
Mais do que adaptar modelos prontos, o futuro dos recursos humanos no Brasil exige coragem para inovar com alma, propósito e impacto real
Na minha coluna de março, descrevi como a área de recursos humanos no Brasil foi moldada pela internacionalização de empresas. Por aqui, estruturamos o setor inspirados nas culturas das multinacionais que desembarcaram no país.
Embora seja consenso que o Brasil precisa repensar como lida com seu RH à luz dos gigantescos desafios que tem pela frente, não tenho a pretensão de propor um modelo “jabuticaba” que satisfaça a todos. Mas se eu pudesse elencar o que considero ser um conteúdo mínimo para esse modelo, minha ordem de prioridade seria o que vai a seguir.
Neste artigo de 2021, a renomada professora e pesquisadora cubana da área de comportamento organizacional, liderança e desenvolvimento de carreira escreveu que as empresas e lideranças que desejam prosperar em um mundo cada vez mais complexo precisam urgentemente adquirir um conjunto de competências e práticas essenciais (veja quadro).
Atrair e manter a bordo pessoas com perfil convergente para com o que a empresa pretende ser. Isto é: recrutar pessoas não apenas compatíveis com a cultura da empresa hoje, mas que se pareçam mais ainda com o que a empresa pretende ser no futuro.
Toda vez que uma empresa contrata fora para um C-job, alguma coisa falhou lá dentro. Já mencionei Nielson e Pasternack aqui. Em “Resultados”, ambos demostraram que empresas que são bem-sucedidas há décadas raramente buscam talentos externos para posições críticas (este rubro-negro que vos escreve batizou esta prática de Modelo Zico).
Na contramão disso, a rotação de presidentes acelerou recentemente, dentro e fora do Brasil (estou escrevendo outra coluna dedicada a isso). E reverter essa estatística passa por recrutar pessoas sabendo que algumas delas irão liderar a empresa daqui a 10, 15 anos. Passa por reconhecer e remunerar trabalho inclusivo e inovador, e também por criar programas caprichados de mentoria, treinamento e desenvolvimento.
Mariana Mazzucato nos alertou que os governos, pela própria natureza de suas atuações, não são capazes de acompanhar as mudanças aceleradas do ambiente em que vivemos. É que legislação e regulação, por terem que ser discutidas e aprovadas antes de existir, sempre chegarão depois das mudanças. E como o governo faz o que a lei permite, enquanto a iniciativa privada faz o que a lei não proíbe, é do interesse das empresas preencher algumas dessas lacunas. Os lugares mais óbvios (ainda segundo a professora Mazzucato), onde as empresas podem e devem preencher os vazios deixados pelos governos são, nesta ordem: meio ambiente, educação e saúde. Mas, para tanto, seus colaboradores devem se sentir seguros para abordar esses temas, quando os próprios acionistas já não o fizeram.
A legislação e a regulação, por terem que ser discutidas e aprovadas antes de existir, sempre chegarão depois das mudanças. E como o governo faz o que a lei permite, enquanto a iniciativa privada faz o que a lei não proíbe, é do interesse das empresas preencher algumas dessas lacunas.
A Patagonia e a Fjallraven estão eliminando de suas mochilas produtos químicos que (ainda!) não são proibidos. Natura faz o mesmo com cosméticos. E – diga-se de passagem – as três empresas já converteram essa proatividade no que se refere às questões de sustentabilidade em poderosas ferramentas de marketing.
Logo abaixo, mencionarei um dos programas de treinamento que a Embraer criou voltados para seus públicos-alvo de diversidade e inclusão (D&I).
Conforme já citei aqui (artigo) este novo RH precisa criar e implantar soluções para treinamento continuado daqueles colaboradores que, embora críticos para o dia-a-dia, não são de alto potencial, e, portanto, tendem a ser negligenciados nos programas de capacitação das empresas.
O mesmo vale para profissionais que lidam direto com clientes e que, na maioria dos casos, receberam treinamento apenas no seu primeiro dia de trabalho.
Por fim, temos a polêmica do home office, um falso dilema, conforme Lynda Gratton nos explica neste vídeo da MITSloan. Lynda sugere que a melhor política de RH sobre esse tema talvez deva ser bem minimalista. Afinal, basta as pessoas encarregadas de desempenhar uma determinada tarefa se perguntarem qual é a natureza dela que as soluções presencial/remota e isolada/colaborativa se tornarão óbvias.