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Transações não monetárias: o futuro é agora

Até 2026, os novos métodos de pagamento representarão 28% do volume geral de transações. E isso é só o começo

David Cortada

10 de Março

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Artigo Transações não monetárias: o futuro é agora

Quase três anos se passaram desde o surgimento da pandemia – e até hoje buscamos entender certos impactos. No setor financeiro, uma das mudanças mais significativas diz respeito aos métodos de pagamento. A tecnologia foi incorporada definitivamente no dia a dia de clientes e consumidores, e essa conveniência impulsionou as transações não monetárias. É por isso que, mesmo com a ameaça iminente de recessão, taxas de inflação altas e o impacto de problemas na esfera geopolítica, deveremos ver um crescimento dessas modalidades de pagamento (criptomoedas, carteiras móveis e digitais, peer-to-peer, códigos QR etc.) em curto prazo.

De acordo com o mais recente World Payments Report, divulgado no ano passado pela Capgemini, os pagamentos tradicionais (cartões, transferências de crédito e débitos diretos) responderam por 83% do volume geral de transações não monetárias em 2021, enquanto os novos métodos representaram quase 17%. Até 2026, a estimativa é de que esse índice chegue a 28% do total, reduzindo para 72% a participação das modalidades mais convencionais.

Esse crescimento mostra que a adoção de ferramentas digitais no processo de pagamento caiu nas graças dos consumidores. E não é difícil entender o porquê. A tecnologia facilita a interação entre as duas partes, reduzindo as possibilidades de atrito e otimizando a jornada do cliente. Mas não é só isso: o uso de dinheiro virtual é integrado ao momento da compra, oferece muitas condições, inclusive de crédito, e proporciona mais segurança do que as cédulas impressas, praticamente a caminho da extinção.

Evidentemente, essas mudanças no mercado ocorrem em um contexto global. Mas, quando olhamos de forma fragmentada, vemos que os drivers de crescimento não são exatamente os mesmos em todo o mundo. Atualmente, eles estão divididos do seguinte modo:

  • Na região MEA (Oriente Médio e África), a expansão do uso de cartões e carteiras baseadas em cartões é um dos principais estimuladores do crescimento. As empresas de tecnologia e telecomunicações, juntamente com os bancos, estão impulsionando o uso desses serviços entre os consumidores.
  • Na América Latina, a adoção bem-sucedida de sistemas de pagamento instantâneo – como o Pix, no Brasil –, é o principal alavancador do crescimento. Países como Colômbia e Peru buscam trilhar o mesmo caminho.
  • Na América do Norte, as transações não monetárias devem aumentar principalmente por meio da The Clearing House, principal infraestrutura do sistema de pagamentos existente nos Estados Unidos.
  • Na Europa, estima-se que o aumento nas transações de mobile wallets, carteiras móveis para criptomoedas, contribua para o avanço das transações não monetárias.
  • Por fim, a APAC (região Ásia-Pacífico) deve representar mais de 50% dos volumes globais de transações não monetárias até 2026, impulsionadas pela popularidade das mobile wallets.

Enfim, as ferramentas variam conforme as preferências de cada região ou continente. Mas seu avanço é inevitável, mesmo diante da crise.

Dados precisam gerar insights

As projeções iniciais do Fundo Monetário Internacional (FMI) para 2023 eram de que o crescimento econômico, já devagar, desaceleraria ainda mais. Taxas de inflação altíssimas e questões geopolíticas, como a guerra Rússia-Ucrânia, foram apontadas como os principais obstáculos à economia global, Mais recentemente, porém, com o recuo da recessão em alguns países e a reabertura da China, o FMI fez uma projeção mais otimista, com gradual possibilidade recuperação.

Esse é um bom sinal, tendo em vista que a ruptura no mercado estrangulou ainda mais o motor do crescimento e forçou a aceleração dos processos de regionalização das cadeias de suprimentos. Alguns fatores fundamentais guiam essa ruptura e representam um desafio para os diferentes players (além da volatilidade geopolítica e financeira): a pressão regulatória, a disrupção tecnológica e o aumento das vulnerabilidades dessas novas tecnologias.

Diante deste cenário, as organizações precisam se reinventar e concentrar esforços em suas fortalezas. Mas, para isso, é necessário reimaginar a jornada de transformação e ter uma estratégia muito bem definida em relação aos clientes. Seu potencial de crescimento só será desenvolvido plenamente com uma proposta de valor atrativa de ponta a ponta, o que exige a criação de um ecossistema sincronizado em uma única plataforma.

