Enzo Maiorca, ícone mundial do mergulho livre, que nos anos 1980 desceu 101 metros na apneia, passou pela minha timeline esses dias. Lembraram-me desse siciliano, morto em 2016, por conta de uma história de golfinho. O animal fez com que o mergulhador o acompanhasse até 12 metros de profundidade para salvar outro golfinho, preso numa rede. Enzo foi, voltou para buscar facas, submergiu de novo e salvou o prisioneiro – foi por pouco; após dez minutos dentro d’água, golfinhos se afogam. Era, na verdade, uma fêmea prenhe, que deu à luz logo após o resgate. Na ocasião, Enzo declarou: “Até que aprenda a dialogar com o mundo animal, o homem nunca conhecerá seu verdadeiro papel na Terra”.
O sucesso do salvamento, penso eu, deveu-se à liderança de Enzo na incerteza, com método e tecnologia. Ele se arriscou para investigar o problema sem quase nenhuma pista (só um golfinho que parecia brincar) e usou método (o mergulho livre) e tecnologia (as facas) para resolvê-lo. É mais ou menos o que precisamos fazer hoje, com o agravante de que os problemas escalaram em meio às crises concomitantes – sanitária, ambiental, econômica, política etc. Trocando o golfinho que quase morreu por onças-pintadas queimando no Pantanal, desemprego em massa e coronavírus à espreita, a solução também parece ser liderança na incerteza, com método e tecnologia.