir e conforme a adoção crescer, esse será um tema relevante a ser discutido pelos reguladores”, finaliza Tota.

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Denise Turco

Denise Turco é colaboradora da MIT Sloan Review Brasil

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