Todos buscam o padrão asiático de produtividade industrial, mas emerge no Ocidente um modelo fabril de alto desempenho que se apoia em uma cultura de redução de acidentes de trabalho. Um sistema de gestão de segurança em seis etapas pode ajudar
Era uma vez uma fábrica de brinquedos localizada na cidade de East Longmeadow, em Massachusetts, EUA. Administrada pela empresa belga Cartamundi e produzindo jogos e brinquedos para a gigante e também americana Hasbro, trata-se de uma das últimas do ramo que sobrou no país. E sobreviveu apesar da forte presença do sindicato e de se localizar em um estado reconhecido pelos altos impostos, altos salários e altos custos de energia.
A fábrica da Cartamundi vai na contramão de todo o setor de brinquedos dos EUA, que transferiu sua produção para o exterior, principalmente para a Ásia. E ela consegue esse feito porque sua operação fabril em Massachusetts funciona bem; na verdade, é até mais eficiente do que as que foram para a Ásia.
Por meio de um programa voluntário de segurança regido pela Occupational Safety and Health Administration (Osha), agência federal dos EUA responsável por garantir a segurança no trabalho, seus funcionários colaboram para identificar e corrigir riscos, além de tornar o trabalho mais produtivo.
A iniciativa tem dado tão certo que, em 2017, a Hasbro repatriou a fabricação das massinhas Play-Doh. Sei disso porque, na época, eu era o chefe da Osha e soube por meio dos executivos da organização que o programa de segurança foi uma das principais razões para não levar a fábrica para a Ásia.
Dirigi a Osha por mais de sete anos, desde o início do governo Barack Obama até Donald Trump chegar à Casa Branca pela primeira vez, em 2017.
Em minhas décadas de trabalho tanto no setor governamental quanto no privado, comprovei que a segurança do trabalhador e a excelência operacional são inseparáveis. Pesquisas acadêmicas corroboram isso.
Empresas que optam por garantir a segurança do trabalhador entregam um produto de maior qualidade e têm funcionários mais produtivos e leais. Isso sem falar no mais importante e óbvio: sofrem menos acidentes de trabalho, o que, por sua vez, reduz os custos associados a eles.
O líder corporativo que mais influenciou meu pensamento sobre segurança no local de trabalho foi Paul O’Neill, que foi CEO da produtora e processadora de alumínio Alcoa entre 1987 e 1999.
Quando ele assumiu o cargo, a empresa enfrentava dificuldades nos quesitos lucro e segurança. O’Neill instruiu os líderes da Alcoa a priorizarem a segurança, estabelecendo a meta de zero lesões corporais em todas as 342 unidades, nos 43 países onde operava.
Não demorou muito para que percebessem que eliminar esse tipo de acidente de trabalho exigiria entender e controlar rigidamente o processo de fabricação.
Quando enfim conseguiram reduzir os acidentes, os custos de produção caíram, a qualidade aumentou e a produtividade disparou.
Seis anos mais tarde, as vendas estavam crescendo 15% ao ano, as receitas triplicaram e o lucro por ação aumentou mais de 600%. Em 2000, ano em que O’Neill se aposentou, a Alcoa teve o melhor desempenho na Bolsa de Valores de Nova York.
Ao longo do século 20, a americana DuPont foi uma das principais fabricantes de produtos químicos do mundo, sempre estando envolvida nos esforços de proteção ao trabalhador. Tal experiência permitiu, inclusive, que passasse a vender serviços de consultoria em segurança para outras organizações.
Em anos mais recentes, porém, o assunto começou a perder importância na companhia, com implicações em seu desempenho. As inspeções tanto da Osha quanto da Environmental Protection Agency, agência federal dos EUA responsável por questões ambientais, descobriram que o compromisso da DuPont com a excelência operacional fora abandonado: pressionada por investidores a reduzir custos e aumentar os lucros de curto prazo, ela deixou seu programa de segurança se deteriorar.
Em 2014, sua fábrica de inseticidas em La Porte, Texas (EUA), sofreu um vazamento de mais de nove toneladas de um produto químico extremamente tóxico. Quatro trabalhadores morreram no acidente.
Ficou claro para nossos inspetores que o lendário programa de administração da segurança da companhia tinha virado um fracasso. A Osha emitiu uma multa de US$ 273 mil para a empresa (uma penalidade alta para a agência, mas não para a DuPont) e a colocou no programa de fiscalização para violadores graves.
No ano seguinte, a Dow anunciou a compra da concorrente DuPont. Do ponto de vista da segurança do trabalhador, o balanço foi positivo, já que a Dow tinha uma operação de segurança melhor do que a DuPont antes da fusão.
Organizações como a Osha emitem relatórios que, ao mesmo tempo em que defendem a segurança, estimam o retorno do investimento em programas de proteção do trabalhador. Esses documentos mostram que os custos de lesões graves – incluindo despesas médicas e reposição salarial, perda de produtividade e contratação e treinamento de novos funcionários – são mais altos do que muitos diretores financeiros calculam.
Na minha experiência, no entanto, os melhores líderes operam não com base no cálculo do ROI em segurança, mas a partir do reconhecimento de que, ao buscar a excelência operacional, eles estão tornando suas empresas mais seguras, mais produtivas e mais lucrativas.
Aqui estão as etapas que líderes devem seguir para implementar, de forma eficaz, sistemas de gestão de segurança:
OS PERIGOS NO LOCAL DE TRABALHO estão se tornando mais significativos, e os empregadores enfrentam desafios cada vez maiores para proteger seus funcionários. A frequência e a intensidade de calamidades naturais, doenças infecciosas e calor extremo vêm aumentando com a crise climática.
Trabalhadores, especialmente os mais jovens, estão menos dispostos a tolerar riscos no ambiente laboral. Suas preocupações com segurança impulsionaram movimentos sindicais na Volkswagen e Mercedes, além de esforços de organização liderados por baristas da Starbucks nos EUA e por funcionários do centro de distribuição da Amazon em Staten Island, Nova York (EUA).
Todo trabalhador deseja terminar seu turno e voltar para casa tão saudável quanto no começo do dia. Este é o momento para líderes corporativos reconhecerem que tomar medidas reais para proteger seus funcionários trará benefícios não só para eles, mas também resultará em negócios melhores e mais produtivos.