Como liderar num mundo que mudou

Como liderar num mundo que mudou

Editorial

Enzo Maiorca, ícone mundial do mergulho livre, que nos anos 1980 desceu 101 metros na apneia, passou pela minha timeline esses dias. Lembraram-me desse siciliano, morto em 2016, por conta de uma história de golfinho. O animal fez com que o mergulhador o acompanhasse até 12 metros de profundidade para salvar outro golfinho, preso numa rede. Enzo foi, voltou para buscar facas, submergiu de novo e salvou o prisioneiro – foi por pouco; após dez minutos dentro d’água, golfinhos se afogam. Era, na verdade, uma fêmea prenhe, que deu à luz logo após o resgate. Na ocasião, Enzo declarou: “Até que aprenda a dialogar com o mundo animal, o homem nunca conhecerá seu verdadeiro papel na Terra”.

O sucesso do salvamento, penso eu, deveu-se à liderança de Enzo na incerteza, com método e tecnologia. Ele se arriscou para investigar o problema sem quase nenhuma pista (só um golfinho que parecia brincar) e usou método (o mergulho livre) e tecnologia (as facas) para resolvê-lo. É mais ou menos o que precisamos fazer hoje, com o agravante de que os problemas escalaram em meio às crises concomitantes – sanitária, ambiental, econômica, política etc. Trocando o golfinho que quase morreu por onças-pintadas queimando no Pantanal, desemprego em massa e coronavírus à espreita, a solução também parece ser liderança na incerteza, com método e tecnologia.

Então: nas seções Report especial e Frontiers desta MIT Sloan Review Brasil, trazemos o que um líder precisa saber de métodos nesses tempos incertos, desde inovações ultrarrápidas até conexões além-fronteiras, a exemplo do Pnud-ONU. O artigo de Stephanie Woerner, Peter Weill e a brasileira Ana Maria B. Barufi traz um método para as empresas se tornarem future-ready, cruzando transformação digital com experiência do cliente. Detalhe: o texto foca a parte Brasil da pesquisa.

Discutimos bastante sobre tecnologias, incluindo algumas que andam fora do radar tropical, mas não deveriam. Vamos da internet das coisas, que alimenta com dados as tais plataformas ancoradas, ao blockchain e suas vulnerabilidades, passando pelo deep learning – mesmo que aqui tudo pareça se resumir ao machine learning, insistimos em nossos leitores saberem mais de DL. Abordamos o futuro dos dois (ou três?) tipos de plataformas digitais – percorrendo tendências-chave, campos de batalha e bem mais. E detalhamos o Pix, o novo ecossistema de pagamentos instantâneos, que tantos desdobramentos deve ter.

Ah, contamos uma história tal qual Enzo contou a dele. No caso, é a história do grupo brasileiro Votorantim, que deixa de ser grupo para virar portfólio, rumo a ser ecossistema, e quer inovar com commodities – achando seu estilo de empresariamento 4.0. E reconhecemos uma fragilidade similar à dosgolfinhos em “Todos sobrecarregados – e agora?” e nos insights de Andrew Winston, em que ele pergunta: você seguirá voando?

Como liderar num mundo que mudou
Adriana Salles

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