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Inovação

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Por que há falha na maioria das iniciativas de inovação?

Para driblar dificuldades, conheça três fatores-chave que levam empresas à inovação e entenda a relevância da criação de valores para as organizações

Colunista Juliana Proserpio

Juliana Proserpio

15 de Março

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Artigo Por que há falha na maioria das iniciativas de inovação?

Inovação é provavelmente algo que está na sua meta de carreira, além de ser prioridade na cabeça de todo profissional. A tão falada inovação é uma forma de criar valor, e sua promessa é, nada mais, nada menos, do que crescimento exponencial, aproximação e lealdade com clientes.

Além desses pontos, inovação inclui redução de custos e diferenciação do mercado. Dessa maneira, não há dúvidas sobre o porquê de todos estarem em busca da inovação constante. No entanto, a maioria das iniciativas de inovação morrem no meio do caminho, ou falham.

Nos últimos anos, vimos diversas empresas ganhando valor acelerado, e outras cavando o seu próprio enterro. No livro “A regra é não ter regras: a Netflix e a cultura da reinvenção”, Reed Hastings e Erin Meyer escrevem sobre a sua saga com a Netflix no início da empresa, quando eles tentaram vender, sem sucesso, a Netflix para a Blockbuster. Menos de 10 anos depois dessa reunião, a Blockbuster pediu falência com mais de 900 milhões de dólares em dívida.

Há uma miscelânea de processos, tecnologias, estratégias e diretrizes para atingir o status de inovação, e muito conhecimento sendo gerado. No entanto, por que as iniciativas de inovação falham em sua maioria?

Tríade de falhas em inovação

Não é falta de vontade, as empresas e os times estão realmente se esforçando para inovar. Entretanto, não conseguem chegar lá. Depois de 10 anos trabalhando com organizações de diversos segmentos e mercados, conseguimos ver um padrão. A inovação acontece a partir de uma tríade, e não há como inovar efetivamente sem investir nesses três pilares.

Por sorte, nossa experiência também foi observada pelo Gary Pisano, professor de negócios de Harvard. As iniciativas de inovação falham em sua maioria por três razões:

1. As empresas não criam estratégias de inovação. Vejo muitas empresas fazendo experimentos de inovação disparatados, o que pode ser bom. No entanto, esses experimentos podem não ter nenhuma relação com a visão de futuro do negócio ou com o seu core business. Você já pensou como a inovação pode gerar valor para seu negócio, como você vai fazer a inovação acontecer no seu contexto?

2. As empresas não criam um sistema de inovação, ou seja um modelo de execução da inovação, construindo as capacidades para fazer a inovação acontecer. O maior erro por aqui é pensar que copiar o modelo de inovação da Apple, do Google, da Natura ou da Procter & Gamble vai funcionar no seu sistema. Um sistema de inovação deve ser criado especialmente e unicamente para servir o seu modelo de negócio e necessidades.

3. As empresas esquecem de criar e incentivar uma cultura de inovação. Você pode ter o melhor sistema do mundo, mas se você não tiver os comportamentos de inovação, a inovação não vai deslanchar. Nossos desafios de hoje em dia são problemas de possibilidades. Qual é o futuro da indústria de viagens? Qual é o futuro das escolas? Qual é o futuro das lojas físicas? Qual é o futuro da saúde? Qual é o futuro das grandes cidades?

Inovação é criar valor

A criação de valor no século 21 lida com desafios chamados de 'problemas complexos'. Em síntese, vários fatores atuam no mesmo sistema e a única maneira de chegar a uma solução é pensar no futuro (em vez de apenas reorganizar os fatores, como um algoritmo).

Segundo o professor Roger Martin, “a criação de valor no século 20 foi amplamente definida pela conversão de heurísticas em algoritmos. Tratava-se de obter uma compreensão fundamental de um “mistério” - uma heurística – e conduzi-la a uma fórmula, um algoritmo - para que pudesse ser conduzido a uma escala e escopo enormes.

Todas as organizações de maior sucesso do século 20 seguiram essa receita não tão secreta. Pense em Mac Donald’s, Ford, Procter and Gamble, Coca-Cola, Dell e Wallmart.

Com o aprimoramento e a evolução da tecnologia, os problemas de eficiência estão sendo resolvidos. Resta para nós a difícil tarefa de lidar com os problemas complexos e os desafios humanos.

Para o designer e tecnólogo John Maeda, “a marcha da tecnologia está definitivamente ligada ao surgimento do design”. Como ele também explica, há um importante “aspecto radical do design - a capacidade de repensar as coisas”.

Convergir e experimentar

Como forma de geração de valor, a inovação pode ser uma tarefa difícil de ser conquistada nos dias de hoje. Nos últimos anos, profissionais e organizações exploraram os caminhos do design e da inovação. Todas as grandes corporações foram, pelo menos brevemente, expostas ao design thinking e inovação. Entretanto, por que a inovação ainda não está acontecendo?

Na minha opinião, estamos deixando o tempo de exploração e divergência de inovação para vivermos num tempo de convergência e experimentação. O contexto empresarial e a sociedade já estão cientes do poder do design e da inovação. O desafio agora é ver quem consegue passar pelo segundo diamante do duplo diamante com sucesso, gerando valor percebido ou mesmo disrupção no mercado.

A percepção de inovação é mais precisa. Os consumidores não estão comprando um posicionamento de inovação sem que haja uma transformação real de suas vidas. Os parceiros de negócios agora sabem avaliar se os parceiros têm potencial de inovação e profundas competências de design. Estamos entrando na era da maturidade e, com isso, a exploração precisa ser seguida de resultados.

Lembro que quando começamos a Echos, design thinking e inovação eram palavras desconhecidas. Era difícil explicar porque empresas precisavam inovar, e como o design poderia impulsionar a inovação. Era como explorar um novo mundo. Sem linguagem comum, sem mapas, sem comida e os nativos lutando contra os recém-chegados.

Tivemos que ajudar a encontrar uma linguagem comum, criar os caminhos e cocriar com os nativos para progredir. Avance para 2017 e o cenário mudou. A linguagem agora é compartilhada (embora às vezes não tão bem falada), os mapas são mais claros e o verdadeiro desafio é encontrar ouro. O desafio não é apenas explorar possibilidades, mas implantá-las.

Como um conhecimento em evolução, acredito que a inovação acontece quando combinamos três fatores-chave:

1. Mentalidade de inovação (design thinking e digitalização);

2. A criação de conceitos ou soluções;

3. As habilidades e competências para implementação (melhor repertório de tecnologia e disponibilidade + habilidades de execução de design).

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Autoria

Colunista Juliana Proserpio

Juliana Proserpio

Juliana Proserpio é empreendedora e educadora. Ela é cofundadora e chief design officer da Echos, um laboratório de inovação e suas unidades de negócios, da Echos - Escola Design Thinking - uma escola que coloca a inovação na prática, e da Echos - Innovation Projects, uma consultoria de inovação. De 2011 para cá, Juliana tem trabalhado para desenvolver um ecossistema de inovação e a criação de futuros desejáveis no Brasil, em Portugal e na Austrália, onde reside.

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