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Seguros: uma mudança de paradigma em economias emergentes

Como uma organização está liderando uma revolução de seguros no Brasil ao olhar para uma demanda reprimida, gerada pela inacessibilidade do não consumo

Christimara Garcia e Efosa Ojomo
30 de julho de 2024
Seguros: uma mudança de paradigma em economias emergentes
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“Imagine que você é um motorista da Uber e depende do seu carro ou motocicleta como um gerador de renda primária. No entanto, você teve um acidente que resultou em uma emergência de saúde e precisa passar alguns dias no hospital e enviar seu veículo para uma oficina. Isso seria um grande inconveniente para a maioria das pessoas, mas tendo um seguro, você poderia ter sua vida de volta ao normal. Todavia, para bilhões de pessoas em todo o mundo que não têm acesso ao seguro, isso pode ser financeiramente devastador e, em última instância, alterar completamente o curso da vida.

Parece cruel para aqueles que mais precisam de seguros sejam os menos propensos a tê-lo, mas a realidade é que um seguro tradicional é muito caro para muitas pessoas que vivem em países de baixa e média renda. No Brasil, por exemplo, apenas 15% da população tem seguro de vida ou saúde, e mais de 30 milhões de carros nas ruas não têm seguro.

As barreiras para se obter seguros tradicionais para a maioria dos consumidores são muitas e, em diversas situações, são exigidas enormes quantidades de documentação, diversos comprovantes e demonstração da capacidade de pagamento através de uma conta bancária. Como muitos brasileiros se deparam com uma ou múltiplas dessas barreiras, a maioria opta pelo que há muito tempo é a única alternativa: não comprar nenhum seguro.

Não consumo

O que acabamos de descrever acima é o que chamamos de “”não consumo””: quando a maioria das pessoas se beneficiaria da compra de um produto ou serviço, mas não pode porque é muito caro, complexo, demorado ou inacessível. Pesquisas do Instituto Christensen revelam que, onde há grande não consumo, há uma oportunidade significativa de criar novos mercados rentáveis para produtos simples e acessíveis.

Como os novos mercados abordam uma necessidade não atendida, os novos consumidores têm um interesse genuíno em verem os mercados florescerem. É através do processo de criação de novos mercados que os consumidores não só têm acesso a produtos e serviços necessários, mas que as regiões (e as organizações por trás dos novos mercados) acabam se tornando mais prósperas.

No entanto, direcionar o não consumo requer criatividade. Muitas vezes, para atender lucrativamente novos consumidores, empresas e seus empreendedores devem reconstituir completamente os modelos de negócios tradicionais que foram projetados com outros consumidores em mente. Para exemplificar esses desafios, apresentamos o case da Thinkseg, uma seguradora automotiva inovadora que está trabalhando para criar uma salvaguarda tão necessária para milhões de pessoas no Brasil.

Para reconstituir seguros automotivos

A Thinkseg foi fundada em 2016 por um grupo de profissionais que atuavam em seguros automotivos. Ao observarem as revoluções digitais estimuladas por gigantes da tecnologia, incluindo Uber, Netflix e Spotify, eles foram inspirados pela ideia de que um novo modelo de negócio combinado com a tecnologia poderia criar novos mercados impactantes.

Reconhecendo a necessidade de mudança em cada uma de suas respectivas empresas, os fundadores concordaram que o seguro automotivo tradicional precisava ser democratizado, com preços mais justos, e sem letras miúdas e asteriscos nos seus contratos.

Para alcançar clientes para os quais o seguro tradicional é proibitivamente caro e caro, a Thinkseg concebeu um modelo inteiramente novo para atender seus clientes, tendo como base uma nova tecnologia.

As seguradoras tradicionais brasileiras cobram dos consumidores em média R$ 4 mil por ano, em parte por dificuldade em avaliar com precisão o risco. A Thinkseg conseguiu reduzir seu preço médio anual em quase 16 vezes, desenvolvendo sua própria tecnologia de telemetria que permite à empresa avaliar melhor o risco dos clientes.

Funciona assim: a empresa emprega um modelo simples de “”pay-per-use””, no qual os clientes pagam apenas alguns centavos por quilômetro rodado quando usam seus próprios carros ou motocicletas. Para verificar quando os clientes usam seus veículos, a tecnologia de telemetria da Thinkseg usa os celulares dos clientes para detectar se eles estão dirigindo ou se movendo por outros meios, como de bicicleta, patinetes, ônibus ou de carro de aplicativo e táxi.

O resultado é uma experiência acessível, transparente e fácil de usar que mostra pouca semelhança com as opções tradicionais no mercado. O modelo da Thinkseg de oferecer seguros simples e acessíveis já se mostrou tão bem-sucedido que já mira a expansão para outros países da América Latina. Em breve oferecerá ações da empresa a investidores norte-americanos, permitindo uma maior expansão.

Em países como o Brasil, a ampliação do acesso ao seguro é uma mudança de vida para milhões de pessoas que não podiam antes ter acesso a esses serviços.

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Christimara Garcia e Efosa Ojomo
Efosa Ojomo é um pesquisador sênior no Clayton Christensen Institute, onde lidera a pesquisa do núcleo de Prosperidade Global. Já Christimara Garcia é a fundadora da Catalyze Innovations Initiative, um Action Tank com a missão de promover inovações criadoras de novos mercados no Brasil. Efosa e Christimara desenvolvem uma parceria entre o Clayton Christensen Institute e a Catalyze Innovations Initiative com o intuito de ilustrar o poder que as inovações criadoras de mercado têm sobre organizações e sociedade na promoção de desenvolvimento socioeconômico e da prosperidade.

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