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Estratégias pull podem ajudar a resolver o paradoxo da educação brasileira

O Brasil tem um dos piores resultados educacionais da América Latina. Mas algumas técnicas podem melhorar o cenário atual

Christimara Garcia e Efosa Ojomo
30 de julho de 2024
Estratégias pull podem ajudar a resolver o paradoxo da educação brasileira
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Este é o segundo de uma série de artigos sobre o papel da inovação na melhoria do sistema educacional brasileiro.

Na parte 1, descrevemos o paradoxo da educação brasileira – um país que atualmente gasta mais em educação do que a maioria dos vizinhos da América Latina, mas cujos resultados educacionais são piores do que seus pares no continente.

Agora, vamos explicar como implementar uma estratégia pull, em contraste com uma estratégia push, que pode ajudar a resolver alguns dos problemas que vemos no sistema educacional brasileiro.

Uma das grandes questões que o Brasil enfrenta é a falta de coordenação entre os diferentes níveis de governos que gerenciam diferentes partes do setor educacional. Prefeituras administram a educação infantil, os governos estaduais ficam com o Ensino Médio e o governo federal gerencia o Ensino Superior. E o pior: há pouca coordenação entre os muitos órgãos e entidades responsáveis pelo sistema.

Há líderes brasileiros cientes desse problema e que trabalharam duro para criar um Sistema Nacional de Educação (SNE) em 2014. Alguns dos objetivos do SNE são “”promover diretrizes educacionais comuns em todo o território nacional (…), definir e garantir propósitos educacionais comuns (…) e reforçar o papel do governo federal na promoção da articulação, padronização, coordenação e regulação da educação pública e privada nacional.””

Porém, isso está difícil de se concretizar. Até hoje, muitas das ideias fundamentais propostas pelo SNE não foram implementadas e ainda provocam debates acalorados entre entidades do governo e a sociedade civil.

Embora desenvolver um sistema nacional para enfrentar esse problema faça sentido no papel, na realidade é mais difícil implementá-lo. Entender como as estratégias de push e pull diferem fornece uma pista de como o Brasil pode enfrentar melhor a situação.

Estratégias push X pull

Muitos programas governamentais – especialmente os da educação, saúde, infraestrutura e serviços sociais – implementam o que chamamos de estratégia de push. Com frequência, o que as impulsiona é a prioridade de seus criadores. Tipicamente especialistas em determinado campo, eles geram soluções que são recomendadas para comunidades que não têm acesso a algum recurso, como escolas, hospitais etc.

Ou seja, são empurrados. Daí o nome.

É claro que muitas dessas ações são positivas e bem-vindas, mas há casos em que acabam sendo forçadas, colocadas de forma artificial em um contexto que não está pronto para absorvê-las. A “boa intenção” pode se tornar algo decepcionante.

O Sistema Nacional de Educação é um exemplo dessa estratégia em ação. Incrivelmente bem-intencionado, porém difícil de executar, considerando o contexto.

Em contrapartida, as estratégias de pull são originadas de dentro para fora – muitas vezes de forma inovadora – por pessoas que estão respondendo às necessidades de outras que experimentam restrições específicas. À medida que vivenciam o problema, elas projetam e desenvolvem suas soluções até alavancar os recursos necessários para trazê-las para a comunidade.

Como muitos já sabem, vários estados do Brasil implementaram uma estratégia pull que ajudou a melhorar suas escolas. No Ceará, agentes públicos implementaram um programa que fornece incentivos financeiros e não financeiros e apoio técnico para as escolas. Eles também projetaram um “”sistema robusto de avaliação e acompanhamento, fortalecendo, assim, a alfabetização e fornecendo capacitação para professores“”, além de um currículo renovado, dentre outras coisas.

A iniciativa funcionou e hoje o estado tem alguns dos maiores resultados de avaliação de alunos do país. A chave para o sucesso desse programa em particular foi entender as necessidades da comunidade específica, incluindo os alunos, professores e administradores escolares, e, em seguida, projetar um programa que alavancasse os recursos necessários para ajudá-los a ter sucesso.

Outros dois estados, Pernambuco e Goiás, implementaram programas semelhantes, mas focados na atração de recursos diferentes. Por exemplo, o estado de Pernambuco ajustou seu currículo para se alinhar às necessidades e interesses dos alunos. Também introduziu mecanismos de apoio estudantil e familiar, como a tutoria.

Já Goiás instituiu o desenvolvimento profissional de muitos professores e modificou o esquema salarial em suas escolas. Os resultados em ambos os estados sugerem que seus programas valeram a pena.

Por mais convincente que possa parecer a ideia de que criar um sistema nacional vai ajudar o Brasil a gerir melhor escolas, professores e alunos, a realidade de implementá-lo no contexto de uma democracia complexa é desafiadora. Enquanto isso, as escolas, municípios e estados podem executar uma estratégia de pull que lhes permita resolver as necessidades de educação em suas respectivas comunidades.

Não existe uma “bala de prata” para resolver um problema como o paradoxo da educação brasileira. No entanto, ao entendermos como as teorias da inovação podem iluminar o problema, profissionais e agentes públicos estarão mais bem posicionados para aplicar a estratégia adequada para resolver o problema.”

Christimara Garcia e Efosa Ojomo
Efosa Ojomo é um pesquisador sênior no Clayton Christensen Institute, onde lidera a pesquisa do núcleo de Prosperidade Global. Já Christimara Garcia é a fundadora da Catalyze Innovations Initiative, um Action Tank com a missão de promover inovações criadoras de novos mercados no Brasil. Efosa e Christimara desenvolvem uma parceria entre o Clayton Christensen Institute e a Catalyze Innovations Initiative com o intuito de ilustrar o poder que as inovações criadoras de mercado têm sobre organizações e sociedade na promoção de desenvolvimento socioeconômico e da prosperidade.

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