Até agora, a premissa era a de que as economias do mundo deveriam seguir crescendo. Mas isso é compatível com nossas metas ambientais?
Se tudo continuar como está, a temperatura do planeta vai subir 3,3 graus Celsius até o ano 2100. Não é um chute: você pode chegar a esse mesmo resultado visitando o site do En-Roads, que mostra o modelo de clima global da MIT Sloan Sustainability Initiative.
Esse é um modelo interativo, no qual podemos mudar variáveis (como fontes de energia, tipo de transporte e nível de crescimento) e simular diferentes cenários futuros para o clima no planeta.
Se você só mexer em crescimento econômico e selecionar “alto”, a temperatura global pode aumentar em 3,7 graus Celsius. Um lembrete: segundo o Acordo de Paris, a temperatura deveria se elevar em até 1,5 grau C até 2100.
Em nome do clima, o crescimento econômico deveria ser limitado? A ideia de adotar um freio não é nova. Em 1970, Jay Forrester, professor da MIT Sloan, liderou uma equipe que desenvolveu o bisavô do modelo que mencionei – e que mostrava que a economia global deveria parar de crescer, senão o planeta não teria condições de nos sustentar.
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Integrantes da equipe do Forrester (em particular o casal Dennis e Donella Meadows) publicaram, em 1972, um livro que causou grande controvérsia, inclusive por aqui: Limites do Crescimento.
Essa é uma discussão que vai muito além do tamanho deste artigo. Até alguns dos economistas que defendem a redistribuição de renda condenam a proposta de não crescer por considerar impossível redistribui-la sem crescer. Para mim, essa nossa conta do PIB (Produto Interno Bruto) está completamente obsoleta O livro dos Meadows foi pioneiro em criticar o critério de cálculo do PIB –que, inventado no início da revolução industrial, não inclui muitos aspectos da nossa realidade atual:
O economista e filósofo Kohei Saito, professor de filosofia na Universidade de Tóquio, não esconde sua simpatia pela teoria marxista. E ele é a voz mais recente desse movimento.
Seu livro Slow Down: The De-growth Manifesto, publicado em 2020, surpreendeu a todos ao se tornar um best-seller instantâneo (vendeu meio milhão de exemplares). Para quem quiser saber mais, minha sugestão é a entrevista que ele deu para Martin Reeves, sócio do BCG –uma conversa tensa em que os dois estavam claramente em lados opostos. Para completar, a revista New Yorker publicou uma extensa crítica à obra. Já Sir Richard Layard e Jean-Emmanuel de Neve publicaram a versão mais recente (de 2023) de sua pesquisa internacional sobre bem-estar, que cobre 130 países. Esse conteúdo está disponível em Wellbeing: Science and Policy.
Para quem não quiser ler o livro, os autores são entrevistados brilhantemente por Jeffrey Sachs em seu podcast. Em sua obra, eles chegam à conclusão de que os governos deveriam abandonar as métricas do PIB e focar no bem-estar das pessoas: educação, saúde, renda mínima e acesso ao trabalho digno.