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Fórum: A era da hiperpersonalização - Coprodução MITSMR + Capgemini

7 min de leitura

Liderança ousada e tecnologias inteligentes: pilares do futuro sustentável

Esses fatores, junto com a ação coletiva, formam a tríade para a construção da sustentabilidade segundo especialistas ouvidos para o relatório Conversations for Tomorrow

Ticiana Werneck

06 de Setembro

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Artigo Liderança ousada e tecnologias inteligentes: pilares do futuro sustentável

No Fórum anterior, abordamos o projeto Conversations for Tomorrow, do Capgemini Research Institute, que captou pensamentos e ideias criativas de líderes empresariais, organizações sem fins lucrativos, governos e acadêmicos pelo mundo sobre futuro sustentável que, segundo os especialistas, se baseia em três pilares: ação coletiva, liderança mais ousada e tecnologias mais inteligentes. Já falamos sobre ação coletiva e agora vamos para os próximos dois pilares.

Liderança ousada

Ter lideranças focadas em sustentabilidade na cúpula das companhias é essencial para escalar as iniciativas relacionadas ao tema nas empresas. Segundo o levantamento do Capgemini Research Institute, ter um chefe de sustentabilidade dedicado, que trabalha em colaboração com outras unidades de negócio, ajuda a garantir o foco na condução da estratégia de sustentabilidade e no avanço do programa da empresa. A General Motors, por exemplo, nomeou seu primeiro diretor de sustentabilidade para liderar os esforços da companhia em defesa global de operações de fabricação e mobilidade sensíveis ao clima, além de direcionar o design e a implementação da infraestrutura para veículos elétricos.

O estudo aponta que mais de 60% dos líderes ouvidos acompanham a implantação de programas de sustentabilidade e todas as suas questões transversais, que passam pela escolha de fornecedores, posicionamento de marca, design de produtos etc. “É uma resposta da liderança às pressões dos diferentes stakeholders”, comenta Emanuel Queiroz, diretor de soluções de nuvem e sustentabilidade da Capgemini Brasil.

No entendimento de Marina Grossi, presidente do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (Cebds), “conselheiros, CEOs e todo o C-Level das empresas precisam estar letrados nas questões sociais, ambientais e de governança. São essas pessoas que irão direcionar os investimentos e as estratégias da organização e que precisam tomar decisões corretas e bem embasadas para garantir o futuro do negócio”.

O Cebds, por sua vez, fomenta a conscientização e o engajamento dos CEOs entre os associados por meio de iniciativas como o conselho de líderes, formado por altos executivos de grandes empresas, para que possam debater em conjunto os desafios dos negócios e encontrar soluções conjuntas para eles. Além disso, a organização promove encontros periódicos de diálogo tanto com governos quanto com a sociedade civil, para discutir políticas públicas e soluções concretas que visam equilibrar sustentabilidade e competitividade, gerando valor a todos.

“Esse protagonismo e engajamento de lideranças se revertem”, comenta Gabriel Santamaria, gerente-executivo da gerência de sustentabilidade empresarial do Banco do Brasil, “em vantagens competitivas, uma vez que ao produzirmos soluções de processos, negócios ou serviços com viés ESG estamos não apenas contribuindo para o desenvolvimento sustentável da sociedade, como também nos antecipando a pressões regulatórias ou de mercado”.

O Banco do Brasil, em mais de dois séculos de existência tem, pela primeira vez, uma mulher à frente da presidência da empresa. “Essa conquista reflete a evolução de nossas práticas e a nossa capacidade de tornar o ambiente de negócios mais diverso e plural”, comenta Santamaria. De acordo com sua perspectiva, uma liderança responsável consegue compreender as questões de sustentabilidade de maneira sistêmica e com viés de longo prazo. Isso implica em entender o contexto global para analisar os impactos aos quais a empresa está exposta e os modelos de negócios que têm mais chances de adaptação a fim de gerar impacto positivo na economia, sociedade e meio ambiente.

Isso, também, vai ao encontro da demanda por uma “liderança mais ousada”, trazida pelo projeto Conversations for Tomorrow. Essa ousadia pode ser entendida como um estímulo à evolução de novos modelos de negócio. Empresas líderes já dão passos nessa direção. A BP, por exemplo, está mudando de uma empresa internacional de petróleo para uma companhia de energia integrada, com a meta de alcançar emissões líquidas zero de carbono e de interromper toda a exploração de petróleo em novos países.

Da mesma forma, organizações como Unilever, Procter & Gamble, Nestlé, Coca-Cola e PepsiCo oferecem assinaturas de produtos comuns, como xampu, detergente e sorvete, em embalagens reutilizáveis. As empresas não devem hesitar em dar esse salto. A dinamarquesa DONG Energy (agora Orsted) saiu do negócio de petróleo e gás em 2017 para focar em energia renovável. Como resultado, sua avaliação de mercado mais do que dobrou.

