Empresas atualmente gastam mais de R$ 20 bilhões por ano em demandas jurídicas. A tendência é que esse valor seja cada vez mais alocado em demandas estratégicas e consultivas, em detrimento de defesas em passivos judiciais. Estão os advogados se preparando para atuar como conselheiros, dotados de uma visão holística dos clientes?
Ao analisar o horizonte da atuação jurídica de maneira concisa, é imperativo destacar a necessidade de um pensamento que transcenda as fronteiras convencionais, abraçando uma perspectiva criativa e, por vezes, ousada.
Em uma conversa com Paulo Silvestre de Oliveira Junior, head de inovação e desenvolvimento de um importante escritório de advocacia no país, exploramos como os modelos de negócios e os paradigmas de precificação dos serviços jurídicos estão passando por uma grande – e inevitável – transformação.
Mudanças no comportamento do consumidor vêm impulsionando profundas reflexões sobre como geramos valor e entregamos serviços. No atual e desafiador cenário – em que navegamos com poucos ou nenhum precedente – a adaptabilidade torna-se crucial para a sustentabilidade das organizações.
E foi nesse contexto que Silvestre criou uma ferramenta que usa inteligência artificial (IA) generativa como complemento ao trabalho dos profissionais do Direito. Lançada em dezembro de 2023 em fase beta, a solução enfoca quatro demandas principais da organização: tradução, revisão, resumo e pesquisa, com promessas de expansão para outras funcionalidades conforme as necessidades da banca de advogados.
A expectativa é que, após o período de testes e validações, a ferramenta proporcione também experiências no contato com clientes. Seja no fornecimento de serviços, esclarecimento de dúvidas ou coleta de feedback.
Uma análise dos dados dos últimos anos e das perspectivas globais do setor jurídico revela uma transformação significativa, porém gradual, delineando o que aguarda os advogados e profissionais do setor para que permaneçam relevantes e proativos nesse futuro em construção.
Em um passado recente, confiávamos em planos de negócios e estratégias delineadas para cinco anos, acreditando estar plenamente preparados para enfrentar os desafios que surgissem, dada a evolução gradual dos serviços jurídicos.
O termo “freehand”, oriundo do universo artístico, significa, literalmente, “mãos livres”, sugerindo uma abordagem direta e sem modelos prévios, e sim a materialização da abstração do artista. Hoje, em um cenário em que frequentemente nos vemos compelidos a atuar no estilo “freehand”, dada a ausência de garantias diante de desafios inéditos e panoramas mutáveis, precisamos cultivar um nível exponencial de flexibilidade e adaptabilidade.
Segundo as previsões de Silvestre, em um prazo máximo de três anos, testemunharemos uma mudança drástica no panorama do mercado jurídico, que afetará a estruturação dos escritórios e as estratégias de remuneração dos profissionais.
Empresas atualmente gastam mais de R$ 20 bilhões anualmente em demandas jurídicas, e a tendência aponta para uma alocação desse valor de forma mais estratégica e consultiva, em detrimento de defesas em passivos judiciais.
E aqui vem a pergunta: nós, advogados, estamos nos preparando para atuar como conselheiros, dotados de uma visão holística dos clientes?
O questionamento sobre como gerar valor sem comprometer os preços é, sem dúvida, uma fonte de inquietação para a maioria dos profissionais com quem interagi ao longo dos anos como consultora. No entanto, a realidade permanece inalterada. Algumas considerações tornam-se cruciais:
Questionando tudo o que fazemos e, sobretudo, como o fazemos. Devemos estar abertos a experimentar novas possibilidades, sem nos apegarmos ao que costumava funcionar. O cenário mudou, e nós precisamos nos reinventar.
É natural postergarmos o que nos causa desconforto. No entanto, não há alternativa; o momento é agora. O futuro não é mais uma abstração distante; está diante de nós, exigindo nossa atenção e ação imediata.
De acordo com um recente relatório do McKinsey Institute, 58% dos CEOs afirmam que a geração de novos negócios é a maior prioridade no cenário econômico de 2024.
A nova era da atuação jurídica está sendo moldada neste exato momento. É crucial agirmos para nos adaptarmos ao mercado e nos inserirmos neste novo capítulo. Não podemos mais adiar as mudanças. O momento é este, ou nunca mais!