Eis um game desafiador que vale a pena: desenvolver soluções tecnológicas para mitigar o impacto das mudanças climáticas. Afinal, nem os geeks negacionistas conseguem mais negar esse impacto
Um dos maiores desafios da nossa geração de geeks é equacionar o impacto das mudanças climáticas na humanidade. Mesmo um geek negacionista teria dificuldade em refutar o consenso cientifico que envolve este tema. O Painel Intergovernamental sobre Mudanças do Clima, estabelecido pela ONU, é provavelmente o maior esquadrão multidisciplinar já constituído para estudar um problema desde que o primeiro procarionte resolveu aparecer na Groenlândia. A conclusão de mais de 3 mil especialistas desta tribo de cientistas é inequívoca: gases de efeito estufa – tal como o dióxido de carbono -, emitidos por atividades antrópicas, estão aquecendo a Terra e esse fenômeno poderá causar danos irreparáveis para a humanidade.
Tem mais: 80 academias de ciência de países ao redor do globo atribuem a ocorrência do aquecimento global à ação do ser humano. Nenhuma, repetindo, nenhuma academia de ciências até hoje negou o caráter antropogênico das mudanças climáticas e do aquecimento global. Mas, se você ainda não está convencido, aí vai uma dose de kryptonita: os cientistas da organização que construiu todas as espaçonaves tripuladas que pousaram na Lua, nas horas vagas, entre um foguete e outro, produziram um relatório atribuindo a ocorrência do aquecimento global à ação do ser humano. Endgame.
Guerra infinita
Cientistas ao redor do globo tem trabalhado em diversas tecnologias para mitigar o impacto das mudanças climáticas. Algumas iniciativas estão circunscritas à mudança de hábitos, como por exemplo diminuir o consumo de carne e utilizar transporte coletivo. Nesse contexto, as startups de mobilidade ou aplicativos de carona contribuem com a redução de emissões de CO2, assim como as empresas novatas de carne fake poderão diminuir os efeitos das emissões de gases de efeito estufa derivados da pecuária.
No âmbito da infraestrutura global, especialistas são unânimes em eleger a pesquisa em tecnologias para geração de energia como aspecto chave na transição para uma economia de baixo carbono. A lista é grande e vai desde o desenvolvimento de baterias mais eficientes até a utilização da tecnologia blockchain em sistemas inteligentes de geração de energia renovável. Embora o tema seja controverso, eu incluiria também qualquer inovação relacionada à geração de energia nuclear, mais especificamente no que se refere ao tratamento do lixo atômico.
Não menos relevante é o tema da preservação das florestas uma vez que os ecossistemas terrestres armazenam volume considerável de CO2 em biomassa de árvores e plantas. Ferramentas tecnológicas de inteligência artificial já estão sendo utilizadas para monitorar o desmatamento e a preservação da biodiversidade de matas nativas.
Entretanto, a inovação mais radical ocorre nas chamadas iniciativas de engenharia do clima ou geoengenharia, termo cunhado para denominar intervenções humanas que atuariam na arquitetura do planeta. Existem atualmente duas abordagens principais para a geoengenharia: remoção de dióxido de carbono (CDR, na sigla em inglês) e gestão da radiação solar (SRM, na sigla em inglês). Enquanto a abordagem CDR atinge diretamente a fonte causadora das mudanças climáticas, mirando na remoção do excesso de CO2 da atmosfera, as tecnologias de SRM objetivam neutralizar o impacto dos gases de efeito estufa na temperatura do planeta, refletindo a radiação solar que atinge a Terra.
Minha percepção é que, em alguns aspectos, a geoengenharia é considerada um plano B em caso de falha de todas as outras alternativas de redução da concentração de gases de efeito estufa na atmosfera.
Por fim, um desafio para aqueles que confiam na NASA mas julgam que qualquer inovação tecnológica tem que caber num celular: a indústria da aviação comercial emite mais de 500 milhões de toneladas de CO2 por ano. Imagine o valor de mercado do dispositivo de teletransporte do Star Trek.
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