Tecnologias mais inteligentes

Apontada como um pilar de peso pelo Conversations for Tomorrow, a inovação tecnológica acelera a jornada de sustentabilidade e será capaz de, muito rapidamente, tornar viável um mundo diferente. É o caso de soluções que reduzam ou zerem as emissões de carbono em setores que são muito intensivos em energia fóssil, por exemplo. “Mas sozinha, a tecnologia não resolverá os problemas. Cabe às empresas colocar um propósito sustentável em seus processos de inovação e desenvolvimento, direcionando seu uso como uma forma de avanço na direção de uma economia cada vez mais verde”, esclarece Grossi, do Cebds.

De acordo com o estudo do Capgemini Research Institute, entre as principais tecnologias nas quais as organizações planejam investir estão automação, realidade aumentada/realidade virtual (AR/VR), impressão 3D, análise de dados e inteligência artificial/aprendizado de máquina (AI/ML). Para promover a sustentabilidade, 63% das companhias do setor de produtos de consumo e varejo planejam investir em AR/VR.

No relatório, Laurence Pessez, chefe de responsabilidade social corporativa da BNP Paribas, ressalta que bancos e instituições financeiras precisam estar preparados para relatar métricas financeiras e não financeiras adicionais, adaptando seus sistemas de TI e bancos de dados para incorporar critérios de sustentabilidade. “Esse é um novo tópico para os departamentos de risco, conformidade e regulamentação. A longo prazo, queremos priorizar a sustentabilidade para que ela seja tão importante quanto o restante do negócio. Prevemos que a sustentabilidade será incorporada em toda a empresa - desde as decisões de investimento tomadas pelo banco até as avaliações de desempenho dos gerentes de relacionamento”, explica. A empresa, inclusive, já vincula metas de sustentabilidade à remuneração.

As tecnologias emergentes estão ajudando a Coca-Cola a alcançar seus objetivos de sustentabilidade. A empresa explora o uso de IA e blockchain em sua cadeia de suprimentos para análises avançadas e gerenciamento de planejamento de estoque. Também testa essas tecnologias em áreas de visibilidade de ingredientes e suprimentos de materiais para traçar padrões preditivos de compras para guiar ações de marketing, embalagem e produção. Segundo Beatriz Perez, diretora de comunicações, sustentabilidade e parcerias estratégicas da The Coca-Cola Company, a empresa enxerga potencial para várias tecnologias emergentes ajudarem a melhorar a eficiência nas operações ao mesmo tempo em que contribuem para reduzir o desperdício. Na Europa, por exemplo, o parceiro de engarrafamento da marca está explorando o blockchain para rastrear as fontes de suprimento de plástico reciclado.

Onde estão as vantagens competitivas?

Elas são muitas, e sim, a redução de custos está entre elas. Mas, para Queiroz, da Capgemini, a pergunta é outra, é: “Minha empresa quer fazer parte do futuro ou não?”. E faz a provocação: “Imagine seu futuro sem sustentabilidade. Isso significa decidir se trabalha com uma carteira de fornecedores que não são sustentáveis ou por uma governança mais forte, com maior rastreabilidade”.

“Na hora de contabilizar seus gastos e lucros, as empresas precisam considerar as externalidades e os prejuízos que o seu negócio causa à sociedade”, ressalta Grossi. Novas mensurações estão sendo desenvolvidas e aplicadas e o PIB já não reflete mais a riqueza de um país. “Já não há espaço para considerar lucrativa uma atividade que provoca prejuízos ambientais e danos às populações. Esta cobrança já é feita pela sociedade e as empresas, cada vez mais, perseguem o impacto positivo nos seus produtos e nas comunidades em que atuam”, reflete.

Na perspectiva de Santamaria, a construção de resultados consistentes carrega, em si, uma perspectiva de planejamento estratégico que dialoga com a sustentabilidade. “A busca da eficiência operacional está presente no dia a dia das empresas, contudo o que a sustentabilidade nos ensina é a perceber o potencial de crescimento e, mais ainda, de perenidade de uma organização, a partir de uma perspectiva de curto, médio e longo prazos”, diz o executivo do BB.

A pesquisa multissetorial da Capgemini revela uma forte conexão entre sustentabilidade e benefícios comerciais tangíveis. Mais de seis em cada dez organizações nos setores de bens de consumo, varejo e energia relataram que já obtiveram aumento na receita por meio de operações sustentáveis.

Por exemplo, as marcas sustentáveis da Unilever - aquelas que combinam propósito social ou ambiental com produtos que colaboram para o alcance dos objetivos do plano de sustentabilidade da empresa - crescem cerca de 70% mais rápido do que o restante do negócio e representam 75% do crescimento da companhia. Além disso, cerca de 80% dos executivos apontam o aumento da fidelidade do cliente como um benefício-chave das iniciativas de sustentabilidade.

Outro exemplo vem do varejo. A parceria entre a Adidas e a rede de colaboração Parley for the Oceans resultou na venda de mais de um milhão de tênis da Adidas feitos com plástico reciclado dos oceanos em 2017. São iniciativas assim que levam essas empresas a garantirem que farão parte do futuro no mundo dos negócios.

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Autoria

Ticiana Werneck

Ticiana Werneck é colaboradora de MIT Sloan Review Brasil.

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