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O afroempreendedorismo brasileiro em seis diagnósticos

Resultado de uma pesquisa traz uma leitura sobre o empreendedorismo negro no Brasil; levantamento reforça a necessidade de solucionar desafios estratégicos, econômicos, socioculturais e históricos

Nina Silva
30 de julho de 2024
O afroempreendedorismo brasileiro em seis diagnósticos
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“No Brasil, 40% dos adultos negros são empreendedores, mas ainda conhecemos pouco sobre essas histórias. Não faltam números para mostrarmos a relevância desse mercado: estamos falando de uma movimentação de R$ 1,73 trilhão por ano e de 56% da população do País.

Por isso, em parceria com Inventivos e Movimento Black Money, a RD Station decidiu analisar as características do empreendedorismo negro. Procuramos entender como elas podem diferir em suas formas e desafios do que comumente conhecemos quando não há um recorte específico de raça.

A Pesquisa Afroempreendedorismo Brasil foi realizada de 12 a 21 de maio. Tivemos 1.016 respondentes, mas consideramos 701 respostas válidas para a análise, pela completude do questionário. A pesquisa, aliás, foi concebida, desenhada e analisada majoritariamente por pessoas negras.

O link do relatório completo está descrito final deste artigo. A seguir, trazemos os seis principais achados da pesquisa, que resumimos a seguir:

Afroempreendedorismo: feminino, solitário e ligado à indústria de cuidados

O estudo recente Female Founders Report 2021, produzido pelo Distrito Dataminer, em parceria com a B2Mamy e Endeavor, destacou que apenas 4,7% das startups brasileiras foram fundadas exclusivamente por mulheres e 5,1% por mulheres e homens.

Quando falamos especificamente de empreendedorismo negro, vemos uma realidade bem diferente: 61,5% dos empreendedores são mulheres, e as indústrias predominantes são comércio, comunicação e cuidados.

Em outra pesquisa, organizada pelo Sebrae, foi revelado que esses negócios representam 17% do total no país e que, entre essas mulheres, quase metade (49%) são as responsáveis financeiras pelo seu núcleo familiar.

São mulheres que empreendem por necessidade e se apoiam em atividades historicamente vinculadas ao seu grupo. As indústrias predominantes refletem uma herança ancestral de cuidados coletivos, mas também, infelizmente, a herança escravocrata de estar a serviço do outro ou da outra.

Dores ligadas à questão racial

Empreendedores visualizam oportunidades de negócio a partir de uma dor comercial. Empreendedores negros também partem de uma dor, mas geralmente ligada a uma questão racial.

Assim vemos pessoas como a Zarah Flor, uma de nossas entrevistadas, que criou um protocolo para depilação a laser para peles negras. Ela se cansou de ver clientes mal atendidas em clínicas e peles queimadas pelo desconhecimento de como tratá-las.

Também temos Maurício Delfino, que fundou a Da Minha Cor, ao ver a dificuldade que negros e negras tinham para usar toucas de natação. Hoje, ele exporta para países africanos. Como podemos ver, são empreendedores ocupando um espaço que não havia sido pensado até então para eles.

Com ensino superior, mas com renda menor

O empreendedorismo tem sido a alternativa escolhida por muitas pessoas negras, principalmente as periféricas, para obter o sustento e melhores condições de vida para as suas famílias. Segundo o Índice Folha de Equilíbrio Racial, a proporção de negros de 30 anos ou mais com diploma universitário se aproximou de sua representação populacional em 23 das 27 unidades da federação entre 2014 e 2019.

O desafio é refletir a alta escolaridade em aumento de renda. Em 2012, início da série histórica do IBGE para a medição, o rendimento médio mensal dos brancos foi 57,3% maior que o dos negros. Em 2019, quase nada havia mudado: a população branca recebeu, em média, 56,6% a mais que a população negra.

Desse modo, escolaridade não determina um lugar de oportunidade socioeconômico quando se trata da população negra no Brasil.

Desafios na indústria 4.0

Quando comparamos dados da Pesquisa Afroempreendedorismo Brasil com a Panorama PMEs, conduzida em 2020, vemos como as indústrias em que os empreendedores focam são distintas.

Enquanto software e cloud aparece em primeiro lugar na pesquisa sem recorte de raça junto ao público pesquisado pela RD Station, o segmento nem aparece entre as 10 primeiras no afroempreendedorismo.

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Monetização e estratégias digitais: dificuldades nos negócios

Os afroempreendedores enfrentam diversos obstáculos, mas colocamcomo as duas principais dificuldades o desconhecimento de estratégias digitais (50,9%) e formas de tornar seus negócios rentáveis (59,2%).

O marketing negro usa muito as redes sociais, mas tem mais dificuldades com software de marketing e métodos de pagamento. Por concentrarem muitas tarefas (61,2% dos empreendedores trabalham sozinhos), acabam não explorando e não tendo acesso às estratégias que incluem automação e análise de dados, o que lhes daria mais possibilidades de escalar seus negócios.

Acesso ao crédito e preconceito racial

A dificuldade de acesso ao crédito lidera o ranking de desafios no afroempreendedorismo, com 40,4% das respostas. Embora o processo de concessão de empréstimos esteja evoluindo com sistemas de inteligência artificial, dados como CEP e receita mensal funcionam como marcadores étnicos e fazem com que a obteção de crédito seja mais difícil para os negros.

Alan Soares, do Movimento Black Money, aponta possíveis alternativas para o problema, como o crédito solidário (em que uma pessoa leva mais de um avalista), cooperativas de crédito para afroempreendedores, linhas exclusivas do BNDES (ações afirmativas). No entendo, ele afirma que a influência do racismo não para por aí. “A sociedade brasileira ainda não está disposta a admitir o preconceito existente e combatê-lo”, afirma.

Para ter uma visão mais aprofundada do levantamento,acesse aqui a pesquisa completa.

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Nina Silva
É executiva de TI há mais de 17 anos, uma das 100 pessoas afrodescendentes com menos de 40 anos mais influentes do mundo e sócia-fundadora do Movimento Black Money.

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