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ESG: tecnologia acelera a transformação sustentável

A área de tecnologia atua estrategicamente com duas perspectivas: a sustentabilidade da sua própria estrutura e o desenvolvimento de soluções que ajudem o mercado a cumprir os objetivos ESG

Denise Turco

02 de Agosto

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Artigo ESG: tecnologia acelera a transformação sustentável

Com o desafio de alcançar suas metas de sustentabilidade, grandes companhias estão cada vez mais atentas ao G do ESG. Na governança, há um componente fundamental para atingir esses objetivos: a tecnologia. Desde a mensuração e controle das emissões de carbono até o desenvolvimento de novos negócios sustentáveis, a tecnologia é estratégica, possibilitando estruturar dados confiáveis para a tomada de decisão assertiva e economicamente viável. Além disso, auxilia na geração de relatórios e indicadores, rastreabilidade da informação e gestão de energia, por exemplo.

Nesse sentido, a área de tecnologia atua em duas frentes quando o assunto é sustentabilidade: olhando para dentro da própria estrutura e operação de TI; e para fora, na implantação de ferramentas e soluções capazes de apoiar e criar oportunidades de negócios para os clientes. Segundo estimativa do Gartner, 50% dos CIOs devem ter métricas de desempenho de TI vinculadas à sustentabilidade até 2025.

O estudo A World in Balance, feito pelo Capgemini Research Institute, aponta que as organizações estão investindo em tecnologias para limitar o impacto ambiental: 55% já sabem qual é a sua pegada de carbono na área de tecnologia, ou seja, as emissões em ferramentas digitais, aplicativos, sistemas de TI e centros de dados. Além disso, 60% apostam em IA e automação para sustentabilidade e 56% em IoT para monitorar ou reduzir o consumo de energia.

“Vivemos um momento ímpar em que as grandes empresas têm se mobilizado de maneira genuína para endereçar o tema ESG. Elas já têm metas e emitem relatórios de sustentabilidade de maneira consistente há alguns anos, mensuram o impacto na sociedade, com governança e gestão de dados, além de ações concretas para mitigar os impactos”, avalia Emanuel Queiroz, diretor de soluções de cloud e sustentabilidade na Capgemini Brasil. Isso é fundamental, diz, uma vez que o mundo vive um momento crítico, especialmente com a aceleração do aquecimento global e mudanças climáticas que trazem impactos diretos na economia.

“Mas apesar desses avanços, as organizações têm dificuldade de dar o próximo passo”, afirma o executivo. Hoje, entre os vários desafios enfrentados, uma das principais dores envolve a mensuração e a redução das emissões de carbono de escopo 3, as emissões indiretas geradas por fornecedores e clientes.

TI mais sustentável

Na operação da TI, Queiroz destaca um ponto de atenção para as empresas. “Os data centers são responsáveis por 10% das emissões de CO2 na atmosfera. É um número bastante relevante”, afirma. Isso porque os data centers são grandes consumidores de energia e, além disso, a produção e descarte dos equipamentos envolvem minérios e metais pesados, com grande impacto para o meio ambiente. “A tecnologia tem um papel para viabilizar e facilitar a busca pelo desenvolvimento sustentável, mas também para reduzir as suas próprias emissões”, afirma o executivo da Capgemini.

Ele conta que a companhia participou de um projeto em que fez a revisão do landscape de tecnologia da KOF/Coca Cola Femsa, no México. Com uso de computação em nuvem e redução da quantidade de sistemas necessários para a operação de envase e distribuição de bebidas, a KOF conseguiu diminuir 4 milhões de toneladas de emissões de carbono em um período de três anos.

Outra empresa que tem no radar a relação de tecnologia e sustentabilidade é a Microsoft. “Todos procuram fazer a chamada transformação digital e incluir nos seus negócios uma camada de modelos baseados em tecnologia. Nesse sentido, é muito difícil conseguir eficiência com data centers. Por isso, migrar para a nuvem é o primeiro passo para se tornar mais verde e eficiente”, concorda Ronan Damasco, diretor de tecnologia da Microsoft Brasil.

Ele lembra que a estrutura de cloud dá suporte aos modelos de inteligência artificial, principalmente a generativa, e computação quântica. “Levar os workloads para nuvem também é uma maneira de se beneficiar desses avanços tecnológicos, porque eles só rodam em nuvem”, destaca Damasco.

Suporte para negócios sustentáveis

Além do uso em escala da computação em nuvem, que reduz a dependência de grandes data centers, soluções como digital twin, inteligência artificial, computação quântica, IoT, entre outras, têm apoiado as empresas que buscam o desenvolvimento sustentável.

Na avaliação de Queiroz, empresas dos setores de tecnologia e do sistema financeiro podem ser aliadas para ajudar outras organizações a se tornarem mais sustentáveis. Isso acontece, entre outros fatores, porque elas têm, de maneira geral, uma governança robusta e alta maturidade em sua jornada interna de sustentabilidade, com um aprendizado ao longo dos últimos anos que serviu como uma espécie de laboratório para desenvolver soluções de sustentabilidade para o mercado.

