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É possível fazer a semana de quatro dias funcionar na sua empresa

Um participante do simpósio do MIT Sloan Management Review sobre o futuro do trabalho responde às perguntas da plateia sobre a implantação da semana de trabalho mais curta, o impacto dessa mudança na cultura da empresa e como se pode avaliar o sucesso da iniciativa

Andrew Barnes
5 de agosto de 2024
É possível fazer a semana de quatro dias funcionar na sua empresa
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Como cofundador da 4 Day Week Global, Andrew Barnes tem um assento na primeira fila para o maior experimento do mundo sobre os efeitos da redução da semana de trabalho.

Tudo começou com a própria empresa de Barnes na Nova Zelândia, a Perpetual Guardian, quando ele se perguntou se seus funcionários poderiam fazer melhor seu trabalho ao trabalharem quatro dias por semana em vez de cinco. O ponto de partida, como ele sabia, teria que ser entregar o mesmo serviço, atendimento ao cliente e lucratividade. Ele chegou, então, ao que chamou de regra 100-80-100: “Pagamos 100% de renda por 80% do tempo, desde que tenhamos 100% de produção”.

O experimento ganhou as manchetes globais – “Paramos de contar quando atingimos cerca de 14.000” – e Barnes foi soterrado por pedidos de aconselhamento sobre o tema. Ele abriu uma organização sem fins lucrativos e começou a ajudar empresas a fazerem seus próprios pilotos para avaliação de viabilidade, fornecendo workshops virtuais, mentoria e oportunidades de networking. Os resultados, que agora incluem dados de 91 empresas e 3.500 trabalhadores, foram analisados por uma equipe de acadêmicos.

E esses resultados têm sido universalmente positivos. “Não apenas mais de 90% dos funcionários estão dizendo que gostam da semana de quatro dias – na verdade, eles não querem voltar ao modelo anterior – mas as empresas estão vendo um crescimento na produtividade”, disse Barnes.

Barnes falou sobre os experimentos e suas descobertas durante o Work/23, um simpósio do MIT Sloan Management Review realizado em maio de 2023. Não foi possível responder a todas as perguntas dos participantes durante o evento, então ele responde a algumas delas abaixo (perguntas e respostas foram levemente editadas para maior clareza).

1 – Existe alguma pesquisa comparando uma semana de trabalho de quatro dias de oito horas com, por exemplo, cinco dias de seis horas de trabalho? Os resultados sugerem que quatro dias é o melhor caminho?

Andrew Barnes: Vemos ambas as situações como semanas de quatro dias! A chamada é “”uma semana de quatro dias””, mas, na realidade, falamos de uma redução nas horas trabalhadas: a regra 100-80-100. A proposta é que os funcionários tenham o tempo de folga que seja importante para eles. Na minha empresa, temos algumas pessoas que tiram um dia inteiro de folga, outras que tiram dois meios dias, e outras, comumente pessoas com filhos, que trabalham menos horas por dia nos cinco dias da semana. É um regime que ajuda em questões relativas às crianças, que um único dia de folga não resolveria.

2 – Como você mede a percepção da semana de quatro dias entre os funcionários quando se trata de produtividade e resultados da empresa?

É mais fácil, claro, ver se há melhora nos resultados da empresa, como lucratividade e receita. Muitas vezes descobrimos que as pessoas perguntam como medimos a produtividade dos funcionários. Logicamente, isto levanta a questão de como a produtividade está sendo medida atualmente. No entanto, fica rapidamente claro que muitas organizações usam o tempo das pessoas na empresa como indicador para a produtividade.

Parte do nosso programa é ajudar as organizações a desenvolver outras formas de medir a produtividade para que as melhorias possam ser avaliadas com mais clareza. Uma parte fundamental disso é ajudar os funcionários a identificar as partes improdutivas de seu dia. A simples eliminação da atividade improdutiva irá, por definição, aumentar a atividade produtiva.

3 – Parece que muito do tempo fora das atividades táticas é empregado em conversas pessoais e construção de relacionamentos. Isso diminuiria em uma semana de quatro dias?

Não. Na verdade, as evidências sugerem que as relações pessoais melhoram. Ao combinar políticas como horas de trabalho profundo, menos reuniões e mais curtas e melhores ambientes sociais (no nosso caso, uma melhor área de descanso), descobrimos que a coesão entre as pessoas e a interação nas equipes realmente aumentam. Ao reforçar que os membros da equipe precisam trabalhar juntos para permitir que todos alcancem o objetivo de reduzir as horas de trabalho, muitas vezes há mais tempo para essas interações, não menos.

4 – Segundo os dados colhidos pelo Gallup em 2020 nos Estados Unidos, o bem-estar dos funcionários que trabalham quatro dias por semana é maior que o daqueles que têm a semana de cinco ou seis dias. Porém, os dados da mesma pesquisa mostram que o engajamento cai entre os que trabalham menos dias. A interpretação do Gallup é de que os funcionários que já se sentem desconectados de seu empregador irão se afastar mais. Qual seu conselho para as empresas lidarem com isso?

