
Entre a burocracia e a oportunidade de transformação, é de se esperar que boa parte das empresas abrace a primeira, desperdiçando a segunda. Mas a atualização da regulamentação de segurança e saúde no trabalho abre as portas para a medicina de estilo de vida, que gera melhor custo-benefício para todos e, assim, maior valor
Em maio de 2025, a nova norma regulamentadora número um entrará em vigor, atualizada a partir da NR-1 original de 1978 após os problemas de saúde mental que acometeram as empresas. Ela exige que as empresas realizem o levantamento de riscos psicossociais e implementem programas de saúde mental. Mas será que apenas cumprir essas normas é suficiente para termos equipes mais saudáveis e satisfeitas, com maior produtividade e menor absenteísmo? Ou será que, para isso, precisamos ir além da conformidade?
Com minha experiência cruzada do mundo da psicologia e do das corporações, digo que não apenas isso é insuficiente como desperdiçar essa oportunidade de inovar para efetivamente ter bons resultados de saúde mental é de se lamentar. O caminho inovador para transformar a saúde mental nas empresas, trazendo impacto duradouro e estratégico, já é conhecido: chama-se “medicina do estilo de vida”.
Para começar nossa conversa, a nova NR-1 exige que as empresas mapeiem os riscos psicossociais dentro de seu ambiente de trabalho. Entre os principais fatores que podem comprometer a saúde mental dos colaboradores estão:
As duas perguntas que as empresas deveriam estar se fazendo neste exato momento são:
Os dados mapeados vão servir apenas para cumprir a norma e ficar na gaveta?
Ou podem ser usados de maneira estratégica de fato para inovar e criar ambientes de trabalho mais saudáveis, produtivos e com maior eficiência de custo? (Respeitando a LGPD.)
Muitos programas corporativos de saúde mental ainda focam apenas em remediar problemas, oferecendo terapias pontuais e suporte psicológico emergencial. Mas, para transformar verdadeiramente a saúde mental no ambiente de trabalho, é preciso agir na raiz do problema.
A medicina do estilo de vida, baseada em 20 anos de evidências científicas, traz um modelo preventivo fundamentado em seis pilares essenciais:
Estudos mostram que empresas que implementam programas de qualidade de vida e bem-estar contemplando os pilares da medicina do estilo de vida colhem retornos expressivos, como por exemplo o estudo “ROI do Bem-Estar 2024” da Wellhub :
– 91% das empresas relataram economia nos custos de saúde devido a programas de bem-estar.
– 95% das empresas que mensuram o retorno sobre o investimento (ROI) de seus programas obtêm um retorno positivo.
– 99% dos líderes de recursos humanos (RH) afirmam que programas de bem-estar aumentam a produtividade.
As empresas que apenas cumprirem as novas exigências a NR-1 fazem o básico. Mas estou convencida de que as que enxergarem o potencial da medicina do estilo de vida lideram a transformação.
A inteligência artificial (IA) pode transformar os dados anonimizados dos levantamentos de riscos psicossociais em insights valiosos, ajudando empresas a criar estratégias personalizadas para a saúde mental e prevenção, tratamento e reversão de doenças crônicas não transmissíveis dos colaboradores.
Como destacado por Gustavo Meirelles em sua coluna na MIT Sloan Review Brasil sobre efetividade de custo e viabilidade financeira das soluções de inteligência artificial na saúde, a IA desempenha um papel crucial na gestão da saúde, permitindo:
Um exemplo prático citado no artigo foi o da NeuralMed, startup brasileira de IA que utilizou processamento de linguagem natural (NLP) para avaliar uma grande base de dados de saúde. Como resultado, foram identificados mais de 3 mil pacientes crônicos elegíveis para medicina preventiva, gerando uma economia anual de R$ 10 milhões para uma operadora de saúde.
A mesma lógica pode ser aplicada ao levantamento de riscos psicossociais exigido pela NR-1. IA pode mapear padrões de estresse, sobrecarga e burnout, e também das doenças crônicas não transmissíveis, permitindo que empresas atuem de forma proativa, em vez de apenas reagir a crises.
Transformar dados em decisões estratégicas é o diferencial das empresas que lideram a inovação. Imagine o impacto da IA aplicada na gestão de saúde mental corporativa…
Líderes e gestores que querem impacto real precisam mudar a mentalidade e adotar uma estratégia ativa de inovação.
Aqui estão os primeiros passos para transformar a saúde mental corporativa:
A questão antiga talvez fosse:
– As empresas devem agir?
A questão atual é:
– Quem está pronto para liderar essa transformação?
O levantamento de riscos psicossociais da NR-1 pode ser apenas mais um documento obrigatório ou um marco para inovação real na gestão de pessoas.
O caminho está claro: cumprir a norma por obrigação ou transformar a saúde mental em vantagem competitiva e transformar a vida dos seus colaboradores?
A medicina do estilo de vida e a inteligência artificial já estão moldando o futuro. Sua empresa vai apenas acompanhar as demais ou vai liderar o setor?