
Liderar é sobre a primeira e não sobre a segunda, como muitos líderes acreditam. Essa confusão precisa ser desfeita
Com os olhos do mundo inteiro voltados para inteligência artificial, é saudável nos questionarmos quais olhos estão voltados para nós mesmos.
Estamos amadurecendo a era da construção da saúde mental, e adentrando a era da saúde social, e, em ambas, o epicentro da discussão é como nos sentimos sobre o mundo que vivemos, seja ele corporativo ou não.
Quando o tema é liderança, os elementos e metodologias que aprendemos estão mais relacionados com nossa interação social, do que nossa interação intrapessoal. Longas discussões sobre como devemos comunicar, gerir, desenvolver e qualificar. Mas em qual momento paramos para pensar em ser alguém melhor primeiro, antes de melhorarmos qualquer pessoa ou processo?
Em uma das melhores distopias que li, A Revolução dos Bichos, deparamos com uma crítica profunda ao comportamento social que deixou de ser o que prometia, mas que, olhando de perto, tinha uma estrutura de liderança e gestão que inicialmente parecia promissora. Parecia.
O problema discorrido na distopia é o mesmo da vida real; há estrutura, comunicação, metodologia, objetivos, enfim, tudo está no lugar, mas falta o item mais importante de todo processo de liderança: a autoliderança.
É aqui que entra a neuroliderança.
A neurociência é o estudo do sistema nervoso e aplicada, à liderança, podemos dizer resumidamente que é a investigação dos princípios de funcionamento do cérebro que compreendem, influenciam e melhoram o ecossistema das variáveis que constroem a liderança contemporânea. Eu me refiro à liderança como processo de tomada de decisão, comunicação, saúde mental e social, regulação emocional, motivação, mudanças, gestão do medo, autoconhecimento. E a principal peça dessa junção científica entre neurociência e liderança, ou neuroliderança como vem sendo chamada, é a PRODUTIVIDADE.
Explico: a neuroliderança tem como principal característica levar o individuo a se conhecer bem, mas tão bem, que chega ao ponto de poder se antecipar a circunstancias corporativas, criando mecanismos que vão desde de enfrentamento a situações de estresse, um dos principais vilões da produtividade, até posicionamento pessoal.
Aqui desenhamos um ponto importante em que a neuroliderança se difere da liderança tradicional:
“Liderar de maneira efetiva é menos sobre gerir objetivos de performance e mais sobre manter um clima emocionalmente saudável” ,diz o neurocientista Etienne van der Walt, em artigo publicado na Neurozone, da qual é fundador e CEO.
Ou seja, liderar é sobre produtividade e não sobre performance.
A performance trata do desempenho, do que foi conquistado, sua principal característica é como os outros nos percebem. Por tanto, seria justo pensar que somos, para os outros, nossa performance na frente deles, seja comportamental ou de resultados gerados.
A produtividade, por sua vez, independe do julgamento externo, pois se trata de uma SENSAÇÃO.
Em suma, produzir é o que sentimos sobre o que fazemos, e a performance é o resultado que essa produtividade nos gera.
Então, podemos perceber que, se não temos uma boa autogestão, e se não nos sentimos bem com aquilo que estamos fazendo, certamente isso impactará negativamente nossa performance. Logo, para melhorar nossos resultados, precisamos primeiro cuidar de como nos sentimos enquanto geramos eles.
Poderíamos dar diversos focos dentro desse universo de sensações, mas, nesta coluna de estreia em MIT SMR Brasil, vou ampliar nossa perspectiva para que possamos escolher inicialmente as que fizer mais sentido para nosso momento atual e peculiar.
Costumo começar meu dia com o que chamo de “intencionalidade”, que é o ato de por intenção em tudo que faço. Ao acordar, literalmente me pergunto como estou me sentindo, em seguida, me questiono como quero que meu dia acabe, por fim, ao final do dia, penso em como foi aquele dia e o quanto ele se pareceu com aquilo que havia me respondido pela manhã.
Esse pequeno exercício nos faz exercitar o que chamamos de “atenção plena”, ou “mindfulness”, que nos orienta a estarmos sempre presentes no momento. Como resultado, além de tomarmos maiores iniciativas para decidirmos fazer o que nos aproxima mais do dia que queremos ter, reduzimos o estresse e a ansiedade, que desencadeia em uma série de benefícios ao longo do dia e da vida, impactando positivamente nossa saúde mental e física.
Um estudo conduzido pelo professor Thorsten Barnhofer, da University of Surrey, Reino Unido, sugere que praticar atenção plena muda estruturas do cérebro. Primeiro, reduzindo o tamanho da amigdala cerebral logo nas primeiras semanas. A amigdala cerebral é responsável pelo processamento de emoções, memórias e repostas físicas a ela, tendo relações diretas ao medo e a ansiedade.
Outra descoberta do estudo foi a alteração e o crescimento em tamanho do córtex cingulado posterior, responsável pelo controle da divagação da mente e ruminação: pensamentos que não conseguimos desligar do cérebro. Esse fato é um indicativo de maior controle.
E o que isso significa?
Que temos respostas fisiológicas melhores ao medo, ansiedade e aos pensamentos involuntários.
Logo, se o estresse é inibidor da plasticidade neural, ou neuroplasticidade, que é responsável pela aprendizagem, e capacidade de se adaptar e reorganizar ao longo da vida, podemos dizer que a atenção plena constrói o caminho para uma vida mais produtiva, dentro e fora do trabalho.
Bem, começamos fazendo o básico bem feito!
Aqui estão alguns passos para que possamos melhorar nossa produtividade:
Se não come bem, você não pensa bem
Para “performar” melhor, como dizemos no anglicismo do jargão de negócios, precisamos nos sentir mais produtivos – do contrário, toda performance se torna insustentável e irá nos desencadear uma série de complicações, como a exaustão, burnout, e até a depressão.
A relação entre produtividade e performance nos ensina que, para sermos profissionais melhores, precisamos primeiro ser seres humanos melhores.