O desejo de atingir metas consideradas inalcançáveis lança as empresas para suas conquistas mais importantes. Sem isso, elas, invariavelmente, assistem seus concorrentes tomarem seu lugar no mercado
“Todas as empresas querem crescer. A fórmula para isso acontecer normalmente é a mesma: pensar o futuro com base na curva já estabelecida no presente, acrescentando algum desafio que garanta alta probabilidade para atingir ou ultrapassar a meta de crescimento. O problema é que, seguindo esse modelo, as organizações avançam no ritmo da locomotiva. Não é o que interessa às empresas de tecnologia. Elas têm pressa, são movidas por uma nova geração de gestores que não têm medo do risco e trabalham incansavelmente para superar desafios.
No iFood, o lugar ao qual a locomotiva conseguiria chegar sozinha simplesmente não nos interessa. A projeção da curva de crescimento anual é apenas um indicador para definir a meta futura. Se ela aponta para dez, elevamos a régua para 30. Esse movimento desperta um estado de constante inquietação em todo o time: como chegar lá? Alguém tem a resposta? Ninguém, mas todos a procuram – o tempo todo – e é sobre essa base que alcançamos resultados exponenciais.
Há uma década, o iFood cresce consistentemente a taxas superiores a 80% ao ano. Esse crescimento acelerado, no entanto, impõe seu preço: destravar caminhos, identificar tendências, estar à frente, até mesmo no nível de imaginação do consumidor, para oferecer o que ele jamais cogitou desejar. Para tanto, três atitudes são fundamentais.
A primeira atitude é testar, sempre, todos os dias. Só assim as coisas novas tomam forma. Não se pode esperar um ano para avaliar um projeto. É preciso descobrir rapidamente se dará certo ou não, e só se faz isso com tentativa e erro. Quanto mais se testa, mais se erra – e se aprende.
A diferença entre empresas tradicionais e as focadas em crescimento exponencial é justamente a forma como encaram o erro. Para as primeiras, ele é sinônimo de fracasso, geralmente personificado em quem se envolveu com a questão; para as empresas de tecnologia, é o caminho certo para encontrar algo que permitirá dar o salto e chegar aonde ninguém chegou, antes de qualquer organização.
Nesse processo, quando se descobre a ponte para resolver um problema, as máquinas e os algoritmos assumem o trabalho que passa a ser escalado e automatizado, porque para as equipes humanas cabe continuar a busca pela inovação. A locomotiva não pode reduzir o ritmo nem quando está a ponto de voar. É importante perguntar-se diariamente: quais são as três coisas novas que estamos testando? E a resposta precisa ser diferente a cada dia.
Claro que esse comportamento só é possível quando associado a uma gestão ambidestra. Enquanto parte do time usa seu talento para manter os vagões nos trilhos, outros constroem novas estradas porque o risco da acomodação é perder o que já foi conquistado.
O Alibaba, grupo que lançou as bases do comércio eletrônico que conhecemos hoje, e se tornou a maior plataforma de vendas online do planeta, é um bom exemplo. No contexto atualmente, nem o Alibaba está a salvo. Apesar de ser extremamente inovador, a empresa pode ver em seu radar um concorrente também chinês, o Pinduoduo, que vem ganhando terreno e desponta como uma das empresas que mais cresceram em escala global em 2020.
Outra medida importante para reforçar a busca de boas ideias é reduzir a hierarquia. Do CEO ao estagiário, qualquer colaborador precisa ser incentivado a falar. A arquitetura do ambiente, quando pensada com o propósito de fazer fluir as informações, pode contribuir para que as pessoas se sintam parte do todo, tenham a oportunidade de debater propostas e dar opiniões sem intermediários.
Gestores apartados em salas fechadas são um convite para que o time se sinta desestimulado a colaborar. Reconhecer os esforços individuais e dividir as preocupações ao longo do caminho também ajudam a criar o envolvimento necessário para que as respostas certas apareçam. E não é só do time interno que surge a inovação.
Identificar empreendedores e startups que estão desenvolvendo tecnologias incríveis, trazendo-as para perto, amplia as possibilidades de evolução. No iFood, investimos em uma empresa voltada ao desenvolvimento de veículos autônomos e desenvolvemos, em conjunto, a ADA, robô de delivery que hoje coleta pedidos dos clientes no Shopping Iguatemi de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo. Desse modo, aprendemos a lição de que nem tudo precisa ser feito dentro de casa.
A terceira atitude essencial é investir na diversidade, condição para superar a miopia provocada por colaboradores análogos. Equipes diversas pensam em diferentes direções, acolhem experiências de vida distintas e enxergam possibilidades onde times homogêneos tendem a vislumbrar obstáculos. Pessoas que vivem diferentes realidades podem ditar os rumos da inovação voltada para múltiplos mercados.
No iFood, contratamos uma enfermeira para integrar o time de inovação. A decisão foi tomada durante um processo seletivo feito às cegas e ela foi fundamental, por exemplo, em um projeto voltado à venda de marmitas pelo WhatsApp. Com o olhar de quem passou anos preparando e embalando a própria comida, a profissional ofereceu sugestões que se mostraram vitais para colocar a ideia em pé.
Aqui surge uma questão que vale parêntese. Formar o time de inovação não é encontrar colaboradores com habilidades fora da curva, como muitos imaginam. Significa buscar quem está preparado para entender as críticas como feedbacks para avançar. A busca constante de soluções gera ideias geniais, mas também frustrações. Só quem consegue lidar com isso pode assumir a tarefa de empurrar o grupo para frente.
A criação do Pinterest, por exemplo, foi possível porque seus fundadores, Ben Silbermann e Paul Sciarra, analisaram os dados de um fracasso, o aplicativo Tote, e perceberam que os usuários estavam enviando imagens para si próprios com o intuito de colecionar ideias. Chegaram a criar 50 layouts diferentes para o novo produto antes de conseguir um investidor. Hoje, em todo o mundo, mais de 400 milhões de pessoas acessam a plataforma todos os meses para encontrar inspiração.
O caminho da inovação exige garra e resistência. O desafio é manter-se fora da zona de conforto e buscar sempre o inatingível, mesmo quando se assume uma posição sólida no mercado. Como mover os indicadores na direção desejada a partir das informações disponíveis? O impossível tira o sono, não deixa ninguém relaxar na cadeira, mas pode fazer uma locomotiva voar.
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