Vivemos um momento na sociedade em que muitos funcionários trabalham em casa e, portanto, distantes da cultura do local de trabalho. Nesta realidade, o impacto da redução das horas de trabalho é, na verdade, mínimo. Também é necessário diferenciar entre o antigo estilo de trabalho de quatro dias por semana (onde apenas alguns trabalhavam quatro dias e a maioria trabalhava cinco, muitas vezes com os primeiros recebendo salários mais baixos) e o novo modelo, em que todos trabalham em horário reduzido, sem redução de salário. As empresas em nossos testes relatam aumentos significativos nas pontuações de engajamento. No caso da nossa própria empresa, as pontuações aumentaram 40%, para níveis que os pesquisadores disseram ser os mais altos já vistos na Nova Zelândia.

5 – Quais diferenças você vê nos efeitos da semana mais curta sobre os diferentes tipos de trabalho, como desenvolvedores de software e trabalhadores criativos em comparação com vendedores, por exemplo?

Obviamente, há diferenças práticas em como o trabalho é executado, mas o impacto sobre os funcionários em todas as empresas em nossos vários testes parece ser consistentemente o mesmo. Os funcionários relatam ser mais produtivos, mais descansados, menos estressados e mais felizes. É uma tese minha de que funcionários mais saudáveis, felizes e descansados são mais produtivos. Quem diria!

6 – Há algum treinamento ou preparação que as empresas façam para introduzir a semana de quatro dias?

Sugerimos que as organizações reservem alguns meses para planejar e se preparar antes de iniciar o teste piloto, que seria de seis meses. Tanto a preparação quanto o teste permitem que as organizações ajustem o processo para descobrir o que funciona para elas. A maior parte das eficiências e melhorias vem do empoderamento dos membros da equipe e da criação de uma cultura em que os indivíduos reconhecem que precisam trabalhar juntos para reduzir o tempo desperdiçado. Na minha própria organização e em muitas outras, o treinamento tinha, portanto, efeito limitado e em grande parte era desnecessário.

7 – Como construir uma relação de confiança para que se atinja as metas estabelecidas com a implantação da semana reduzida?

Simplificadamente, se a confiança não existir antes da implementação da semana de quatro dias, é improvável que ela seja bem-sucedida.

8 – Você já viu isso ser feito em organizações que operam 24 horas por dia? Qual o impacto no número de funcionários? Ele aumenta?

De muitas maneiras, é mais fácil pôr em prática a semana de quatro dias em uma operação 24-7, pois a organização já funciona em turnos. Uma semana de jornada reduzida simplesmente exige que os turnos sejam reconfigurados. Lembre-se que nossa tese é que a produtividade realmente aumenta, então, em algumas operações, cada turno pode ser composto por menos funcionários.

Alternativamente, em organizações com muita gente, como instalações médicas, é provável que mais pessoal tenha que ser recrutado. A economia aqui, no entanto, vem da redução do tempo de recrutamento e rotatividade, menos dias de licença médica (67% menos, de acordo com os dados do teste) com impacto reduzido na produtividade e custos mais baixos para funcionários temporários caros. As evidências também sugerem que os resultados melhoram.

9 – Você já implantou a semana curta em empresas do segmento de consultoria? O que funcionou? Como as horas faturáveis foram afetadas?

Sim. Tanto agências de relações públicas como escritórios de advocacia e consultorias migraram para a semana de quatro dias. As horas faturáveis são frequentemente citadas como um impedimento, mas elas são simplesmente um mecanismo para alocar custos. Os clientes pagam em valor e resultados. Se agora você pode fazer o trabalho mais rápido sob o modelo de quatro dias, basta ajustar as unidades de alocação de custos. O cliente não se importa. Veja um exemplo simples: dois consultores produzem um trabalho idêntico, um deles leva uma hora, outro leva meia hora. Por que o cliente pagaria o dobro pelo primeiro? Na realidade, as horas faturáveis são ajustadas para alinhar a fatura com o valor que o cliente pagará pelo trabalho como um todo.

10 – Com quais obstáculos você teve que lidar ao fazer a mudança para a semana de quatro dias?

O principal obstáculo era o ceticismo dos membros da minha equipe de liderança, se não a hostilidade, e todo o meu conselho odiava isso. Trazer a liderança para essa jornada e ajudá-los a avançar nas conversas é fundamental para o sucesso do projeto. Eu relatei os obstáculos frequentes em vários artigos que estão no site da 4 Day Week e no meu livro, The 4 day week.

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11 – Você pode fornecer exemplos de políticas usadas pelas empresas?

O site da 4 Day Week tem muito material útil, incluindo a pesquisa e um documento completo sobre o que fizemos. Esse documento inclui as políticas que introduzimos na Perpetual Guardian para implementar essa redução nas horas semanais trabalhadas.

Andrew Barnes
Andrew Barnes é o fundador da Perpetual Guardian, a maior empresa de trustee corporativo da Nova Zelândia. Ele também é cofundador da 4 Day Week Global e autor de *The 4 day week* (Piatkus, 2020).

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