Em quatro anos, o Brasil saberá
As preocupações com um potencial blecaute estão tirando o sono de muitos brasileiros. Faz sentido; na era digital dependemos de eletricidade para quase tudo. Porém, isso não deveria nos deixar esquecer outro apagão, cujos efeitos são tão ou mais desastrosos que os deste, e que sentiremos em não mais que quatro anos. Falamos do apagão de pesquisa, desenvolvimento e inovação (P, D & I), que, além de também ter demanda aquecida na era digital, é algo muito importante em crises, frequentemente resolvidas com práticas inovadoras.
O leitor pode argumentar que o investimento anual do país em P, D & I há muito tempo estava estagnado em patamar insuficiente (em média, 1,143% do PIB, ante 2,291% do PIB da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, por exemplo). Como a correlação entre investimento em P, D & I e renda per capita é significativa, há muito tempo que isso explica nossa limitada evolução socioeconômica. Porém, agora a situação piorou demais: esse investimento recuou – caiu para cerca de 0,5% do PIB., por conta do contigenciamento de 90% dos recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento de Ciência e Tecnologia (FNDCT).E não se trata só do corte de investimento; percebe-se a desprioridade de outras formas. O leitor sabe quais seriam as consequências de perdermos a Plataforma Lattes, como quase aconteceu em julho último, por negligência em manutenção? Não perderíamos só listas de publicações e projetos. Ficaria em xeque nossa capacidade de identificar e selecionar as melhores produções científicas nacionais e os pesquisadores mais qualificados. Perderíamos o registro do conhecimento gerado em décadas e a (pouca) competitividade internacional que temos em ciência.