A Capgemini, por exemplo, tem um histórico de quase duas décadas de práticas de sustentabilidade aplicadas à própria operação e em projetos junto a clientes e parceiros, com reconhecimentos e premiações globais. A companhia definiu oito compromissos globais que permeiam suas ações e projetos. Até 2030, a meta é atuar nas mudanças climáticas sendo net zero business e, no pilar social, prioriza a diversidade e a inclusão.

Já a Microsoft tem o objetivo de zerar as emissões de carbono, reduzir o consumo de água e de resíduos até 2030, além de proteger uma maior quantidade de terras do que usa. A empresa desenvolveu o Planetary Computer, uma fonte de dados sobre meio ambiente, como imagens de satélite, biodiversidade e clima para apoiar várias iniciativas no mundo. No Brasil, por exemplo, em conjunto com Imazon e Fundo Vale, a Microsoft utiliza essa plataforma para prever o desmatamento na Amazônia e, assim, auxiliar nas ações de combate a esse problema e na elaboração de políticas públicas.

Para as empresas, no ano passado, lançou a solução Microsoft Cloud for Sustainability, ferramenta baseada em nuvem que faz a gestão de dados de carbono. A solução agrega dados dos vários sistemas utilizados pelas empresas, como viagens e consumo de energia elétrica, para calcular a pegada de carbono, emitir relatórios e gerar insights para estabelecer metas. Segundo Damasco, empresas no Brasil já utilizam a ferramenta e a Microsoft pretende divulgar, em breve, os resultados. Além disso, a companhia desenvolve um modelo similar de solução para gestão de água.

Em junho deste ano, a companhia anunciou o lançamento do Azure Quantum Elements, uma biblioteca de inteligência artificial para uso em computação quântica focado em química e ciência dos materiais. “A computação quântica traz para o meio ambiente uma esperança de resolver problemas muito complexos que temos hoje”, afirma Damasco. Ele explica que esse tipo de tecnologia possibilita o estudo aprofundado de processos como a fotossíntese, que pode ser um modelo para produzir baterias mais eficientes, ou da fixação do nitrogênio para reduzir o uso de fertilizantes.

O sistema financeiro também se destaca na combinação entre ESG e tecnologia, dando suporte para viabilizar a implementação das ações. O Banco do Brasil, por exemplo, possui desde 2005 um plano de sustentabilidade, com compromissos de longo prazo divididos em três eixos: negócios sustentáveis, investimento responsável e gestão ESG.

Segundo Gustavo Garcia Lellis, diretor de suprimentos, infraestrutura e patrimônio do Banco do Brasil, a carteira de negócios sustentáveis do banco registrou crescimento de 13,3% no período de 12 meses, alcançando R$ 328 bilhões. “Destaque para a linha de energias renováveis, que obteve um crescimento de mais de 60%. Em abril de 2023, emitimos o nosso primeiro Sustainability Bond no mercado internacional, no montante de US$ 750 milhões, pelo prazo de sete anos. Os recursos serão aplicados no financiamento de projetos de energia renovável e de MPEs, principalmente aquelas lideradas por mulheres”, conta.

Além disso, em junho o Banco do Brasil lançou duas soluções: a compra dos imóveis vendidos pelo banco com créditos de carbono; e assessoria especializada para os clientes que desejem monetizar suas áreas verdes e ingressar no mercado sustentável. “Por meio de uma plataforma desenvolvida internamente, o banco identifica áreas rurais de clientes com potencial para geração de crédito de carbono e conecta proprietários de imóveis a climatechs especializadas”, diz Lellis.

Nas iniciativas internas, o Banco do Brasil investe em diversas frentes, como em uma matriz energética limpa e na redução das emissões de Gases do Efeito Estufa (GEE). A tecnologia é aliada em vários projetos internos, como o piloto em 300 unidades de negócios em que monitorou o consumo de água, energia e equipamentos com uso de IoT. No primeiro semestre deste ano, a iniciativa gerou um resultado de R$ 1,5 milhão e, com isso, a companhia está expandindo o uso do IoT para mais de 800 dependências no País.

Por conta dessas e outras ações, o BB já foi reconhecido em diversos fóruns nacionais e internacionais. Em 2023, foi a única empresa da América Latina a receber o Selo Terra Carta, da Sustainable Markets Initiative (SMI), iniciativa do Rei Charles III que reconhece organizações do setor privado que lideram a aceleração global para uma transição sustentável.

Para Queiroz, da Capgemini, a tecnologia é uma ferramenta para o modelo de uma sociedade e negócios mais sustentáveis. “Esse é um caminho para ser trilhado em colaboração. Empresas de tecnologia não farão nada sem empresas de comunicação, sem o setor financeiro, sem o setor produtivo, sem o varejo. O tema ESG tem mudado a relação transacional de cliente e fornecedor para uma relação de parceria em prol das futuras gerações”, conclui o executivo.

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Denise Turco

Denise Turco é colaboradora da MIT Sloan Review Brasil

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