Um ponto fundamental para assegurar essa conexão com o cliente é a harmonização dos dados. A chave do sucesso está na capacidade de convertê-los em informações e, finalmente, em insights. Pensando dessa forma, parece óbvio, não? Na prática, porém, o que vemos é uma certa falta de sensibilidade em relação ao potencial do “novo petróleo” – na verdade, nem tão novo assim, já que a famosa afirmação do matemático britânico Clive Humby foi feita há 17 anos…

Explicando: cerca de 70% dos executivos bancários ouvidos pela Capgemini acreditam que os dados disponíveis para eles não são confiáveis e não geram insights. E mais de 60% deles disseram não contar com as ferramentas certas e a capacidade de gerenciar dados não estruturados.

Como solucionar isso? Com a adoção de padrões para harmonização – como, por exemplo, o novo ISO 20022. Assim podemos gerar dados:

  • Mais ricos: para minerar e obter insights.
  • De ponta a ponta: o que proporciona alta transparência e interoperabilidade.
  • Confiáveis: para cumprir facilmente os requisitos regulamentares e relacionados com risco.
  • Significativos: ou seja, com informações de referência mais bem estruturadas.

Dessa forma, fica bem mais fácil desenvolver uma proposta de valor atrativa para o cliente.

Do B2C ao D2C

Se analisarmos o cenário atentamente, percebemos que o comércio eletrônico tem o papel de protagonista nessa transformação. Afinal, quando a venda é realizada por meios online, o mercado de varejo tem a capacidade de alcançar um número muito maior de clientes. Ainda segundo o World Payments Report, acredita-se que, nas vendas globais business to consumer (B2C), as transações via e-commerce devem crescer 10,5 vezes mais rápido do que as vendas nos pontos físicos durante o período 2019-2025.

Essa aceleração chamou a atenção e provocou uma verdadeira mudança de mindset nas empresas. Observamos estratégias em que as próprias marcas estão implementando o modelo de vendas online D2C (direct to customer), estabelecendo o relacionamento com seus clientes sem intermediários. Esse é um modelo inteligente, na medida que reduz custo, aumenta a margem dos fabricantes e simplifica a experiência dos consumidores.

Mas, para isso acontecer, é preciso preparar o terreno. A implementação de uma estratégia D2C exige que a marca seja sólida e tenha uma imagem e uma identidade fortes. Também é fundamental que a empresa conte com um portfólio de produtos com amplitude suficiente para atender às diversas necessidades dos clientes e dispor de uma coleta de dados estruturada, de modo a retroalimentar e manter esse modelo com experiências cada vez mais personalizadas.  Além disso, a plataforma de e-commerce precisa ser ágil e robusta.

Talvez o mais importante hoje em dia seja dispor de uma estrutura de atendimento e logística que evite problemas no caminho do produto até o cliente final. E, como em quase tudo na vida, o segredo está no equilíbrio. Grandes marcas globais alternam entre canais tradicionais e online para aproveitar seu potencial de crescimento. A Adidas, por exemplo, projeta que o comércio D2C represente 50% de suas vendas até 2025.

O que vem por aí

A revolução no sistema de pagamentos não bancários está só começando. A tecnologia irá se desenvolver em ritmo acelerado nos próximos anos, proporcionando a todos os stakeholders ainda mais facilidades em comparação com as que já usufruímos hoje em dia.

Provavelmente o maior destaque virá do mundo do que na Capgemini denominamos de “futuros descentralizados”. Blockchain e outros tipos de DLT (distributed ledger technology, ou tecnologia distribuída de livro-razão) estão no centro dessa disrupção.

Outros drivers que terão grande impacto são as CBDCs – moedas digitais de Bancos Centrais –, tokens, criptomoedas e stablecoins como meios de pagamento, finanças descentralizadas (DeFi), o metaverso, NFTs e, finalmente, a Web 3.0. Após um período de ceticismo e de projetos limitados em escopo a provas de conceito ou pequenos pilotos, já observamos um aumento significativo de produção e escala.

Acreditamos que o futuro dos serviços financeiros será de equilíbrio entre os sistemas e componentes centralizados e descentralizados, com inovação constante – e, claro, sob conformidade regulatória. Agora, está mais do que na hora de bancos, fintechs e demais players do sistema financeiro entenderem seu papel nessa jornada e proporcionarem uma experiência condizente com a expectativa dos consumidores.

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Autoria

David Cortada

David Cortada é vice-presidente do Centro de Excelência para Serviços Financeiros da Capgemini.

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